Como funciona a vergonha alheia
Saiba o que um grupo de neurônios faz com você diante de uma cena ridiculamente vergonhosa
Há um ano, o Brasil levava 7 a 1 da Alemanha, nas semifinais da Copa do Mundo: vergonha maiúscula / Créditos: Danilo Verpa
Por Fernanda Paixão
em 2 de junho de 2015
Charles Darwin era fascinado pelo rubor causado pela vergonha, que chamou de “a mais humana e peculiar das expressões”. A alteração de circulação capilar que encantou o naturalista inglês pode se dar por muitas razões, inclusive quando somos apenas espectadores de uma cena embaraçosa – a conhecida “vergonha alheia”.
Na década de 90, um grupo de cientistas italianos descobriu uma categoria de neurônios que estaria por trás de tal comportamento: os neurônios-espelho. Sobre eles, o doutor em ciências e professor do Programa em Neurociências da Universidade Federal Fluminense, Luiz Gawryszewski, explica: “A vergonha alheia é um reflexo do comportamento do outro. Todos os efeitos da observação provocam uma ativação subliminar”.
Essa projeção é uma prática empática que age através dos neurônios espelho, que são ativados quando, em estado de atenção, observamos uma ação, intenção ou emoção; qualquer coisa que faça ou possa vir a fazer parte do nosso repertório de ações. É assim que memorizamos tarefas básicas – o porquê de não precisarmos aprender todas as manhãs a como escovar os dentes, por exemplo.
Ficamos constrangidos diante de um comportamento que podemos considerar grotesco socialmente, principalmente se praticado por uma pessoa que de alguma forma esteja ligada à nossa identidade social. Ao mesmo tempo, experimentamos a frustração de não podermos controlar as ações do “infrator” e, graças à autoprojeção provocada pelo neurônio-espelho, a ação do outro incomoda como um reflexo negativo de nossa própria imagem.
Por isso você quis sair correndo da sala há um ano, quando aconteceu o episódio conhecido como “7 a 1”. Corremos.
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