O evento de premiação, que encerra a cada ano o movimento Trip Transformadores, não acontece no fim do ano, numa noite de novembro, por acaso. Foi mais do que natural, ainda na primeira edição, oito anos atrás, perceber que a vocação da ideia era de algo que completa um ciclo para inspirar outro que vem colado e cheio de inspiração.
Em 2014, de forma muito especial, a celebração do dia 5 de novembro, cuja cobertura é mostrada a partir da página 86, se revestiu de importância além da normal. Ela funcionou como forte antídoto contra um sentimento de frustração que surge daquilo que poderia ser chamado de “síndrome da arremetida”. Um fenômeno que parece perseguir todas as decolagens que nosso país ensaia. Um famigerado sentimento de retrocesso que derruba os movimentos de avanço conforme eles vão se desenhando e ganhando forma concreta. Nos jogos de tabuleiro, são aqueles temidos espaços onde se lê “volte dez casas”.
A leitura dos jornais dá a medida desse retrocesso. A cada dia se revelam mais e mais estratagemas de corrupção em níveis, valores e graus de desfaçatez que só expõem nossa incompetência atávica para o gerenciamento minimamente civilizado de um país. E não vai aqui nenhuma crítica dirigida a este ou aquele partido, a esta ou aquela equipe de comando ou candidato, vencedor ou derrotado. Infelizmente, em que pese o clima lamentável que tomou conta das últimas eleições presidenciais (abordado nesta revista no mês passado), o problema é suprapartidário, se espalha sobre uma linha de tempo mais ampla e vai bem além dos indivíduos e organizações que estão no centro do palco.
E, exatamente por isso, pessoas como as homenageadas no Trip Transformadores cumprem um papel fundamental para manter o organismo coletivo brasileiro íntegro, forte e capaz de seguir em frente. Elas são imagens vivas apontando na direção de caminhos que neutralizam aquilo que nos corrompe e nos vitimiza como sociedade. Assim, por razões que vão muito além da data de dezembro impressa na capa da nossa publicação (época que comumente simboliza o fim e prenúncio de recomeço), esta edição da Trip foi angulada na direção de observar nossa estranha e fundamental capacidade de adaptação e superação de dificuldades.
Uma pulsão que nos move adiante e nos dá a capacidade de encontrar novas vias diante de tudo que parecia prejudicado. Uma mulher que retoma a liberdade depois de inúmeras passagens pela cadeia; um ator e cineasta que tenta se reerguer depois de 20 anos de dívidas e problemas sem fim; um rio que ainda procura vida mesmo que atolado em toneladas de lixo e descaso; uma atleta que encontra luz no que parecia irremediavelmente obscuro; um homem que, depois de demitido, se revela um cientista capaz de dar solução de graça a problemas que assolam o povo pobre (vale a pena ver o vídeo com a história de Augustin Woeltz, em bit.ly/augustinwoeltz).
Esta é uma edição sobre recomeço, para um país que merece decolar.
Paulo Lima, editor
P.S. Poucos dias antes do fechamento desta edição, recebemos uma grata notícia: a Trip conquistou o Prêmio Esso de Jornalismo 2014 na categoria Criação Gráfica em Revista. Pela terceira vez fomos escolhidos pela mais importante premiação do jornalismo brasileiro entre centenas de concorrentes. No total, somados os dois troféus conquistados pela Tpm, já são cinco prêmios. Além de agradecer a cada um de vocês que nos acompanham há 28 anos em todos os suportes de mídia, quero cumprimentar de maneira ainda mais especial a cada um dos membros da equipe que, no dia a dia, garante que continuemos inovando, surpreendendo e emocionando permanentemente ao longo de quase três décadas.