Galã da Globo, ator pornô, pit bull... Quem é o símbolo sexual mais gauche do país?
Há quase 30 anos na ribalta, o ator galã, ator pornô, chefe de torcida, produtor, MC de funk, diretor de TV e, agora, jogador de futebol americano faz de tudo para não caber em rótulos. Exceto um: o de fissurado em sexo. Do alto de seus 48 anos de noitadas, ele abre o coração à Trip: “preconceito é algo que me persegue a vida toda”
Aos 48 anos de idade convém ao homem reavaliar sua vida. Refletir se tomou as decisões corretas como adulto, como marido. Vendo a não distante melhor idade, ele põe na balança o saldo entre o tempo e a renda. Seria sadio ao sujeito de quase meio século que reconsiderasse hábitos alimentares. Uma previdência privada seria de uma sensatez salomônica – e é exatamente isso que tantos nesse capítulo da vida fazem. O que ninguém faz é chegar aos 48 anos meses depois de largar uma noiva no altar, juntar-se a um time de futebol americano sem qualquer experiência no jogo e decidir fazer sua 38ª tatuagem com o símbolo da equipe: um rolo compressor. Ninguém! Exceto nosso entrevistado, confirmando a regra de improváveis decisões que pontuam toda a vida dele... Alexandre Frota.
Oficialmente ele é ator. Mas, como qualquer brasileiro sabe, a profissão é pouco para definir tal personagem. “Tem ator que é personalidade. Tem personalidade que é ator”, ele explica. “Eu sou uma personalidade que é personalidade”, conclui, citando a definição que Boni, o ex-todo-poderoso da Rede Globo, deu a ele há muitos anos nos corredores da emissora. Naqueles dias, Frota era “apenas” um ator. Mas já era apontado como um potencial garoto problema dentro da mídia de massa. Os diretores da Globo temiam estar criando, segundo Jaime Monjardim, “outro Mário Gomes”. Ele sim um problema corporativo na TV. Indisciplinado, foi Mário quem inaugurou um tipo de galã brasileiro. “O galã sem camisa”, explica Frota, que, após a expulsão de Mário, também deixou o peito nu em rede nacional para se tornar o segundo na linha sucessória.
Foram sete novelas, um casamento com Claudia Raia, uma minissérie, peças de teatro muito bem-sucedidas e a boa vida de galã global que só os anos 80 poderiam dar a um bem-dotado e insaciável rapaz. E saciedade, principalmente sexual, foi algo que o tempo decididamente não deu a Alexandre Frota. “Não tem nada que eu goste na vida mais do que sexo.” Esse foco na gandaia foi o que, de certo modo, moldou sua personalidade, seu corpo e, principalmente, sua reputação. Mesmo depois de tantos trabalhos na dramaturgia televisiva e teatral, há anos que Alexandre Frota é sinônimo de sexo. Muito sexo.
Desde que saiu de seu último papel na Globo, em Malhação, em 1995, Alexandre foi adubando sua persona cheia de marra, tatuagens e mulheres lascivas ao seu lado. Um ou outro papel em minissérie na Bandeirantes ou Record era currículo muito menos importante do que o sexual. Acumulava noites e inúmeras capas de revistas masculinas. Era citado por uma ou outra modelo como “a melhor noite da vida”. Nada, no entanto, que sustentasse a mesma fama dos anos 80, começo dos 90. Até que, em 2001, Frota chegou aos píncaros ao ser confinado por Silvio Santos na primeira edição da Casa dos Artistas. Naquele ano, o carisma, a figura corpulenta e sua absoluta falta de papas na língua deram ao programa índices inéditos de audiência. Pela primeira vez o SBT batia feio no Fantástico, aos domingos. Pela primeira vez o Brasil descobriu que amava reality show. E descobriu que amava – ou odiava – Alexandre Frota.
O programa acabou, e ninguém mais pensava no Frota de Roque Santeiro. Ficou a imagem do bad boy erotizado e controverso da Casa dos Artistas. A Globo não o chamou de volta. Silvio Santos sim... Escalou o ator para um papel em Marisol. E novelas, como sabemos, não é algo que o SBT saiba fazer. “Vacilei”, resume. No ostracismo, e frustradíssimo ao ver a nova cultura de celebridade pela TV, Frota viu a saída justamente em seu esporte favorito. Sexo. Muito sexo.
