por Alê Youssef

Passei as últimas duas semanas ajudando a Prefeitura de São Paulo, mais especificamente a Secretaria da Cultura, a viabilizar o Palco das Casas Noturnas, que junta os principais DJs dos principais clubes de São Paulo, em um palco no centro da cidade durante a Virada Cultural. Ano passado, ja tinha trabalhado bastante para viabilizar isso, pois achava que era uma passo importante para aproximação da noite com o governo municipal. Imaginava que dessa relação pudessem surgir parcerias e uma necessária valoriacão estratégica por parte de quem detém o poder municipal, da noite e da cultura aternativa da cidade por consequencia.

Mesmo não tendo acontecido absolutamente nada de novo do ano passado pra cá - e olhem que tentamos levar o movimento NOITE VIVA adiante, nos reunimos com algumas figuras do governo, protocolamos propostas sobre economia da criatividade, turismo, desenvolvimento social, gereção de emprego, revitalização urbana etc - decidi atender o pedido da Secretaria da Cultura e, a exemplo do ano passado, tentar juntar todos os clubes me torno do tal palco.

Em meio a esse processo, tive uma terrível surpresa. Na última quinta feira, dia 26 de abril, fiscais da mesma Prefeitura de São Paulo, mais especificamente do PSIU - Programa de Silêncio Urbano, acompanhados pela Força Tática da Polícia Militar, realizaram uma grande blitz na Rua Augusta. Não sei exatamente qual era o propósito, mas distribuíram multas e fecharam estabelecimentos que supostamente funcionavam fora do período permitido: 1h da manhã. O meu Studio SP, também foi abordado por essa força tarefa municipal.

PM’s com fuzis na mão entraram na casa, obrigaram o DJ da noite a parar o som e retiraram de forma truculenta as centenas de pessoas que aguardavam ansiosamente o show da excelente banda de dub Echo Sound System. Toda essa movimentação era inspecionada por uma arrogante fiscal da Prefeitura que dava as ordens aos policiais. O motivo foi o que relatei acima: estavamos supostamente funcionando além do horário permitido.

Apesar de termos documentos necessários para funcionamento, protocolo que deixa claro qual a função social da casa e horário para desenvolvimento das atividades, bem como laudo acústico e tantas outras coisas necessárias, além de sermos uma casa bastante conhecida com larga exposição na mídia dos nossos shows e atividades (incluindo horários), fomos solenemente ignorados pelo fiscal que adotou a postura mais autoritária e arbitrária que ja presenciei na minha vida. Assistir ao desfile dos PMs com fuzis na mão lembrou a ações radicais de desmonte dos pontos dos “subversivos” da época da ditadura. Trataram os fãs da banda e os artístas como criminosos e os funcionários do STUDIO SP como chefes de quadrilhas.

Na sexta feira, depois dessa ação imbecil, reabrimos a casa normalmente pois não tinhamos qualquer impedimento legal, a não ser uma multa aplicada baseada no erro do horário, da qual ja estamos recorrendo. Mas, ficou a boca o gosto amargo da injustiça e o sentimento que o Studio SP, seus artístas e seus clientes foram lesados profundamente.

Tomaremos medidas judiciais cabíveis, é claro, mas sabemos que elas não bastam pra resolver o grave e profundo abismo que existe nessa cidade que parece ter duas cabeças. De um lado a São Paulo que aplaude um espaço como o Studio SP, que lança talentos, resgata a música ao vivo e valoriza a arte urbana e que desempenha papel social em seus shows gratuitos. Aplaude tanto que convida a casa para participar da Virada Cultural e pede a ajuda para mobilizar os outros clubes. Do outro a cidade que agride, que cria dificuldades para vender facilidades, que é feia, careta, corrupta, sanguessuga e sem qualquer sensibilidade do seu real potencial. Essa é a cidade dos currais eleitorais, dos coronéis de bairro, dos mesmos políticos de sempre.

Vivemos numa cidade bipolar, de extremos e antagonismos. Precisamos começar a falar seriamente sobre isso.  De toda forma, apesar de alguns conselhos para abandonarmos em protesto o evento que ajudamos a realizar, estaremos presentes ao palco das Casas Noturas na Virada Cultural. Não vamos desistir tão fácil daquilo que acreditamos.

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