Crise é evolução

A crise acelera o processo de evolução da humanidade na direção de uma consciência maior

Fico feliz porque a crise, dramaticamente, sinaliza e acelera o processo de evolução da humanidade na direção de uma consciência maior. Mas lamento o preço que estamos pagando para aprender


Caro Paulo,

Eu entendo que muita gente precisa da perda, do sofrimento e da dor para perceber a necessidade mudar sua maneira de lidar com a realidade.

Infelizmente, acho que é a maioria.

Por isso, quando uma crise chega, é tarde demais para muitas pessoas aprenderem e mudarem. Elas sucumbem pessoal, profissional, empresarial e socialmente. Tem sido assim em todo momento crítico de mudança na história da humanidade.

Na minha trajetória pessoal, tive a sorte de cruzar com figuras fantásticas que me mostraram sinais dessa crise décadas atrás. A mais importante delas é, sem dúvida, Willis Harman.

Foi em 1987, em Nova York: a convite do meu querido amigo Tamas Makray, CEO e fundador da Promon, fui participar de um workshop sobre negócios e visão de mundo (Weltanschauung, em alemão) com empresários que tinham patrocinado uma pesquisa do Stanford Research Institute, do qual Harman era presidente. O estudo tinha o objetivo de fundamentar o planejamento estratégico de algumas grandes corporações, apontando as mudanças essenciais que a sociedade sofreria no futuro.

Para que eu me preparasse para a reunião, Makray recomendou a leitura de um livrinho de autoria de Willis, Global Mind Change, que devorei durante o voo. A edição brasileira chama-se Uma total mudança de mentalidade (editora Pensamento). Mais do que o conteúdo em si, foi a atitude do autor diante da mudança que me impactou. Um tsunami na minha cabeça que só se organizou depois de inesquecíveis conversas com Willis, durante nossos outonais passeios em Mohonk Mountain, no norte do Estado, onde o workshop aconteceu.

Willis, que era p.h.D. e mestre formado em todas as engenharias, falava de um processo de mudança que, ao chegar ao seu ponto crítico, criaria uma turbulência profunda e generalizada em todos os âmbitos da sociedade. Em suas palavras: “... Aumentará a frequência das doenças mentais, dos crimes violentos, do terrorismo, do cultismo religioso, da aceitação do hedonismo sexual, das rupturas sociais e da ação da polícia, reprimindo essas rupturas. Esses indícios são, claro, visíveis hoje em dia [ele escreveu isso em 1987!] e ainda podem se agravar antes que voltem a níveis mais normais. Basicamente, todos são respostas à ansiedade e à insegurança constantes na inconsciente ameaça de mudanças”.

MUITA COLABORAÇÃO, POUCO SOFRIMENTO
E sua conclusão sobre a nossa atitude diante da crise era: “O desafio básico (...) é ajudar a nossa sociedade a conhecer a natureza e a necessidade das forças dessa transformação histórica que estamos vivendo, passando por ela com dedicação e colaboração mútuas e com o mínimo de sofrimento possível”. Tomei aquilo como lição de casa. Mais que isso, assumi que daquele momento em diante o meu trabalho seria estudar e falar sobre a transição épica que vivemos e criar condições para que as pessoas e organizações sofram o menos possível e se adaptem com sucesso e da maneira mais rápida possível à nova realidade. Se você se lembrar, esse tem sido o conteúdo de todas as conversas que temos tido aqui nesses 11 anos de coluna.

De um lado fico feliz porque a crise, dramaticamente, sinaliza e acelera o processo de evolução da humanidade na direção de uma consciência maior sobre quem somos e como queremos viver neste planeta. Por outro, lamento o preço que estamos pagando para aprender.

Que esta Trip ajude a aliviar as dores desse parto, inspirando, encorajando e plantando esperança nos corações e mentes dos que não tiveram a sorte de cruzar com um Willis Harman na vida. Parabéns pela ideia.

Abraço e saudades do amigo,

Ricardo

*Ricardo Guimarães, 60, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é rguimaraes@trip.com.br

 

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