Sem pedir conselho a ninguém, bateu na porta da produtora de filmes pornôs Brasileirinhas. Incrédulo, o dono foi convencido por Frota no mesmo dia. Pagou ao ator R$ 500 mil, quantia inédita nos padrões nacionais, e o escalou para cinco filmes, nos quais Frota seria a estrela – e daria conta de cinco mulheres em cada um. A imprensa tinha, de novo, um banquete na conta de Alexandre Frota. Fez 14 filmes pela produtora. Sucessos de vendas como Onze mulheres e muito pó e O especial de Natal do Frota lhe deram dinheiro e um novo papel midiático – defender a indústria do sexo contra qualquer hipocrisia. Fez até um filme com o travesti Bianca Soares.
Essa vida de pornstar foi de 2005 a 2009, quando encerrou sua empreitada pornográfica para ser convertido em diretor de TV pelo bispo Edir Macedo. Mas, um ano depois, a relação está desgastada. O estilo Frota não combina muito com os evangélicos bastidores do canal 7. Ainda tem contrato, mas não tem feito nada na emissora desde que foi afastado da coordenação de A Fazenda 3. E agora, beirando os 50 anos, o ex-chefe de arquibancada do Flamengo dos tempos de Zico juntou-se ao Steamrollers, time de futebol americano do Corinthians. Atleta dedicado, diz-se renascido pelo esporte e ajudou a equipe a chegar à semifinal do Brasileiro.
Frota concedeu a entrevista a seguir na casa de seu advogado. Despachado e de uma sinceridade irrefreável, transmite calma e simpatia na maneira como conta sua história – em contraste com a imagem agressiva, marrenta do Frota público, dos programas de TV, da gestão de bailarinas de funk. Ainda tem o sexo como sua atividade principal nessa existência e é em sexo que muitas de suas frases (e dias) terminam. Ainda se define como um pegador inveterado, apesar de estar novamente apaixonado. Ainda se diz um inimigo da camisinha, da caretice e do mundo “viadinho” que desabrochou em tempos politicamente corretos. Goste ou não de Alexandre Frota, saiba de uma coisa: ele não liga pra o que você pensa dele. Porque, em termos de pudor, Alexandre Frota é muito maldotado. Eis algo que, no fundo, é invejável.
Quando conto para as pessoas que vou entrevistar você para a Trip todo mundo tem uma reação forte. Ou acham ótimo, ou ficam indignados por te dar espaço. Por que tanto alvoroço?
Cara, eu tenho 37 tatuagens no meu corpo. E eu deveria tatuar a palavra “preconceito”. É uma coisa que me acompanha. Justamente porque não estou preocupado com o que vão dizer de mim. E, quanto mais você age assim, mais as pessoas querem dar palpite sobre o que você deveria ou não ter feito na vida. Sabe o que eu acho? Tem uma parte do mundo que é muito viadinha. Não tem nada a ver com ser gay, é no sentido de babaquice, frescura. Falam pra caralho de mim, mas não trocam de canal. Nego tem preconceito, mas me manda convite pro camarote de tudo que é evento. Para olhar para minha cara e pensar que já fiz filme pornô, que comi 2 mil mulheres, sei lá. E isso vira polêmica.
Mas você gosta dessa polêmica, de virar o centro das atenções?
Não é disso que eu gosto. Gosto é de fazer o que estou a fim. E quando enfio uma coisa na cabeça sou incontrolável. Mas odeio quando nego começa a me julgar, fazer discursinho moralista. Quando vocês disseram que queriam me fotografar de noiva, na hora eu pensei: “Puta que pariu, só eu pra fazer isso mesmo”.
Você não faz essas coisas por saber que vai ter reação forte do público?
Não é por isso. Só quero ver uma ideia executada, seja qual for o objetivo. Aí, se neguinho falar, tudo bem. O que me incomoda muito é esse preconceito. É dizerem o que eu tenho que fazer, o que deveria ter feito. Nessa foto de noiva, por exemplo, amigo vai me ligar e dizer: “Tu tá louco? Como é que tu tá de noiva na capa da parada? Tu tá jogando futebol americano no Corinthians, porra!”. Sou cobrado pra caralho...
Pela tua família também?
A minha família não fala nada. Se eu cismar, eu vou fazer e ponto final! Não adianta nem Deus falar pra mim. Desde muito cedo sou assim.
Você era um moleque problema?
