Com 50 anos de profissão, João Farkas lança livro sobre as belezas e perigos que ameaçam o país
“Descobri que a única maneira de mobilizar as pessoas é através da beleza. Meu livro segue essa linha: lindo, lindo, lindo e, de repente, ‘pá!’, surgem os problemas. Ter um olhar benevolente é uma forma de sobrevivência, pois ninguém aguenta tanta desgraça, e também uma estratégia, porque só cuidamos do que amamos e só amamos o que conhecemos”, diz João Farkas.
Um grande astro da fotografia, há 50 anos ele observa o Brasil de maneira única. Com uma série de livros publicados, João lança agora o volume: “Enquanto há Tempo”, onde a beleza e os riscos que nosso país enfrenta convivem lado a lado. Com uma visão amorosa, mas ao mesmo tempo real, sobre nossa sociedade e tudo o que nos cerca, o fotógrafo bateu um papo com o Trip FM sobre a Amazônia, o garimpo, a história da rede Fotótica criada por seu avô, o desenvolvimento destrutivo do litoral de São Paulo e muito mais.
A entrevista você pode conferir no play aqui no site e no Spotify.
Trip. São muitos anos presenciando as desgraças desse país. Como você ainda tem uma produção tão esperançosa?
João Farkas. Eu bebi na fonte dos meus pais de acreditar muito no Brasil e no ser humano. A gente é bom em fazer coisa errada nesse país, e talvez tenhamos uma das piores elites do mundo, mas também temos um povo maravilhoso, com uma capacidade grande de aceitar o outro, com um DNA de tolerância. A gente sabe transformar desgraça em risada. Foi assim que eu aprendi a ver o mundo. Se você souber olhar, tudo é sagrado, o mundo é maravilhoso. Eu prefiro olhar por esse lado, de outra forma fica insuportável. Eu não vou ficar mergulhado na depressão. O que dá pra fazer? Apostar na beleza, no amor, na amizade.
Isso aparece no seu livro, mas ele também carrega um alerta. Eu descobri que a única maneira de mobilizar as pessoas era pela beleza. Qual é a estratégia? A gente só cuida do que a gente ama e a gente só ama o que a gente conhece. Meu livro é assim. Lindo, lindo, lindo, e de repente "pá", existem problemas. Ter um olhar benevolente é uma forma de sobrevivência interna, pois ninguém aguenta tanta desgraça. Por outro lado, é estratégico, para despertar o cuidado pela beleza. Uma das grandes vantagens da fotografia é que, por ela não ser racional, falada, é mais aberta a interpretações. Você não conduz o pensamento, você mostra. Mas é claro que dá para esconder, mentir, é possível.
O que você descobriu com os garimpos na Amazônia? O ouro desperta uma loucura nas pessoas, é uma doença. As pessoas vão morrer de malária e de tiro por essa riqueza súbita, que é um ouro de tolo, na verdade, porque o garimpeiro geralmente gasta imediatamente aquele valor.
Créditos
Imagem principal: Arquivo pessoal / Fátima Leão