Daniel João Ganjaman Donato

por Alê Youssef

Ganjaman está para o hip hop assim como João Donato está para a Bossa Nova. Sem exagero!

Vasculhando blogs musicais, conheci o GROOVE LIVRE. Nele encontrei um texto incrível que precisa ser compartilhado. O autor, Serjão Carvalho, faz uma comparação inusitada e certeira entre Daniel Ganjaman e João Donato, enfatizando a importância relativa de cada um para o Hip Hop e para a Bossa Nova, respectivamente.

Quem conhece o Ganja, sabe que é verdade. Não apenas pela força que exerce do ponto de vista musical, mas pela liderança e organização da cena em que está envolvido.

Excelente ver a nova cena opinando e criando paralelos com os grandes mitos e movimentos musicais do passado. É um jeito interessante de valorizar o que rola hoje em dia - mostrando que tem gente muito boa e importante fazendo coisas que estão marcando profundamente nossa música hoje -  e homenagear os grandes mestres.

Comparação merecida demais! Vale a leitura! Texto abaixo.

Na foto, Ganja e seu Rodhes em ação com o Instituto, na gravação do DVD da banda no Studio SP.

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DANIEL JOÃO GANJAMAN DONATO

Por Serjao Carvalho

fonte : http://noiz.com.br/category/materias/

Foto: Janaina Castelo Branco/siteNOIZ

Foto: Janaina Castelo Branco/siteNOIZ

Daniel Ganjaman está para o rap assim como João Donato está para a bossa nova. Não, isso não é nenhum exagero. E a melhor prova dessa teoria aconteceu durante a gravação do DVD do Instituto no último dia 24 de setembro, no Studio SP, onde ele levou para o palco os principais nomes do hip hop paulistano.

A comparação não é por acaso. João é um dos mestres da bossa nova, sua sonoridade sempre buscou harmonias diferentes e conseguiu deixar tudo com uma marca registrada, não é difícil saber que uma música tem o dedo de Donato. Assim como Ganjaman, que consegue deixar sua marca em qualquer faixa em que coloque seu Rhodes pra funcionar.

De volta ao Studio SP, Daniel Ganjaman mostra que é um artista com um gosto musical requintado e que sabe reconhecer onde existe um potencial para se fazer música de qualidade – e por que não viável comercialmente?

O show começou com o Instituto com sua formação matadora, tendo M. Takara destruindo tudo na bateria (como sempre) e Marcelo Munari na guitarra.  Vêm então os novos nomes, o que passa a ser a aposta de Ganjaman para se fazer música boa, afinal, para quem ainda não sabe, ele é um dos responsáveis pelo rap nacional ter conhecido Sabotage, o mestre samurai da rima.

Subiu Kamau no palco com a função não de simplesmente ser o MC que ele já é, mas sim o mestre de cerimônia da festa que tinha como maestro Daniel. A presença de palco de Marcus Kamau é assutadora, ele domina o local com uma tranquilidade de poucos. Então, ele fez sua rima e chamou para o palco Flora Matos.

O poder feminino na música pode não ter o respeito e o espaço que se merece, mas Flora pequena e guerreira subiu e mostrou por que é uma das maiores apostas dessa geração. Fico ainda mais curioso para conferir seu trabalho com o Stereodubs. A versão que ela fez para “Pai de Familia” é certeira e mescla muito das influências suas e do Instituto.

É a vez de Emicida no palco, e o público respira fundo para ver o porquê desse garoto da ZN estar com toda essa moral. Quando ele pega o microfone, entende-se perfeitamente o motivo. Ganjaman não é bobo, chamou ele para seu lado.

Max BO completa as apostas e sobe ao palco com a calma que lhe é peculiar, mostrando que é um cara do entretenimento e sabe se comportar muito bem lá em cima.

Voltando ao paralelo, em 1970, João Donato lançava “Bad Donato”, que mudaria os rumos não só na sua estrutura musical, mas a visão do que se poderia fazer na bossa nova – e que, convenhamos, até hoje não foi bem digerido por alguns do gênero. Em 2002 o Instituto lançava “Coleção Nacional”, que não recebeu o valor que merecia (ainda hoje não recebeu) e que mudou a forma de se pensar música brasileira. Para se ter uma ideia, os convidados foram nomes como Sabotage com “Dama Tereza”, Los Sebozos Postizos, Otto, Cila do Côco com Kid Koala, Bonsucesso Samba Clube, Rappin Hood, B Negão e Fred Zero Quatro, entre outras cobras. Dois discos essências para se entender a história da evolução da música brasileira.

Por fim, naquela quinta-feira, todos subiram ao palco para cantar “Cabeça de Nego”, parceria Instituto e Sabotage.  A ligação entre as gerações está feita. E Ganjaman é responsável por boa parte desse capítulo da história do rap nacional. E ele sabe disso.

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