Foi o trabalho quem me destacou do limbo existencial a que fui condenado
Tenho visto o trabalho dividindo pessoas em empregados e desempregados. O primeiro grupo, para o segundo, parece estar em paz com Deus. Distancia-se. Empregados correm de desempregados. Alguns até se benzem e batem três vezes na madeira. Começam a achar que desempregado dá azar. Portanto, representa perigo. É óbvio que há exceções. Conheço algumas que fazem a diferença. Mesmo por isso, tento caminhar com arte, em busca de uma impossível elegância. Na disciplina do despojamento, sem exigências ou cobranças. Desconcentro e busco superar a técnica e o método. Só então consigo me entregar ao ritmo do tempo a fluir no espaço. Os religiosos chamam de comunhão; os artistas de arte. Para mim, é algo que me constitui e habita. Chamo a isso de trabalho.
Quando comecei a trabalhar e ter resultados de meu esforço, iniciei a construção de uma outra história pessoal. Quando percebi, havia me apossado de novas ferramentas, símbolos e linguagens. O trabalho me instrumentalizou para que me reencaixasse socialmente, sem muitas dificuldades. Escrever, dar aulas, planejar projetos sociais me deu novas chances de relacionamento com os indivíduos sociais. Era a única saída possível para mim. Com certeza, a prática ultrapassa o pensamento. Enriquece a vida com o risco da imaginação, da indagação, da pesquisa e da invenção do futuro.
O reconhecimento do trabalho como meio e o resultado do trabalho como fim marcou minha vida. Daí pra frente caminhei consciente de que, se tudo desse errado, trabalhando firme, acabaria por dar certo. O trabalho possuía o poder de modificar o presente e, principalmente, determinar o futuro. Não encontrei nenhuma disciplina mais integradora do homem a si mesmo e a seu meio de relações. Todas as minhas grandes amizades foram formadas tendo o trabalho como meio de relação. Meu trabalho não está separado de minha consciência, de minha escolha e da realização de meus fins. Está inserido até em meu lazer e tem tudo a ver com o que escolhi como profissão. Meus passeios são visitas a amigos que o trabalho trouxe. Estar com eles, conversando, tomando uma cerveja no fim da tarde, é um dos maiores prazeres que conheço.
Pelo que entendo, os modelos sociais ou são individualistas ou radicais. Sempre decadentes e impiedosos. Degeneram facilmente em técnicas de poder e manipulação do indivíduo. O meio humano é constituído por ações humanas materializadas em coisas. Essas coisas obedecem a leis próprias que não são humanas ou naturais. Esse desenvolvimento escapa à nossa percepção.
Por mais de 30 anos vivi preso, em regime totalitário. Prisão é domínio integral do corpo e da mente. Eu não existia, havia um número (25.805) de matrícula pelo qual eu respondia. Mas somente quando chamado. Quando não, meu ser era completamente ignorado. Os “gênios” da Secretaria dos Assuntos Penitenciários me jogavam de uma penitenciária para outra a seu bel-prazer. Conheço totalitarismo. Como conheço anarquia, rebelião e morte.
Foi o trabalho quem me destacou do limbo existencial a que fui condenado. Por isso meu trabalho não está hipotecado por servidões, cooptações ou alienações. Ele me dá certezas que me sustentam: tudo o que é, ainda não é tudo. Sem essa fé, eu estaria perdido. Porque, para mim, o que é merece ser transformado ou ultrapassado. O passado, embora pareça sujo, constitui-se de nobres degraus. Eles me deram o que há em mim de mais íntimo e verdadeiro. A emoção de saber que as pessoas gostam de mim, em geral, e que algumas me amam, em particular.
A princípio pareceu estranho que me amassem. Não senti esse valor em mim. Isso me forçou à autocrítica. Tenho trabalhado permanentemente por me fazer merecedor. Ainda hoje penso que meus amigos são indulgentes e generosos demais por gostarem de mim. Eles são o que a vida foi impossível para mim, algo que não consegui empreender. Mas que também é trabalho porque cada pessoa é uma multiplicidade de possíveis que não são meus.
Quando comecei a trabalhar e ter resultados de meu esforço, iniciei a construção de uma outra história pessoal. Quando percebi, havia me apossado de novas ferramentas, símbolos e linguagens. O trabalho me instrumentalizou para que me reencaixasse socialmente, sem muitas dificuldades. Escrever, dar aulas, planejar projetos sociais me deu novas chances de relacionamento com os indivíduos sociais. Era a única saída possível para mim. Com certeza, a prática ultrapassa o pensamento. Enriquece a vida com o risco da imaginação, da indagação, da pesquisa e da invenção do futuro.
O reconhecimento do trabalho como meio e o resultado do trabalho como fim marcou minha vida. Daí pra frente caminhei consciente de que, se tudo desse errado, trabalhando firme, acabaria por dar certo. O trabalho possuía o poder de modificar o presente e, principalmente, determinar o futuro. Não encontrei nenhuma disciplina mais integradora do homem a si mesmo e a seu meio de relações. Todas as minhas grandes amizades foram formadas tendo o trabalho como meio de relação. Meu trabalho não está separado de minha consciência, de minha escolha e da realização de meus fins. Está inserido até em meu lazer e tem tudo a ver com o que escolhi como profissão. Meus passeios são visitas a amigos que o trabalho trouxe. Estar com eles, conversando, tomando uma cerveja no fim da tarde, é um dos maiores prazeres que conheço.
Pelo que entendo, os modelos sociais ou são individualistas ou radicais. Sempre decadentes e impiedosos. Degeneram facilmente em técnicas de poder e manipulação do indivíduo. O meio humano é constituído por ações humanas materializadas em coisas. Essas coisas obedecem a leis próprias que não são humanas ou naturais. Esse desenvolvimento escapa à nossa percepção.
Por mais de 30 anos vivi preso, em regime totalitário. Prisão é domínio integral do corpo e da mente. Eu não existia, havia um número (25.805) de matrícula pelo qual eu respondia. Mas somente quando chamado. Quando não, meu ser era completamente ignorado. Os “gênios” da Secretaria dos Assuntos Penitenciários me jogavam de uma penitenciária para outra a seu bel-prazer. Conheço totalitarismo. Como conheço anarquia, rebelião e morte.
Foi o trabalho quem me destacou do limbo existencial a que fui condenado. Por isso meu trabalho não está hipotecado por servidões, cooptações ou alienações. Ele me dá certezas que me sustentam: tudo o que é, ainda não é tudo. Sem essa fé, eu estaria perdido. Porque, para mim, o que é merece ser transformado ou ultrapassado. O passado, embora pareça sujo, constitui-se de nobres degraus. Eles me deram o que há em mim de mais íntimo e verdadeiro. A emoção de saber que as pessoas gostam de mim, em geral, e que algumas me amam, em particular.
A princípio pareceu estranho que me amassem. Não senti esse valor em mim. Isso me forçou à autocrítica. Tenho trabalhado permanentemente por me fazer merecedor. Ainda hoje penso que meus amigos são indulgentes e generosos demais por gostarem de mim. Eles são o que a vida foi impossível para mim, algo que não consegui empreender. Mas que também é trabalho porque cada pessoa é uma multiplicidade de possíveis que não são meus.