Por Redação
em 23 de novembro de 2009
01. Corpo
IVALDO BERTAZZO
O coreógrafo paulistano dedica sua arte à reeducação corporal. Na escola que criou ou nas apresentações que dirige, o bailarino redescobre o corpo na dança e faz gente comum brilhar nos palcos. O conhecimento que adquiriu estudando dança ao redor do mundo ele aplicou na inovadora Escola do Movimento. Lá, transforma a vida dos cidadãos ao ampliar o entendimento de seus músculos e articulações. Muito além dos limites dos palcos, o premiado cuida de corpos para modificar almas. “A revista de vocês é uma gracinha! Esse tipo de premiação dá um impulso na gente. Eu me senti muito feliz em fazer parte disso. E as pessoas que escolheram… Estou dentro de uma rede importante, admirável. Isso fortalece muito, aí você agüenta mais um ano de trabalho.”
02. Sono
SIDARTA
O neurocientista que ganhou projeção no exterior, entrou na memória e descobriu a importância dos sonhos para a sobrevivência humana não perdeu o sono na noite anterior ao prêmio. Garantiu que estava tranqüilo e que torcia para um dos concorrentes. “Eu estou muito feliz, claro. Acho importante chamar a atenção para esses temas. A gente está num mundo doente, num mundo que tem tudo para instalar a felicidade coletiva, mas não instala. O que a Trip está fazendo é colocar o dedo na ferida, é dizer para as pessoas: ‘Olha, o paraíso está ao alcance das mãos, nós temos conhecimento para alcançar o paraíso para todos, então por que não fazemos isso?’.” No palco, Sidarta ainda completou: “Sem sono não há sonho e sem sonho não há transformação. Vamos agir antes que tudo se transforme em um pesadelo”.
03. Alimentação
LUCIANA QUINTÃO
Decidida a virar a mesa, a economista carioca mudou-se para São Paulo, criou uma ONG e agora passa os dias dando destino a toneladas de alimentos que antes eram jogados no lixo. O Banco de Alimentos visa ampliar o acesso de comida de qualidade, em quantidade suficiente, a um número cada vez maior de pessoas. “Seis por cento de todas as crianças até 6 anos de idade são desnutridas. Mudar essa realidade é um trabalho que diz respeito a todos nós. Muitas pessoas maravilhosas concorreram ao prêmio e foi um privilégio estar ao lado delas. Precisamos começar a ver a verdade por trás de tudo, e aprender a dizer não para o que está errado. Não só em relação à fome no país, mas a tudo.”
04. Conexão
PADRE JAIME
Um santo de verdade, o irlandês veio para a violenta zona sul de São Paulo há quase 30 anos e foi o motor de um movimento de revalorização de uma área carente. Através da ação coordenada de instituições sociais, prefeitura, universidades, voluntários e da própria comunidade, ele ajudou a transformar o Jardim Ângela, que já foi considerado o lugar mais violento do mundo pela ONU. Hoje, a região nem figura mais na lista da organização. “Eu recebo o prêmio não somente em meu nome, mas em nome de todas as pessoas que estão dando seu tempo, suas vidas nessa causa pela paz. Eu sou apenas um símbolo para as pessoas da região do Jardim Ângela, São Luiz, Campo Limpo, Capão Redondo… Porque nada se faz sozinho, se faz em comunhão.”
05. Desprendimento
JOÃO JOAQUIM DE MELO
O fundador do Banco Palmas encontrou na economia solidária uma forma de reverter o quadro de exclusão social e hoje oferece dinheiro para quem está fora do sistema de crédito tradicional no país. Seu trabalho permite que pequenas comunidades possam ser transformadas e que diversas famílias saiam da linha da pobreza. “Estou muito nervoso. Acho que prêmio valoriza a pessoa. É importante. Eu estou aqui, sendo fotografado, filmado, um nordestino de uma favela de Fortaleza. Isso é bacana. É bom quando pessoas importantes valorizam e reconhecem meu trabalho. Não só porque divulga, mas porque protege. Ser divulgado na revista Trip traz credibilidade e respeitabilidade, cria uma certa proteção para a nossa experiência. E, quanto mais gente vê, mais gente se motiva. Esse prêmio vai para a favela do conjunto Palmeiras, que não esperou pelo governo para resolver o seu problema.”
06. Liberdade
DANILO MIRANDA
É possível que o diretor do Sesc São Paulo tenha colocado em cena, no âmbito dos 30 Sesc estaduais, mais cultura que o Ministério em todos os governos e tenha transformado milhares de vidas. “Para mim, respeito e cidadania vêm acima de tudo. Eu acredito nas utopias. Esse é um tipo de premiação que provoca reflexão, discussão e pensamento. O prêmio da Trip é fantástico porque trabalha fora dos padrões estabelecidos. Não vangloria o melhor disso ou daquilo, mas tem uma visão com mais riqueza, diversidade, complexidade. É um tipo de premiação que provoca reflexão, discussão e pensamento. E é por isso que eu quero compartilhá-lo com meus concorrentes.”
