Esta coluna é uma despedida e um agradecimento a todos os leitores que me acompanharam
Esta coluna é uma despedida e um agradecimento a todos os leitores que me acompanharam neste espaço nos últimos dez anos. Vou seguir os meus impulsos e seguir em frente
Dez anos atrás comecei a escrever a coluna, a convite de Paulo Lima, timoneiro e editor desta revista Trip que você tem nas suas mãos. No primeiro texto, contei a aventura de ter fotografado uma modelo (era a Tiazinha, lembra?) em um salão sadomasoquista em Nova York. Já no segundo, escrevi sobre uma situação que tinha presenciado em um restaurante de São Paulo: um rapaz entrou no recinto pedindo esmola. Narrei a reação dos presentes enquanto a gerência da casa colocava a pessoa de volta na rua. Gentilmente, isso sim. A cena, para minha surpresa, tinha sido sublimada por todos os presentes. Até o ponto em que a pessoa que estava almoçando comigo não tinha percebido nada e tive que contar para ela o que acabara de acontecer a poucos metros da nossa mesa.
Dez anos depois, mudou o país, mudei eu? Não sei. Mas uma coisa é certa: o Brasil é o país da sublimação. Existe alguma coisa no ar que faz com que as pessoas insistam em não enxergar o que acontece ao redor. O olhar escorrega por cima das coisas que, normalmente, deveriam incomodar. A criança no farol pedindo esmola, a sujeira no chão, a falta de respeito com o próximo. Esses detalhes dos quais todos reclamam quando chegam em casa e ligam a televisão para ver as notícias de outras cidades, mas que ninguém faz força para interferir no dia a dia da sua própria rua.
Decidi então mudar uma coisa, pelo menos, nesta página. Vou parar de escrever a coluna. Me despeço aqui de vocês. E, é curioso, percebo neste momento que não tenho nem ideia de como são, se é que existem, meus leitores. Não sei, aliás, quantos, em média leem esta coluna, estes textos que durante esse tempo todo escrevi como forma de externar o que meus olhos e minha consciência percebem.
Os textos sempre foram escritos a partir de algum sentimento, algum detalhe com um desfecho que, sempre fiz questão, fosse surpreendente para o leitor e para mim. Acontece que a coluna de hoje me surpreendeu além da conta; saiu com uma despedida. Inesperada e diferente do que imaginava que iria escrever. Mas, como todos os textos, verdadeira. Vou seguir meus impulsos, então.
NOVOS CAMINHOS
Aproveito para agradecer aqui ao Paulo Lima, que me lançou como escritor e, gentilmente, me abriu uma porta para um caminho que sempre sonhei e nunca imaginei que poderia alcançar. Depois que comecei a escrever a coluna parece que ficou mais fácil pôr em ordem meus pensamentos. Publiquei dois romances, um livro de diários, escrevi alguns artigos para outros veículos e estou escrevendo outro livro. Tudo isso sem deixar de me dedicar à fotografia. Ou seja: multipliquei o espaço na minha mente. O Paulo nunca vai entender o bem que ele fez para mim. Não posso deixar de lembrar os jornalistas com quem cruzei neste percurso: Daniela Falcão, Fred Melo Paiva, Ronaldo Bressane, Giuliano Cedroni e Lino Bocchini, diretores e redatores da Trip que sempre foram pacientes, compreensivos e gentis comigo e que nunca me pediram para alterar um ponto, ou uma vírgula, do que disse e publiquei.
Digo, então, neste ponto, parafraseando Antonio Candido, que agradeço também a todos os que durante estes anos leram e se ocuparam com estas colunas (a favor ou contra), menos, é claro, dois ou três que manifestaram má vontade injuriosa.
A todos, do lado de cá e do lado de lá, muito obrigado.
E vamos em frente.
*J. R. Duran, 59, é fotógrafo e escritor. Seu Twitter é @jotaerreduran