Cara, não. Mas minha infância foi conturbada. Nasci na zona norte do Rio e aos 9 anos vi a separação dos meus pais. Meu pai foi morar em Copacabana, mas eu fui criado na zona norte, no asfalto casca-grossa, no morro do Macaco, Salgueiro. Mas também cresci nas areias de Copa, Ipanema. Mãe de um lado, pai de outro. Transitei nessas duas tribos, sabe? Foi um aprendizado esse vaivém pelo túnel Rebouças, e essa virou minha pegada pro resto da vida.
Que pegada é essa?
Nunca fiz análise. Eu mesmo fui me analisando. E voltando à infância acho que isso fez meu subconsciente desacreditar na coisa da família. Então virei bicho solto a vida inteira. Nunca trabalhei muito essa coisa, essa coisa de... sei lá...
Estabilidade?
É! Não que toda separação dos pais cause isso, mas com 9 anos? Traumatizou. Muitos dos meus casamentos não deram certo por isso... Se bem que não sei o que é “dar certo”. Isso muda muito de uma pessoa pra outra. Sempre digo que ninguém tem que casar, que tem que curtir a vida. Mas, dos amigos, fui o que mais casou.
Quantas vezes?
Cinco! E esse ano eu ia casar com a Dani Sperle. Eu praticamente deixei ela de noiva no altar. Tava a papelada montada, apartamento... Aí cismei e deixei a mulher, foi uma pancada muito grande pra ela. Mas faço o que meu coração e minha cabeça mandam. Sou um cara complicado.
E você planejava fazer o que da vida quando era moleque?
O sonho do meu avô era que eu fosse oficial da marinha. Até fiz a escola preparatória pra cadete. Meu tio-avô foi o Sílvio Frota, ex-ministro do exército. Eu adorava essa ideia de ser militar. Mas meu pai era produtor da TV Globo. E minha mãe era secretária executiva da UniRio, onde rolava teatro. Depois de um tempo fiquei meio divido entre essa coisa militar e o teatro.
E quando você viu que seria ator e não milico?
Com uns 17 anos. Eu não tinha grana, mas ganhei uma bolsa para estudar no Tablado e entrei na classe do Carlos Wilson. Ele foi o mentor de toda uma geração de atores no Rio. Malu Mader, Felipe Camargo, Maurício Mattar, eu... Ele já tinha preparado Andréa Beltrão, Pedro Cardoso, André di Biase... E todo mundo que trabalhava com ele se dava bem!
E como foi sua estreia no palco?
É uma história louca... Eu nunca tinha feito uma peça de teatro, e li que o Sérgio Brito, ator e diretor, estava precisando de homens no meu estilo para fazer figuração nas óperas do Municipal. Eu falei: “É pra lá que eu vou, brother”.
“Depois do Mário Gomes, quem ficou sem camisa em novelas fui eu! Hoje virou uma escola”
Ópera?!
Fiz duas óperas! No Guarani fiz um índio e no Don Giovanni, um soldado. Era no Teatro Municipal, onde você ensaiava todo dia, tinha preparação de corpo, preparação vocal, posicionamento de palco, luz... Um grande curso sem pagar nada. Mas, ao mesmo tempo, eu não tinha largado a rua, esse meu outro lado suburbano.
Por exemplo?
Sou fanático pelo Flamengo. Minha mãe ficava muito preocupada. Eu cheguei a ser diretor da arquibancada da Torcida Jovem do Flamengo. E peguei toda a carreira do Zico, acompanhava o Flamengo pra tudo que era lugar.
E foi o auge do time, não?
O auge! E pra você ter ideia, fui preso no Mineirão naquela pancadaria do Atlético e Flamengo em 83. Um negócio terrível e inesquecível. Aí me desliguei porque eu já tava jurado de morte por todas as torcidas, do Vasco, do Fluminense.
Aí sua vida ficou mais focada no teatro mesmo?
Foi isso. E foi mais ou menos nessa época que eu parei com a arquibancada que fiz a Capitães da areia. A peça fez um sucesso avassalador no Rio. E as pessoas de teatro são mais paz e amor, com certa liberdade. No teatro você aprende a dar beijo no rosto de homem, a ficar abraçado com todo mundo, desembaraçado na vida. Eu saí um pouco de dentro daquele garoto militarista, suburbano. E nessa época eu conheci a cerveja, cara. Aí fodeu.
Até então você nunca tinha bebido?
