Empresários ciclistas apostam na criação de oficinas para bicicleta com bar e café. Ou bar e café com uma oficina de bicicleta
Após viver na Europa, o empresário Fabio Samori sentiu falta de uma loja de bicicletas com equipamentos e acessórios para pedalar em São Paulo. Em 2013, resolveu arregaçar as mangas.
Em um espaço em Pinheiros, zona oeste da capital paulista, decidiu mesclar o gosto por bicicletas a seu apreço pela gastronomia e fundou o bike café Aro 27. Lá, os clientes podem comer, estacionar suas bicicletas nas 40 vagas disponíveis, ter acesso a uma biblioteca e a um park and shower - onde é possível tomar uma ducha pós-pedalada. No entrada há uma ciclofaixa que leva o cliente até as mesas para as refeições. Nas paredes, bicicletas fixadas como decoração. O investimento inicial foi de R$ 300 mil.
A assiduidade varia, mas o estabelecimento costuma receber cerca de 150 clientes ao dia. "É melhor e mais fácil ser ciclista do que motorista", afirma o empresário.
A cerca de 600 quilômetros do negócio de Fábio, outro empresário teve uma ideia similar. Em abril de 2015, o ex-planejador turístico e empresário Marcelo de Faria, 38 anos, inaugurou um espaço de 104 metros quadrados no centro de Belo Horizonte que também foi dedicado à mescla de café, o típico "pão de queijo mineiro" e a bicicleta, carinhosamente chamada de "magrela" pelo empreendedor.
Pedalar Marcelo já sabia. Entretanto, entrar no ramo do bike café exigiu habilidades extras. Tomou um curso para se tornar barista. Hoje, é especialista no preparo de tipos variados de café (alcoólicos, pingado, espresso, especiais com alto grau de pureza, gelados etc.) que são preparados em parceria mais dois funcionários.
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Um mostruário de bicicletas fica à venda para o arremate da clientela. Marcelo, que vai ao trabalho de bike todos os dias, oferece 10% de desconto a ciclistas que queiram passar uma tarde bebericando, comendo bolo de fubá, lanches naturais ou até mesmo conversando no espaço batizado apropriadamente como Pedal & Prosa Café. A ajudinha no valor é uma prática corriqueira de estabelecimentos deste tipo.
“Minha intenção é virar um centro de referência e informação”
Marcelo de Faria, dono do Pedal & Prosa Café
Além dos serviços prestados ao paladar alheio, a carreira no setor do turismo concedeu a Marcelo material de auxílio a ciclistas de mountain bike que passam por ali em buscas de dicas trilhas nos arredores da capital mineira. Além destes aventureiros, também há dicas de segurança e pontos turísticos dados a turistas e belo-horizontinos que trafegam com a magrela pelo trecho urbano. "Minha intenção é virar um centro de referência e informação", diz.
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O investimento em bike cafés vem em um momento propício. Segundo pesquisa publicada pela ONG Transporte Ativo, em parceria com o Laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mais da metade (cerca de 60%) dos ciclistas do Brasil são novos na área - o que cria uma demanda para novos espaços com aporte à bicicletas. Do cerca de 5 mil ciclistas entrevistados em 10 cidades brasileiras, a maioria utilizava a bicicleta para ir ao trabalho (88.1%) e lazer (76%), pelo menos 5 vezes por semana (31%). 30% da média nacional recebe de 1 a 2 salários mínimos, perfil que varia de acordo com a cidade.
Os novos praticantes e a alta assiduidade dos ciclistas espalhados pelo Brasil ajudou espalhar bike cafés por cidades como Curitiba, Olinda (PE), Brasília e Rio de Janeiro.
Diego Vieira, 31 anos, aproveitou a ciclovia na região central de Fortaleza para transformar uma antiga banca de jornal em um bike café, em agosto de 2015. Envolvido desde 2009 em movimentos em prol da bicicleta, Diego oferece reparos, água de graça para ciclistas, wi-fi, um cuscus local e o café especial, preparado à moda de seus similares no sudeste - quem já se fixou no ramo passa o conhecimento para a frente, por meio de workshops e recomendações sobre o preparo do cardápio especializado em café e quitutes. "No ano passado fui a um curso de barista em São Paulo, estudar as referências dos cafés que são servidos em bike cafés por aí, como o Aro 27", explica o fundador do Úrbici.
Entre os empresários entrevistados pela Trip, grande parte pensa em abrir novas franquias de suas marcas. Ao menos, um dia. "Por enquanto, vamos fortalecer o negócio antes de ampliar em um momento economicamente delicado como agora", explica o mineiro Marcelo.