Youssef: ”pobres e negros morrem nas periferias em nome de uma segurança hipócrita”
Não dá para refletir sobre qualquer questão da vida sociocultural de São Paulo sem lembrar que jovens pobres e negros estão sendo mortos nas periferias das cidades em nome de uma segurança mentirosa e hipócrita
Todas as vezes em que a sociedade caiu em regimes de exceção em busca de uma pretensa “segurança institucional”, o efeito colateral foi devastador. A pseudossegurança das ditaduras, tolhendo as liberdades, por exemplo, só gerou mais e mais insegurança, fosse institucional, fosse para os próprios cidadãos.
O estado de São Paulo tem convivido exatamente com a experiência da busca pela segurança tolhendo liberdades. A política de segurança pública adotada na última década é uma vergonha que faz lembrar os piores períodos da ditadura militar. Todos os dias verdadeiras milícias armadas exterminam jovens pobres e negros nas periferias, proíbem a liberdade de ir e vir com toques de recolher e abrem guerra contra um inimigo invisível, fruto da incompetência do próprio Estado diante dos problemas sociais e policiais.
São números de guerra. São massacres várias e várias vezes repetidos e sem a mesma visibilidade que a mídia dá às tragédias dos sociopatas americanos nos lamentáveis tiroteios em colégios. Tudo isso para gerar a sensação de segurança nas elites e nos setores da classe média que decidem as eleições do estado mais rico do Brasil.
Abra os olhos
Quando o grande artista Mano Brown, em um debate sobre cultura durante a última campanha eleitoral municipal, fez questão de falar que, antes de se debater a política cultural para a periferia, era preciso parar com o extermínio dos jovens pobres e negros, ele abriu os olhos de muita gente. Confesso que os meus também. Desde então, não consigo mais refletir sobre qualquer questão da vida sociocultural sem lembrar que jovens estão sendo mortos em nome de uma segurança mentirosa e hipócrita.
Não há segurança de verdade sem a plena liberdade. O resto é balela e está em segundo plano. Que 2013 sirva para abrir os olhos de toda a sociedade para esses gravíssimos acontecimentos. Não podemos ser cúmplices dessa vergonha.
*Alê Youssef, 38, é criador do Studio SP e do Studio RJ, um dos fundadores do site Overmundo e presidente do Bloco Acadêmicos do Baixo Augusta. Foi coordenador de Juventude da prefeitura de SP (2001-04). E-mail: alexandreyoussef@gmail.com/Twitter: @aleyoussef