Carro pra vestir

por Luiz Guedes
Trip #184

Mário Hofstetter foi um dos mais arrojados criadores de carros especiais nos anos 70

Com as importações proibidas, surgiu um criativo mercado de carros especiais no Brasil dos anos 70. Mas ninguém foi tão longe quanto Mário Hofstetter

 

No jargão automobilístico, ninguém entra em um esportivo. O correto é “vestir o carro”, referência à necessidade de deslizar pelo banco até a posição ideal. No Brasil dos anos 70, a proibição de importações fiz pipocar um criativo mercado paralelo de automóveis esportivos artesanais. Eram os “fora de série”, produzidos com carroceria de fibra de vidro montada sobre a plataforma de modelos de linha – a maioria leva chassi e motor do Fusca. Em meio a esse turbilhão de novas ideias, um projeto se destacou. E não apenas pelo design arrojado, mas pelo perfil do idealizador. É que em 1973 Mário Richard Hofstetter, então com apenas 16 anos, decidiu projetar e construir um automóvel exclusivo para quando completasse 18.

A inspiração para a carroceria de formas angulosas e portas “asa de gaivota” veio de modelos-conceito do renomado designer italiano Giorgetto Giugiaro: o Alfa Romeo Carabo (1968) e o Maserati Boomerang (1971). “Uma preocupação foi tornar o interior do esportivo, em geral apertado, confortável para alguém com mais de 1,80 m”, diz Mário, hoje com 52 anos. Ou seja, era um projeto sob medida também para o corpo do idealizador.

Trabalho caseiro
A construção do modelo, feita pelo próprio Mário, na garagem da casa dos pais em São Paulo, terminou em 1980. “Quando finalmente comecei a circular, passei a ser abordado por várias pessoas interessadas em comprar o carro”, lembra.

Os pedidos incentivaram o desenvolvimento de uma versão para produção em série, e aí nasceu o Hofstetter. Ao todo, foram construídos 19, dos quais 15 foram comercializados. O carro recebeu aprimoramentos estéticos e mecânicos, sendo que o último motor usado, um 2.0 de Santana, chegava a 275 cavalos com turbocompressor.

Com status de clássico, um Hofstetter hoje passa de R$ 100 mil. “O projeto nasceu como um sonho, transformou-se em negócio e se tornou lição de vida”, filosofa Mário, ainda proprietário de três modelos que carregam o seu sobrenome.

 

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