07. Diversidade
FERNANDO MEIRELLES
Mudar a forma como o mundo vê os excluídos e como os excluídos vêem o mundo: para um filho da burguesia paulistana, realizar esse feito com apenas quatro filmes é mais importante que ganhar um Oscar. Seus filmes acabam por trazer para a linha de frente da cultura pop mundial camadas da sociedade que dificilmente têm voz. E, no Brasil, deu orgulho a uma comunidade e carreiras promissoras a jovens atores vindos da periferia. “Eu acho muito bacana o prêmio. Primeiro porque ele tem a ver com felicidade, e os prêmios geralmente têm a ver com competição. Acho que sou uma zebra na minha categoria. Jamais daria o prêmio para mim. Tem a Regina Casé, que está há 15 anos trabalhando com diversidade, e o Sidney Possuelo, que é indianista, tem 42 anos de trabalho e de respeito ao que tem de mais diverso no Brasil, que são os índios não contactados. Eu sou um azarão. Vim aqui para aplaudi-los.”
08. Educação
TIA DAG
Educadora há mais de 20 anos, ela resolveu abrir o portão de casa para ajudar crianças e jovens de baixa renda a fugir da exclusão e da morte. Hoje, dirige a Casa do Zezinho, que ajuda 1,2 mil crianças e jovens de periferia. Um dos nomes mais aplaudidos da noite, Tia Dag reafirmou sua fé na educação e nas pessoas que dedicam a vida a fazer o bem. “Quem está no campo de batalha sabe que neste país jovem é problema em vez de ser solução. Temos mais de 50 milhões de analfabetos funcionais. Esse tipo de atitude só faz com que mais pessoas percebam que o que acham impossível é possível de fazer, basta dar o primeiro passo. O Brasil não está hoje numa situação de guerra por causa desses transformadores, pessoas que acreditam no impossível.”
09. Biosfera
ROBERTO KLABIN
Nascido em uma das famílias mais tradicionais do país e do ramo de papéis, ele deixou a celulose de lado para cuidar da verdadeira raiz do problema, o desmatamento. Presidente e fundador da organização não-governamental SOS Mata Atlântica, Roberto Klabin é um dos defensores mais engajados do ecossistema mundial. “Eu acho que qualquer prêmio que destaque o lado bom das pessoas, que destaque a vontade das pessoas de se doar em algo, é importante. Todos os homens adoram ser reconhecidos, adoram que suas ações sejam respeitadas e que essas ações voltem para a comunidade. Tudo é um círculo vicioso ou virtuoso. É um círculo virtuoso o que vocês estão fazendo aqui. Sem dúvida nenhuma, estimula as pessoas a continuar.”
10. Acolhimento
ROMÁRIO
O lendário gênio da pequena área fez um golaço ao defender portadores da síndrome de Down. Depois do nascimento da filha Ivy, ele tem realizado diversas campanhas Brasil afora para discutir as dificuldades e apoiar as famílias que compartilham da mesma situação. O baixinho não pôde comparecer ao Prêmio e foi representado por Luiz Eduardo de Moraes. “O Romário me liga e fala: ‘Peixe, preciso de uma ajuda sua. Não sei se vou ganhar, só tem fera lá! Mas se rolar tu dá teu jeito’.” O amigo atendeu ao pedido emocionado. Com a voz embargada, Moraes leu o discurso preparado pelo vencedor, que ofereceu o prêmio a sua “princesinha”, Ivy.
11. Teto
NIÈDE GUIDON
Pensando na proteção do nosso patrimônio, Niède Guidon usa a pré-história para reescrever o presente e melhorar o teto que abrigará nossos netos no futuro. Seu trabalho inclui inúmeras descobertas sobre a verdadeira formação de nosso berço esplêndido. Representada pela amiga de mais de 30 anos e colega de profissão Silvia Maranca, a premiação da arqueóloga foi um momento emocionante e divertido da noite. Silvia leu uma carta de agradecimento e não deixou de fazer suas observações sobre as palavras da premiada. “A educação no Brasil está desestruturada. Para termos direitos, temos que cumprir com nossos deveres. Sou filha de uma escola pública, que formava cidadãos com o dinheiro dos impostos. O que estou fazendo aqui é devolver o que o país me deu.”
12. Trabalho
JORGE GERDAU
Aos 14 anos de idade ele já usava o tempo das férias escolares para trabalhar na fábrica de pregos do pai. Aos 20 participava ativamente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul. Hoje emprega 32 mil funcionários em dez países. Um legítimo empresário do Brasil, ele alçou uma pequena siderúrgica do Sul a superpotência internacional do aço. É vendedor da idéia de espalhar práticas empresariais para o governo, mas recusou o convite para comandar a pasta do Desenvolvimento oferecida pelo presidente. Ausente, enviou o representante Paulo Ramos, que foi breve no agradecimento. “Pode parecer brincadeira, mas o Jorge não está aqui hoje porque está trabalhando.”
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