por J.R.Duran
Trip #227

J. R. Duran: ’Ter muitos seguidores nas redes sociais é a mesma coisa que ter muito dinheiro no Banco Imobiliário’

Se você registra tudo o que faz, o que come e o que vê e coloca no Facebook ou no Instagram esperando a aprovação dos outros, saiba que o que possui é areia que escorre nas mãos. Ter muitos seguidores nas redes sociais é a mesma coisa que ter muito dinheiro no Banco Imobiliário

Algumas notas de rodapé que podem, ou não, envolver a solidão.

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Nas redes sociais (Twitter, por exemplo), quando o número de posts de uma pessoa é muito maior do que o número de seguidores, o que fica é a certeza de que a pessoa está precisando, desesperadamente, chamar a atenção. Isso se chama solidão virtual.

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“Aprendi que é suficiente estar com aqueles de quem gosto”, disse Walt Whitman, o homem que escreveu Folhas da relva.

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Fazer compras, seja o que for, é um momento de interação. Mesmo que seja só com o vendedor. Comprar qualquer coisa no free shop, dentro de um avião, me parece ser um dos momentos mais solitários que alguém pode experimentar.

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Por outro lado, se você esta aí, registrando tudo o que faz, o que come e o que vê e coloca na rede esperando a aprovação dos outros (os inevitáveis likes e tal), acha que o número de seguidores aumentando faz de você uma pessoa popular e amada, saiba que o que você tem é ouro de tolo, areia que escorre nas mãos. Não pense que está acompanhada, está apenas sendo seguida. Ter muitos seguidores nas redes sociais é a mesma coisa que ter muito dinheiro jogando Banco Imobiliário.

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Não se engane, a solidão é um estado de espírito, e não existe momento pior do que se sentir só quando rodeado de gente. Não é à toa que é nas grandes cidades que o sentimento de solidão e fracasso é muito maior.

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Quem tem livros em volta está sempre em boa companhia. Pelo menos se tiver escolhido os livros certos. Assim como na vida exterior, é preciso saber escolher a companhia. Me diz com quem você anda e eu direi quem você é. Me diz o que você lê e eu direi quem é.

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“Perambulei solitário igual a uma nuvem” (I wandered lonely as a cloud) é como começa um dos poemas de William Wordsworth, um dos maiores poetas românticos ingleses. Ele se sentia feliz nesse estado.

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Lembro-me perfeitamente de três momentos em que estava só e, mesmo em condições de pouca segurança física, me senti extremamente feliz:

- Quando pus os pés pela primeira vez nas areia do deserto do Saara. A sensação de não ser nada, de não existir mesmo estando vivo, respirando e de olhos bem abertos era perturbadora.

- Quando encalhei o carro no meio de um rio na Etiópia, bem na trilha dos elefantes que, em poucas horas, voltariam para beber água.

- Quando tive de ficar sentado em um banquinho uma tarde inteira. Foi num check-point na Eritreia, rodeado de rapazes segurando AK-47 e esperando meu guia voltar com o salvo-conduto que tinha esquecido embaixo de uma pedra na porta de um mosteiro que tínhamos visitado horas antes.

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Ainda da série de frases feitas pela sabedoria popular e sempre esquecidas na hora do aperto: “É muito melhor estar só do que mal acompanhado”.

*J. R. Duran59, é fotógrafo e escritor. Seu Twitter é @jotaerreduran

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