por Caio Ferretti
Trip #198

A história de Luis Sandei, o ator que bateu Faustão e Sílvio Santos em maior tempo no ar

Faustão, Gugu, Silvio Santos: curvem-se a Luis Sandei! Comparados a ele vocês são apenas meros coadjuvantes da televisão brasileira. Façam suas contas. Somando o tempo em que vocês ficam no ar, Luis ganha com folga. Na semana em que esta reportagem foi feita Luis passou 15 horas em rede nacional. Quatro vezes mais do que William Bonner em seu Jornal Nacional. E o que garante a ele tão nababesca exposição? Sua inesquecível performance como o protagonista do comercial do Super Papo. O anúncio onipresente que se repete nas madrugadas da Rede TV!

Nunca viu? Calma, se a solidão e a insônia ainda não o levaram ao encontro de Luis, nós explicamos do que se trata. São 10 min de um nada hollywoodiano curta-metragem que pode ser dividido em duas partes. Na primeira, nosso De Niro do baixo orçamento faz as vezes de um perdedor sem amigos, deprimido com a vida. (assista vídeo no final da matéria)

Sua indigente autoestima o deixa descabelado, de gravata frouxa, mastigando com desânimo uma bisnaguinha pela manhã. Arrasta-se pelo escritório como um pária que não é bem-vindo pelas colegas que o rejeitam até no bebedouro. Sua voz em off explica o drama: “Tanta mulher linda no trabalho, mas todas são casadas, têm namorado. Aí fica difícil. Não me dou bem na balada...”. Palavras como “sonhar”, “curtir” e “ter amigos” flanam na tela, seguidas da irresistível pergunta: “Que tal fazer tudo isso hoje?”.

Luis tem seus olhos profundos de tristeza, mas aceita o convite e telefona para o Super Papo. Resultado? No dia seguinte acorda penteado, e devora sua bisnaguinha com um sorriso no rosto. Está eufórico no trabalho, um escritório salpicado de estrelas na parede. Tudo porque marcou um encontro pelo Super Papo. Até a voz em off está esfuziante.

E a glória atinge o píncaro quando ele chega ao boteco escolhido pelo telechat. É a mulher dos seus sonhos. Em dois tempos ambos brincam de pega-pega na grama. Débeis de amor, giram de mãos dadas. E o veredito surge no GC: “Sua história pode ser igual a esta”.

TV trash, alguém julgará. Mas não se apresse em condenar, sofisticado leitor. Luis com a palavra: “Muitas pessoas pensam que vivo como no Super Papo e me escrevem dizendo ‘minha vida é igualzinha à sua!’. Ou, então, perguntam ‘o que você falou pra conquistar a menina?’, ‘o que eu tenho que fazer?’ e ‘o serviço do telefone é legal mesmo?’. É gente do Brasil todo”. E por que as pessoas se confundem, Luis? “Acho que isso acontece porque tentei fazer de uma forma bem realista. E talvez meu perfil também seja meio de nerd, franzino.” No YouTube, por exemplo, um dos comentários para o vídeo é: “Parabéns cara, vc encontrou sua cara-metade! Passei pela mesma situação, Vc é o CARA!”.

Até tu, Frota?

Acontece que não são apenas românticos frustrados em busca do amor verdadeiro que entram para o fã-clube de Luis Sandei. Veja o caso de Alexandre Frota, o maior autodeclarado fornicador do país. Ele também se comove com a saga televisiva que alça Luis da depressão à glória em um telefonema.

Sandei nos conta, sem falsa modéstia: “Fui fazer uma participação num quadro do programa da Eliana e o Frota estava lá. Estávamos ensaiando as cenas e ele parou tudo pra dizer: ‘Escuta, você não é o rapaz daquele programa de chat?’. Ou seja, até ele assistiu. E vários outros artistas nos corredores do SBT também falaram comigo porque me reconheceram. O Super Papo hoje atinge todo mundo, todas as idades e classes. Por mais que critiquem, as pessoas assistem”.

“Por mais que critiquem, as pessoas assistem. Acho que a sociedade em geral é romântica. Porque para assistir a um comercial desse tem que ser romântico”

Teoria comprovada por números. Informações de corredores da TV, de fontes que preferem o anonimato, garatem que o rendimento do telechat, administrado pela empresa Tecnet, cresceu muito após o comercial ir ao ar. Dos aproximados 70 mil por mês que lucravam antes do anúncio, passaram a cerca de 200 mil por mês no primeiro mês de reclame e, hoje, estabilizou um lucro de 100 mil por mês apenas com as almas sensibilizadas pela história a que Sandei deu vida. E tudo isso com custos de veiculação beirando o zero... É que Amilcare Dallevo, um dos donos da Rede TV!, é sócio da Tecnet.

Paixão Nacional

Engana-se quem pensa que Luis é astro de um comercial barato apenas. Ele é mestre em artes cênicas, professor de teatro e dono de seu próprio grupo, a Cia. Sandei, com a qual monta e dirige todo ano a Paixão de Cristo de sua cidade natal, Tietê. Já emprestou seu talento para web-novelas como Molho madeira. Ou ainda As crônicas de Xaropinho, um obscuro média-metragem em que estrela o rato fantoche do programa do Ratinho.

Xaropinho, no caso, é um grande parceiro de Sandei. Ou, melhor, Eduardo Mascarenhas, que, além de dar voz ao tal rato falante, é o diretor por trás do comercial que levou Sandei ao estrelato. Ou seja, grosso modo, o Super Papo é dirigido pelo Xaropinho. Mas a primorosa direção explicaria o sucesso?

Perguntamos a Luis: não é todo comercial da madrugada que tem toda essa repercussão. Por que esse em especial se tornou uma febre nacional? Ele se abre: “Acho que a sociedade em geral é romântica. Para assistir a um comercial desse até o fim tem que ser romântico”.

Ainda assim, uma dúvida assola sua mente teatral. “À noite as pessoas estão mais solitárias e assistem, mas não consigo entender como esse comercial está dando certo em outros horários. Agora passa também na hora do almoço, de manhã cedo... Parece que está havendo uma inversão de público.”

Super-Sandei

Mas um horizonte nebuloso se anuncia para os fãs do comercial que passa em loop: o contrato do comercial do Super Papo com os atores e toda a equipe está às vésperas de vencer. Voltarão a reinar na televisão brasileira os Bonners, Gugus, Faustos e pastores apenas? Talvez não. A ideia é renovar o contrato e gravar uma continuação da mininovela. Agora Luis será um super-herói. Advinhem quem: o Super Papo!

“Como eu me dei bem na história, vou passar a ajudar os outros. Estamos pensando em uma cena no cinema, por exemplo. Vai ter uma pessoa triste vendo o filme sozinha, aí eu apareço na tela e ela diz: ‘Olha! É o Super Papo!’. E eu vou ajudá-la.”

Do alto de seu currículo e sucesso, dê uma dica a seus colegas. Como se dar bem nas telinhas? “Pra estar no ar tanto tempo é preciso ser bonito, contagiar os outros e contar uma boa história.”

Entendeu agora, Bonner?

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Assista o comercial mais romântico da madrugada:

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