por Luiz Alberto Mendes

O BBB ensina as pessoas a cuidar da vida dos outros, distraindo-as de suas próprias vidas

Paulo Lima afirmou que este é o século da ansiedade, eu já estou indo mais longe. Para mim é o século cuja característica principal é a psicopatia galopante. Estamos sendo blindados em nossa sensibilidade, nos tornando cínicos e passivos diante da crueldade. Só há interesse pelo outro quando esse outro dá lucros ou votos. O outro deixou de existir. O que existe é um objeto chamado de outro.

Criamos ou festejamos celebridades que possuem comportamento extremamente egoísta e individualista. O Big Brother não é isso? Não chama o público para assistir pessoas se digladiando por fama, objetos ou dinheiro? Ensina as pessoas a ficar cuidando da vida dos outros, distraindo-as de suas próprias vidas.

A concessão dos canais televisivos devia exigir que as redes trabalhassem em sentido contrário. As pessoas precisam ser levadas a pensar, a se interiorizar, sentir o que e quem são. Precisamos, urgentemente, prestar atenção em nós mesmos. Construir uma capacidade de autocrítica para nos enxergar e não deixar que nos enganem a nosso próprio respeito. Precisamos concentrar e não distrair e nos dispersar na vida dos outros. O que aquelas pessoas, que ali estão escolhidas, fazem que já não saibamos? O que nos ensinam? A sermos grossos, agressivos e colocar o sexo em primeiro lugar na escala dos valores? Já conhecemos essa parte demasiadamente.

Prisão não serve para muita coisa a não ser para fazer sofrer. Não protege a sociedade porque não reeduca. Os egressos saem e cometem atos piores do que aqueles que os levaram para lá antes.  

Mas tem exceções, exatamente para confirmar a regra. Alguns ensinamentos que valem para a vida toda. Bem, a primeira coisa que aprendemos é que não devemos voltar. Poucos têm condição de escaparem desta triste destinação. Não há o mínimo apoio. Muito pelo contrário; o que mais há é preconceito e exclusão social. Mas, mesmo lutando contra a corrente, alguns, entre os quais me incluo, nunca mais voltarão. Creio que o segundo aprendizado é não cuidar da vida dos outros. Isso de ficar de olho na vida alheia na cadeia é quase suicídio. Só para kamicases. Quase tudo que tem relevância é clandestino na prisão. Fiscal da vida alheia é muito mal visto. Geralmente é confundido com agente da polícia ou cagoeta e o fim é triste. Somente cuidando de minha vida com exclusividade é que estou conseguindo reconstruir minha vida. Se alguém precisar de mim, que me procure e diga. Não vou procurar saber da vida de ninguém.

Ainda bem que acabou mais um BBB e não precisarei escrever mais sobre isso por um bom tempo.

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Luiz Mendes

31/03/2010.             

 

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