A arte de imitar instrumentos com a boca
Quem não se lembra dos barulhinhos que um dos personagens policiais do filme Loucademia de Polícia fazia com a boca no inicio do filme? Bom, esses barulhinhos têm nome e são até considerados uma arte, chamada Beatbox.
O Beatbox começou nos guetos de Nova York no início da década de 80. O principal difusor da arte de imitar instrumentos com a boca foi Biz Markie (na foto, acima), rapper das antigas que foi responsável pela divulgação do Beatbox com a música Vapors. Mas o primeiro fenômeno foi Doug E. Fresh, apelidado de Original Human Beatbox. Uma de suas músicas, Ladi Di Da Di, foi regravada por Snoop Dogg em seu primeiro álbum, Doggstyle. Outro grupo de rap de meados de 80 que incentivou e divulgou a prática do Beatbox, foram os caras do extinto Fat Boys.
Nos anos 90, não havia ninguém que representasse o verdadeiro Beatbox. Para preencher esta lacuna, Rahzel (na foto abaixo)apareceu marcando a evolução do gênero com o lançamento do trabalho solo Make The Music 2000. A faixa All I Know é a mais conhecida - talvez porque o cara imite direitinho a voz do mestre James Brown e também por ser a única faixa que já tem clipe. Conhecido por ser The Godfather of Noyze (O Poderoso Chefão do Barulho), Rahzel é integrante do The Roots e o primeiro cara conhecido depois de Doug E. Fresh, que se dedicou a aperfeiçoar o dom de imitar instrumentos e outros sons com a boca.
Em Make the Music 2000, Rahzel conta com a participação de Q-Tip (membro do A Tribe Called Quest), Scratch (que veio para o Brasil com o grupo no Free Jazz de 99 e também pratica o Beatbox) e do baterista, mentor e black power do grupo, o uestlove.
São Paulo, a capital do rap brasileiro, reuniu Rahzel, Fernandinho Beatbox e MC Speed, Mamelo Sound System, SNJ e PossementeZulu, no evento Hip Hop Experience, no SESC Pompéia, em dezembro. Apesar de não ser muito difundido no Brasil, o Beatbox já tem como Black Alien, do Planet Hemp. Fernandinho Beatbox, do grupo Záfrica Brasil, esteve no SESC para mostrar que aqui também tem gente que domina a parada. Pratico desde criança, é um dom. Na época ficava imitando barulhos de vídeo game e nem sabia que isso se chamava Beatbox, revela.
Rahzel trouxe o DJ Js One, vice campeão do ITF ( um dos mais importantes campeonatos de DJ do mundo), que mandou bem na hora que houve o duelo entre suas pickups e a garganta de Rahzel. Os dois se acabaram e provaram o porquê de tanta consideração. Segundo Fernandinho, no segundo dia do show até fiquei sem graça. Mas o Rahzel só tem uma linha de baixo e não trabalha o ximbau (pratos que marcam o relógio da batida) nas músicas. Além de ter deixado o público brasileiro de boca aberta, Rahzel ainda imitou Chaka Demus & Pliers e tocou Iron Man, do Black Sabath, fazendo os sons de voz, baixo e batera.
Atualmente existe a polêmica: o beatbox seria o quinto elemento do hip hop (os 4 elementos são: break, grafite, o MC e o DJ)? Alguns, como Fernandinho, acham que sim. Outros defendem a idéia de que é apenas uma qualidade ou virtude a mais do MC. Enfim, levantamos a polêmica e fomos saber a opinião de alguns representantes de cada elemento do hip hop, como KL Jay, DJ dos Racionais Mc's, B-boys do centro de SP, o rapper Sombra do grupo SNJ e Fernandinho, principal defensor da idéia de que o beatbox deve ser encarado como o quinto elemento da cultura
UM POUCO MAIS SOBRE FERNANDINHO
Quais são suas influências?
Fernandinho - Comecei a praticar Beatbox em cima de músicas do Michael Jackson. Era bem pequeno e minha mãe me achava maluco. Depois de um tempo comecei a ouvir outras coisas, como Fat Boys e Doug E. Fresh, que me inspiraram bastante. Só fui descobrir que os barulhos que eu fazia tinham nome quando estava indo para um jogo do Corinthians e os manos me explicaram que aquilo era Beatbox.
Como você faz para treinar?
Fernandinho - Trabalho em um lava-rápido, e enquanto limpo os carros treino sem parar. Tem gente que não entende e me acha maluco. Mas o ideal seria ter um bom equipamento para gravar a minha voz e ouvir depois. Também treino nos dias de ensaio com o DJ 1/2 Kilo que toca no meu grupo, o Záfrica Brasil.
Como você escolhe os timbres e instrumentos que quer imitar?
Fernandinho - Adoro o 509-E e fiz uma montagem em cima de uma de suas músicas, chamada Oitavo Anjo. Fiz versões dessa música em linhas de drum n' bass e ragga muffin. Normalmente escolho músicas que gosto. Quando faço Beatbox, me preocupo com detalhes como ecos e discos de trás pra frente.