40 bandas, 40 graus e uma certeza: Festival Calango 2008 encontra a fórmula exata de um festival independente
A reação aqui na Redação da Trip é sempre a mesma quando é anunciada uma expedição em busca de novas bandas Brasil afora. Desta vez, a pergunta “Mas o que tem lá? Festival de quê?” foi repetida inúmeras vezes por todos que se espantavam com meu embarque para Cuiabá (MT) para conferir a sexta edição do Festival Calango. Poucos sabem, mas a capital mato-grossense é hoje um dos principais celeiros da nova música brasileira. Foi da escaldante cidade que saiu Vanguart e Macaco Bong, bandas que confundem hoje a crítica, que depois de gastar os rótulos indie, independente e afins quebra a cabeça para tentar entender essa nova lógica musical, ainda mais quando a referência para tanto se resume a gastar horas sentado na redação. Enfrentar o calor de 46 graus de Cuiabá é tarefa para poucos, mas extremamente gratificante. O principal responsável por essa confusão toda é Pablo Capilé, um dos criadores do Espaço Cubo, que com uma organização beirando o insuportável, reuniu mais de 40 bandas no principal centro de eventos de Cuiabá, o Centro de Eventos Pantanal, durante três dias, e com entrada gratuita. Foram tantas bandas e eventos paralelos, incluindo um tour pela chapada dos Guimarães, que resumir essa empreitada calorosa é certamente uma tarefa ingrata.
Primeiro dia de festival, 14 bandas e muito calor – Certamente o destaque do primeiro dia de festival foram as bandas que deixaram a cinzenta capital paulista para estrear em terras cuiabanas. Dentre elas, Mamelo Sound System e Jumbo Elektro, que testaram suas sonoridades e foram muito bem recebidos. Rodrigo Brandão, vocalista do Mamelo, não escondia a empolgação em cima do palco e, como sempre, instigava todos a fazerem muito barulho. Outra boa surpresa foi a francesa Papier Tigre, que transpirava em bicas no palco, enquanto desferia sua mistura de At the Drive-In com The Rapture sob um calor de 30 graus em plena madrugada.
Rodrigo Brandão do Mamelo Sound System (SP)
Segundo dia de festival, 15 bandas e o amadurecimento do hip hop cuiabano – O tão alardeado hip hop cuiabano era a grande promessa da noite, sob responsabilidade de Linha Dura. Para ajudar na espera, Hey Hey Hey (RO), molecada promissora que já havia se destacado no Festival Casarão (Porto Velho, RO), The Dead Love's Twisted Heart (BH), folk rock que funciona melhor rock do que folk, os cariocas do Do Amor e outras bandas locais. “O cenário hip hop aqui em Cuiabá é bem recente. Nossa principal dificuldade é acesso a infra-estrutura, equipamentos, vinis, etc.”, dizia Linha Dura, um dia antes de fazer o seu show. Para resolver o problema, os melhores instrumentistas de Cuiabá, o baixista Ebinho Cardoso (Ebinho Cardoso Trio), Kayapy e Ynayã (guitarrista e baterista do Macaco Bong). Cozinha de responsa para Linha Dura engrossar o caldo hip hop sem perder a mão. Sobrou até convite para os também estreantes Contra Fluxo, Rodrigo Brandão (Mamelo) e o cuiabano DJ Taba subirem ao palco e transformarem aquele momento em um marco para o hip hop local, que certamente evolui absurdamente com tantas referências. Já que Jumbo Elektro estava na área, por que não aproveitar e fazer um show do Cérebro Eletrônico? Tatá Aeroplano consegue a bizarra tarefa de encarnar dois vocalistas diferentes, com estilos diferentes e personalidades diferentes. Para fechar a noite, os donos da festa – para quem não sabe, os integrantes fazem parte do Espaço Cubo –, Macaco Bong, afinaram os tímpanos locais para a estréia de Hurtmold no Calango. Hora de ir pra casa e acordar cedinho para uma tarde na chapada dos Guimarães.
A molecada promissora do Hey, Hey, Hey (RO)
Linha Dura e Dj Taba, hip hop cuiabano com o melhor time de músicos locais
Terceiro dia de festival, 12 bandas e a consagração do Vanguart – O dia começou com o Calango Tour, um belo passeio promovido pela organização para levar bandas e convidados para conhecer a chapada dos Guimarães. O atraso de quase quatro horas para sair de Cuiabá acabou resultando em perder os primeiros shows da última noite. Correria até o Centro de Eventos, onde o Revoltz (MT) arrancava gritos histéricos de um público feminino fiel à beira do palco e de um ataque de nervos. Mais uma vez o destaque da noite ficou por conta do hip hop, mas desta vez dos paulistanos Contra Fluxo, que foram precedidos por excelentes shows de Fossil (CE), Curumin (SP) e Supercordas (RJ). Devidamente apresentados à platéia como “poderosos vocalistas”, o Contra Fluxo soltou uma pedrada atrás da outra, ensinando e acrescentando a molecada do hip hop que ensaiava passos de b-boy na frente do palco. Até então, a sensação era a de que o público não havia comparecido, culpa do tamanho do evento e da diversidade de atrações, incluindo um concurso de guitar hero. Vanguart sobe ao palco, brotam pessoas de todos os lugares do festival, e Hélio Flanders e cia. estufam o peito e mostram que, ali em Cuiabá, quem manda são eles. Lá do fundo, em uma das salas reservadas à imprensa, Pablo Capilé observa tudo, orgulhoso de sua cria que começou há seis anos como um concurso de bandas e que cultivada, alimentada e fomentada com muita dedicação e carinho culminou no principal festival do Mato Grosso.
Kudla, vocalista do Revoltz (MT), dá uma espiadela nas fãs
Hélio Flanders do Vanguart (MT) fecha o festival com chave de ouro