Eu era o cara mais careta do mundo até os 20 anos. Naquela época a maconha rolava solta, e ninguém fumava na minha frente porque não era a minha. Até que tomei uma cerveja em Garopaba. Estava com o André di Biase e o Ricardo Graça Melo. Aí decidi tomar um gole e vi que no terceiro copo eu fiquei meio louco.
E gostou?
“Caraca, a parada dá uma onda. Eu vou passar a tomar cerveja!” Aí passei a beber cerveja que nem água. E por isso que eu falo que a cerveja é a porta de entrada pra todas as drogas.
Você experimentou de tudo depois?
Eu usei todos os tipos de drogas. Maconha, cocaína. Ácido eu tomei uma vez. Tomei cogumelo. Muito ecstasy! Só nunca apliquei nada. Mas eu faço essa campanha aqui: o álcool me levou às outras drogas.
E como parou na rede Globo?
Eu era franco atirador. Tu não faz ideia de como eu queria entrar na Globo! Eu ia com o Maurício Mattar todo dia pra porta da TV. Ficava parado, olhando, falando assim: “Pô, Maurício, ainda vou entrar nessa parada”. E mesmo meu pai sendo produtor da Globo eu nunca tive moleza. Até o primeiro teste pra novela das seis. Passei.
E como foi isso, de sair do teatro e cair em novelas?
Foi foda. Até porque sofri um baque, porque o meu jeito na Globo lembrou muito o Mário Gomes. E ele já tinha tido uma treta grande ali dentro. Nunca esqueço: o Jaime Monjardim era diretor da minha novela das seis, a primeira que fiz. Eu tava escalado pra Roque Santeiro, sentado no corredor da Globo, e o Jaime, do meu lado, falou: “Você tá indo pra novela das oito, mas não vamos criar um outro Mário Gomes aqui dentro!”.
O que isso significava?
Que ele achava que eu poderia criar problemas pra gravar, chegar atrasado, não querer contracenar com essa atriz. O Mário tinha umas paradas fortes. Se falasse “pô, só vou gravar às quatro da tarde”, ele só ia gravar às quatro da tarde! Não tinha jeito. Tem algumas histórias dele tipo chegar na gravação, a Fernanda Montenegro esperando, e ele chegar de sunga, pé cheio de areia.
“Se tem uma coisa que sei fazer é sexo! Pego de jeito. Aí, mermão, a mulher não esquece!”
E você era indisciplinado?
Pelo contrário, sou muito sério com negócio de horário. O meu problema só era com o texto. Querer mudar tudo. E, pô, tu mudar o texto do Lombardi é foda. Mas minha personalidade sempre foi muito forte, e as coisas que eu fazia geravam o que eles queriam.
Geravam o quê?
Audiência, né?! É o seguinte: depois do Mário Gomes, quem ficou sem camisa em novela fui eu. Ficava sem camisa, só de calça jeans andando pelos cenários e fazendo merda, meio engraçado. Depois veio o Humberto Martins. E o Marcos Pasquim. E agora já tem uma escola desse personagem que sempre funciona. Não tem erro. Tu não precisa nem ser bonito, tem que ter o físico bacana e um pouco de humor.
E você gostava de ter esse papel mais sexual na TV?
Cara, nunca tive problema com isso. E acho que as pessoas sempre me viram muito com esses olhos. Eu devo ter cara de sexo.
Sempre foi assim?
Sempre fui pegador, mulherengo. Não tenho problema em falar. Se eu não estiver namorando e sair à noite, não volto sozinho nunca. E nego acha que eu só quero comer as gatas. Cara, pego a que der vontade. Sou um admirador. Adoro loira, mulata, preta, gordinha, ruiva. Eu gosto de mulher independente de qualquer coisa.
E com quantos anos você começou sua vida sexual?
Muito cedo, atacava empregada com 12, 13 anos. Desde então foi sem parar. Não tem coisa que eu goste mais na vida. Se alguém me perguntar o que mais gosto de fazer, digo: “De foder”.
E sabe quantas mulheres já teve?
Não, nunca parei pra contar, nem quando era mais novo. Cara, saio com muitas mulheres diferentes. Muitas! Muitas! E eu não canso. Agora, por exemplo, estou com uma gata, totalmente apaixonado. Nesses períodos aí é uma só. Meus casamentos foram maravilhosos.
Mas não duram muito...
