Nascido em São Paulo, criado no Rio e crescido no mar, Paulo Barcellos conta um pouco sobre a vida de fotógrafo e bodyboarder
O currículo de Paulo Barcellos é extenso. O fotógrafo e cinegrafista aquático acumula dois programas de TV, já fez capas para várias revistas de surf do Brasil e do exterior, além de séries de imagens para marcas acompanhando nomes como o Kelly Slater e Adriano de Souza.
Não bastasse tudo isso, Paulo tem uma segunda página maior ainda no CV. Bodyboarder de criação, ele já foi campeão mundial no circuito e carrega quase duas décadas surfadas no Pacífico, em picos do Havaí, Taití e Chile. De protagonista para criador das imagens, foi um pulo.
“Dá pra ficar um tempo atrás da câmera sem reclamar”, diz ele.Na conversa abaixo, Paulo conta um pouco sobre dividir o tempo entre atleta e fotógrafo, a rotina com a câmera e o começo da carreira pós-bodyboarder.
Como você começou a tirar fotos profissionalmente? Paulo Barcellos: Já tinha a curiosidade de comprar uma câmera profissional e ficar tirando fotos. Em 2010, meu amigo Gustavo Camarão me ajudou a escolher uma câmera, uma lente e uma caixa estanque. Logo no meu primeiro dia como fotógrafo quebrou um daqueles Pipeline clássicos de dez pés, entrei na água e fiquei oito horas fotografando. Consegui pagar o investimento e já estava com lucro de mil dólares.
Quando isso aconteceu, o bodyboard virou passatempo? O bodyboard não virou passatempo porque eu amo surfar e tenho um programa no Canal Off em que filmo dentro água e surfo. Quando estou trabalhando eu sei separar bem as coisas. Eu estive mais de 14 anos competindo no circuito mundial e viajando para surfar, ou seja, dá pra ficar um tempo atrás da câmera sem reclamar.
Qual equipamento você costuma usar? Eu me especializei em imagens e áudio aquáticos, tenho quatro câmeras e três caixas estanques. Para filmar eu uso a Sony FS 700 que é uma câmera que grava em slow motion. Para fotografar eu uso a Canon 1D Mark III e a Canon 7D. Tudo que eu produzo é dentro água, então uso toda a minha experiência de bodyboarder para fazer ângulos diferentes, quase sempre em baixo do atleta.
Quais fotógrafos ou filmmakers te inspiram? No Brasil temos excelentes profissionais como o Sebastian Rojas, Pedro Tojal, Henrique Pinguim, entre muitos outros. Sempre tento aprender com eles.
Como você definiria seu estilo? Imagens aquáticas! Sempre fui acostumado a ficar em baixo dos picos em dias grandes, então me sinto bem a vontade quando as condições estão extremas. Fazer ângulos diferentes e dividir minha visão com o público me deixa muito contente.
Quais os melhores picos para fazer belas imagens de surf e bodyboard? Eu sou fã do Havaí. As ondas são sempre pesadas e estão sempre os melhores atletas dentro água. Quando termina a temporada você consegue fazer uma grande quantidade de material. Você já teve problemas enquanto tirava fotos? Caldos, tubarões, alguma briga, enfim, algum episódio que você se lembre. Brinco com todo mundo que a minha carreira foi meteórica. No vigésimo dia de profissão eu já estava com uma luxação nível 5 na clavícula decorrente de um acidente bem grave quando estava fotografando no Havaí. Tive que operar e fiquei nove meses parado, mas graças a Deus voltei sem sequelas e, o que é mais importante, sem medo.
Existe diferença entre fazer imagens de surf e de bodyboard? Não vejo diferença nenhuma. Adoro gerar imagens de ambos, tanto que tenho dois programas no Canal Off: um de bodyboard e o outro, que acabei de filmar no Havaí, seguindo os fotógrafos aquáticos que, na maioria, trabalham com surfistas. O mais legal desse projeto foi gravar o áudio na água. Conseguimos mostrar todo o ambiente nas sessões de surf.
Quando o mar está bom, você prefere cair com a prancha ou com as câmeras? Sou muito profissional e não gosto de misturar as coisas. Quando estou trabalhando o foco é total, aí consigo ter meu retorno financeiro e posso viajar com a prancha. Nesses 3 anos de profissão eu ainda não consegui tirar férias, mas não tenho do que reclamar: eu amo o que eu faço.