Crise de conexão

O furacão que ameaça a economia global é o resultado da miopia de Wall Street para perceber que tudo e todos estão conectados

Por Ricardo Guimarães*


Caro Paulo, Parabéns pela sintonia entre os temas de nossa Trip e a atualidade. É impressionante. O tema desta edição – Conexão – é exatamente o que está por trás de toda a crise que veio à tona quando Wall Street caiu na real.

“Cair na real” para Wall Street significa descobrir a conexão que existe entre tudo e todos neste planeta e que as suas decisões e estratégias não levavam essa conexão em conta. Óbvio: um rico castelo construído com cálculos frágeis um dia desmorona. Simples assim: por trás do desastre, ignorância e incompetência; sem moralismos.

Para comprovar que essa análise está correta, confi ra as soluções adotadas para resolver a crise: colaboração, integração, ação cooperada de governos e bancos centrais de todos os países. Claro. Para o problema da desconexão, da desintegração e da competição, a solução é cooperação, colaboração e integração.

Mas, antes que se cristalize a idéia de conexão como solução de um problema, gostaria de dizer que para mim conexão é a realidade a ser vivida, celebrada e gerenciada para produzir riqueza e felicidade de maneira segura e sustentável.

Entendo que existem dois tipos fundamentais de conexão: vertical e horizontal. A vertical é aquela que conecta o céu e a terra ou, em outras palavras, as coisas e o seu significado. Por exemplo, o dinheiro e seu significado; o trabalho e seu significado. Alguém pode dizer que tem algo de espiritual nisso. Tem, para os espiritualistas, mas para os materialistas conscientes e honestos não. E olha que tem muito capitalista rico, economista e filósofo de prestígio, sérios e honestos, que não acreditam num céu. Não fazer a conexão entre as coisas e seu significado traz problemas graves, como uma vida sem sentido, o tédio, a vulgaridade, a violência, males com os quais convivemos, infelizmente. E que têm tudo a ver com a gestão da conexão horizontal.

Essa deriva do fato de vivermos em sistemas, como o sistema de climas e o atual sistema financeiro globalizado, que, turbinado pela tecnologia de informação e comunicação, tem também comportamento de sistema vivo. Concretos e tangíveis, eles são regidos por leis que não foram feitas pelos homens. São leis que determinam sua auto-regulação e que, por meio de um processo natural de equilíbrio/desequilíbrio, buscam sua evolução. E quando transgredimos essas leis? E quando tentamos controlar esses sistemas segundo nossa vontade, nosso desejo ou nossa ganância, desobedecendo ou destruindo a sua dinâmica natural? Quando isso acontece, o sistema reage com a mesma energia com que foi violentado.

SEGUNDA ÉPOCA
Evidentemente, quando os homens são imaturos e ignorantes assim, são necessárias leis e fiscalizações que coloquem limites para que sua ação nefasta não ameace esses sistemas vitais para o bem-estar da sociedade. Da mesma maneira que pais precisam colocar limites para seus filhos inexperientes e ignorantes não se machucarem e não prejudicarem os outros.

De propósito estou simplificando um cenário que é mais bem definido por sua complexidade derivada da interdependência, o outro nome da conexão (vertical e horizontal). Complexidade que no sistema financeiro internacional é acentuada pela conectividade e pela velocidade que a tecnologia de informação e comunicação instalam em nossas relações, tema recorrente em nossas conversas.

Enfim, tem um monte de lição de casa para a gente fazer. Acho que pegamos uma bela segunda época. Espero que a gente aproveite a chance para amadurecer e aprender que sem considerar a conexão o que se produz é confusão. Fique com o abraço do amigo incorrigivelmente esperançoso,

Ricardo

*Ricardo Guimarães, 60, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é rguimarães@trip.com.br
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