Procuramos conhecer os defeitos e falhas dos outros para que possamos conviver com os nossos
Algumas Reflexões.
1) Vivemos, em ultima análise, encarcerados em nossas mentes. O que temos feito de efetivo é que procurar tornar esse ambiente confortável e possível de se viver.
- x –
2) Tenho quase certeza de que procuramos conhecer os defeitos e falhas dos outros para que possamos conviver com os nossos. Sozinhos com nossas vicissitudes, acho que não suportaríamos a autocrítica.
- x –
3) Vivi preso, cercado de desejo imenso de deixar de existir; em permanente corpo a corpo com a vida e a prisão para encontrar ou criar motivações que significassem a existência. Anunciava com os olhos que seria perigoso aproximar. Por dentro implorava que alguém tivesse coragem, desrespeita-se a placa de “afaste-se” e fosse fundo, me descobrisse e fizesse de mim seu achado.
- x -
4) Na verdade estamos loucos para nos transportar para outras vidas; escapar das rotinas massacrantes que nos cercam por dentro e por fora. Estamos seduzidos pela idéia de aventura. Por dentro sabemos que somos transgressores e que nosso autocontrole é precário. Tudo o que queremos é acelerar a vida em busca da fantasia, sem ter que pagar o preço. E, cá nesse nosso mundinho, isso não existe. Tudo tem seu preço, nada é gratuito.
- x –
5) Vivemos qual não fossemos o sujeito de nossa história. Delegamos poderes e nos desresponsabilizamos ao ponto de só percebermos nosso envolvimento em todo o processo social quando somos atingidos mais diretamente: no bolso. Quando o governo (que achamos que são donos dos problemas) seqüestra nossa poupança (vide Plano Collor), quando perdemos o emprego, ou quando há um golpe na bolsa de valores e perdemos nossas economias no mercado de capitais. Então, e somente então, passamos a, dolorosamente, nos envolver com a história que é de nosso tempo e nossa também.
- x –
6) A insegurança quanto ao futuro em uma economia instável e alavancada através endividamentos, provoca reações desequilibradas que aprofundam ainda mais a crise da sociedade contemporânea. Queremos viver intensamente o amanhã abrindo a vida e a alma para o momento presente, fazendo de tudo para esquecer. Ou assumimos posturas hiper defensivas para reduzir nossa vulnerabilidade, travando todos os fluxos e a vida para o presente, objetivando um futuro menos ruim. Existe alternativas? Do que aprendi em termos de experiência existencial, ficou que as alternativas, assim como as opções, só acabam quando deixamos de procurá-las.
- x –
7) Nossa noção de coexistência é bastante precária. Diante qualquer situação de crise, esperamos para ver o que acontece com os outros. Só depois de saber o que acontece e no que vira é que tomamos atitudes que vão implicar em soluções coletivas. Quando o vizinho perde o emprego, apenas nos preocupamos. Mas somente quando nós também ficamos desempregados é que tomamos atitudes. O outro é transformado em objeto, fonte de informação do que pode ou não acontecer conosco. O que acontece com ele é apenas referência. Somente importa o quanto doeu ou fez sofrer para nos prevenir. O outro em si e sua dor não é sequer levado em consideração. Ele não existe, virou objeto.
- x –
8) Hoje li no jornal que a economia americana deve 350% de seu PIB, ou seja: duas vezes e meia longe de sua capacidade de saldar a dívida. Qual de nós, pessoalmente, poderia viver devendo tanto na sociedade contemporânea? Faríamos como fazem os governantes do mundo; jogaríamos a dívida para o futuro? Seria possível jogar para nossos filhos, netos e bisnetos; teríamos essa coragem? Ou nossa orientação sociocultural de acumular para que nossos descendentes tenham uma vida melhor prevaleceria?
- x -
Luiz Mendes
24/08/2009.