por Luiz Alberto Mendes

”Todos nós somos, ao mesmo tempo, vencedores e perdedores”

Recentemente fiz um texto para essa coluna sobre "preconceito".

Hoje repenso um pouco o que escrevi naquela ocasião. E quero debater nessas parcas linhas a minha visão sobre o assunto.

Acho que todos nós somos, ao mesmo tempo, vencedores e perdedores. Não vejo lados opostos para quem ganha ou para quem perde. Acredito que sempre caminhamos juntos, para todos os lados, abrangentes.

O homem é a expansão de sua própria liberdade e nada o impede disso. Ofereço, aqui, com minha vivência, um raio de esperança aos que, como eu, estiveram ou ainda estão atrás de grades.

Campeão na mania de errar, soldado de minha dor, fui ruído das turbulências que nos impõem a vida. Apanhei feio, consegui sobreviver e chegar ao mais próximo que posso (por enquanto) da existência.

Mas não aceito ser modelo de nada. Até porque todos os modelos são falsos, inclusive aqueles das passarelas – como pude comprovar poucas semanas atrás durante um desfile de biquínis no São Paulo Fashion Week.

Se eu, este sujeito tão cheio de falhas e fraquezas, encontrou uma saída, pressupõe-se que os demais também possam. Mas, e aqueles que não conseguem? Na minha idade, seria idiossincrasia me julgar melhor ou pior que alguém. Dizem que tenho talento e estilo; que sou culto e inteligente. Mas e os que não chegam a esse questionável status? Seriam piores que eu? Jamais acreditei nisso. Fui bem pior que a maioria dos que ainda estão presos.

E aqueles que saem da prisão sem ninguém por eles, sem profissão, alienados e inadequados para enfrentar a coexistência social? E os que (e são a maioria) não conseguiram encontrar apoios, incentivos e estímulos para tornar imperiosa suas vontades?

As pessoas tendem a me aprovar. Onde vou e posso falar, acabo conquistando. Mas sou como qualquer um das 140 mil pessoas que estão atrás das muralhas em São Paulo - ou mais, pois aumenta cerca de mil presos por mês no sistema carcerário do Estado. Sou como qualquer pessoa livre ou presa. Um ser na existência, apenas. Preso ao instante e que vai morrer, hoje ou amanhã, como todos. Uso o banheiro, ando pelas ruas e troco cheques (como diria o Cazuza). Em vez de cantar, no entanto, eu escrevo.

O destino deveria ser coletivo: os incentivos; a força de vontade; a capacidade de concentração; o amor pelos livros; o sonho de honra e nobreza de atitudes; o tesão pela generosidade; o desejo de criar meus filhos com dignidade; e mais algumas coisa que me orientam. Deveria existir para todos.

Estamos entrelaçados na mesma condição humana. Sofremos e choramos; somos felizes e alegres do mesmo jeito. O que sangra em mim, sangra também em você que me lê. Às vezes penso até que foi um mal para o coletivo eu ter quebrado barreiras. É óbvio que atravessei camadas e camadas de obstáculos para chegar até aqui, mas e os outros?

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