Foi uma festa pra celebrar todas as mulheres que fotografei na última década. Foram tantas garrafas de vinho, tantas massas feitas de madrugada, tantas frutas esmagadas na pele...
Devo começar com: eu não gosto de festas. Não gosto de uma multidão de gente embriagada, não gosto de ter a casa em desordem no dia seguinte. Mas eu queria dar uma festa pelo menos uma vez na vida. Queria reunir todas as mulheres que já fotografei no Brasil, já que faz uma década que moro aqui, e dez anos é um número bonito para comemorar, e as mulheres já viraram tantas... Nesse meio-tempo, algumas foram morar no Pará ou no Rio Grande do Sul ou até mesmo no Japão. Várias tiveram filhos. Uma teve gêmeos.
Vieram muitas nessa festa que eu resolvi dar.
Fiz uma massa à meia-noite, tinha champanhe por todo canto, as meninas estavam todas de salto alto e fazendo xixi no chuveiro. Queria que a festa fosse black tie, queria dar uma desculpa para que elas se arrumassem, mesmo tendo só um amigo solitário, dono de um smoking branco. Não importava tanto qual traje os homens estariam usando, já que a festa foi mesmo para as meninas.
A Jaque tava de terno branco; a Camilla, com um vestido de plumas e paetês; a Carol, com uma coroa de espinhos. As minas todas passaram a tarde se arrumando, meu celular não parava de tocar com as mulheres me escrevendo nervosas, me perguntando sobre os vestidos. Queria que fosse assim. Queria vê-las todas juntas e felizes. Queria agradecer a todas elas, as minhas mulheres, pelos presentes que me deram ao longo dessa última década. Foram tantos dias em barcos, em praias, no mato, na varanda. Foram tantas garrafas de vinho, tantas massas feitas de madrugada, tantas frutas esmagadas na pele. Tenho tanta coisa pra comemorar, e tantas mulheres pra agradecer. Às vezes me pergunto se eu mereço todas essas mulheres. Ainda não encontrei a resposta, mas, já que elas estão aqui, melhor comemorar mesmo.
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Créditos
Imagem principal: Autumn Sonnichsen