Angústia do pau pequeno

por Henrique Goldman
Trip #214

Goldman: ”para aplacar a dor causada por nossa pequenez, os faraós construíram pirâmides”

Foi talvez para aplacar a dor causada pela percepção da nossa pequenez que os faraós construíram as pirâmides, Homero escreveu a Ilíada e Usain Bolt ganhou tantas medalhas de ouro

Pegue uma régua e meça o seu pau quando estiver ereto. Se for menor do que os 14 centímetros da média mundial, você provavelmente vai se sentir um bosta total e – abandonado por Deus como certamente já se sentiu mil vezes antes – vai se apavorar percebendo que mulher nenhuma (ou homem nenhum, se você for gay) vai se satisfazer com tamanha pequenez. Jamais. Olhando-se inconsolado no espelho, você provavelmente concluirá o óbvio: você não merece ser amado, está condenado a viver e a morrer só, incompreendido e pobre.

Se, ao contrário, seu pau for maior do que a média, você poderá respirar aliviado. Mas provavelmente esse alívio só durará alguns instantes. Segundo uma pesquisa feita pela Michigan University em 32 países, 87% dos homens se julgam insatisfeitos com o tamanho do próprio pau. Apesar disso, num outro estudo realizado em 2005 nos Estados Unidos, 93% das mulheres disseram estar “muito satisfeitas” com o tamanho do pau de seus parceiros.

Pode-se dizer que é inerente ao homem achar que o próprio pau é pequeno e, como atestam antropólogos, sexólogos e historiadores que se debruçaram sobre o tema, essa angústia em relação ao tamanho do próprio pau é tão antiga quanto a própria humanidade.

Insignificância
Nossos paus – pequenos, médios ou grandes – personificam nossa absoluta insignificância, nossa vulnerabilidade em um mundo que nos amedronta e nossa inevitável mortalidade. É, talvez, para aplacar a dor causada pela percepção dessa pequenez que os faraós construíram pirâmides, que Homero escreveu a Ilíada, que Napoleão invadiu a Rússia e Usain Bolt ganhou tantas medalhas de ouro.

Talvez, se não achássemos nossos paus tão pequenos, ainda viveríamos no topo de árvores e jamais nos preocuparíamos em inventar aviões, antibióticos e internet. Talvez o homem se origine de um macaco que um dia olhou, angustiado, para o próprio pau.

*Henrique Goldman, 51, cineasta paulistano radicado em Londres, é diretor do filme Jean Charles. Seu e-mail é hgoldman@trip.com.br

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