Fiquei casado com a Claudia Raia por seis anos. Mas hoje minhas namoradas sabem onde estão pisando. O problema é que as mulheres se apaixonam por mim muito rápido. Trato elas de um jeito que não imaginam. Dou carinho, presente, levo café na cama, coisas que são o Frota que ninguém vê. E também, se tem uma coisa que eu sei fazer, é sexo, entendeu? Pego de jeito. E aí, mermão, a mulher nunca mais te esquece.
Aí ele olhou e falou: “Porra, Frota...”. Eu falei: “Não tem porra, vou sem camisinha!”. Ele exigiu que eu fizesse os exames todos.
Você nunca tinha feito exames?
Nunca tinha feito exames... Aí pensei: “Quanta merda já fiz na minha vida, agora tô fodido…”. Fui no laboratório e o exame iria ficar pronto em cinco horas. Cara, foram as cinco horas mais loucas da minha vida. E pá! Tudo negativo! Hoje tenho mais de 30 exames.
E você não foi crucificado pelo mau exemplo?
Fui metralhado. No pornô americano é sempre sem camisinha, lá é chumbo grosso. Mas no Brasil não. Fui o talibã da Brasileirinhas. Mas era minha vida, minha saúde, o meu pau. Mas tive que fazer uma campanha. Todo filme meu, no início, falo pro cara usar camisinha. Então, é o seguinte, velho, se é pra ser viadinho, politicamente correto, então use camisinha, não faça como o Alexandre Frota. E cabô. E me deixa em paz com esse assunto, isso é um problema meu.
E como foi o primeiro filme?
A gente passou o fim de semana em uma mansão em Búzios. Minha exigência na hora foi a seguinte: eu não ia ficar parando para trocar de posição, mudar a cena. Falei pro câmera ficar filmando direto. Eu poderia ficar duas horas ali mandando lenha, faço as posições principais. Mas deixa eu foder a gata em paz.
E foi tranquilo pra você fazer na frente de toda a equipe?
Sossegado. Tem um segredo desde quando fiz os ensaios na revista G. A maioria dos homens que fotografam usa fotos, bate uma punheta pra ficar de pau duro. Eu criei uma situação que é a seguinte: pedia para a fotógrafa ficar sem a parte de cima, peito aparecendo. E também contratar duas gatas, facilitadoras. E aí, quando tava tudo pronto, faltando 5 minutos pra fotografar, eu chamava uma das meninas e punha ela pra mamar. É constrangedor para algumas pessoas? É! É andar na contramão? É! Mas minha vida é assim, tô abrindo o coração contigo.
E tuas performances sempre deram certo ali na hora H?
Só não deu certo com a Regininha Poltergeist. E, porra, gosto dela, é amiga. Mas parei e saí de cena. Não tava curtindo. A produtora tem essa cena trancada a sete chaves porque é uma cena ruim pra ela, ruim pra mim. No meio da coisa eu levantei e falei: “Galera, não vou foder não!”.
Ela ficou mal?
Ficou puta! “Pô, mas, Frota, e o contrato?” “Foda-se o contrato.” “Pô, mas e o cachê?” “Foda-se o cachê.” Ralei peito! Mas não tô desmerecendo ela. Foi da minha cabeça. Também foi difícil com a Rita Cadillac. Foi mais difícil com ela do que com a [o travesti] Bianca Soares.
É mesmo? E como foi fazer uma cena com um travesti?
Cara, tinha R$ 150 mil na mesa. O Luis, produtor, sabe como sou complicado. Então mostrou a grana e falou que eu só ganharia depois. Aí pensei: “Puta que pariu, me prostituí”. Mas, já que tô no inferno, vou abraçar o diabo. Topei, mas falei: “Vou pegar a trava, mas como se fosse uma gata. Não vou pegar no pinto, chupar, essas paradas. Vou pegar ela de jeito, como se fosse uma mulher”. Na hora a Bianca tava mais nervosa que eu. Fui lá e ganhei o cachê. É louco? Tudo bem, mas foi a vida que me levou pra esse caminho, e eu encarei.
E quando você fez esse filme sentiu ainda mais cobrança, preconceito?
Até hoje tem gente que fala: “Porra, Frota, você sai com homem? Você sai com travesti!”. Meu irmão, se isso na sua cabeça te dá tesão, então viaja nessa. Eu sei qual é a minha pegada. E eu sei que tem uma porrada de cara que é a fim de pegar uma trava! Só que, quando eu peguei, mostrei pra todo mundo, aí não tem segredo. Por isso nunca ouvi na rua um: “E aí, viadinho?”.
Para você, que se diz bom de cama, o que os homens precisam saber sobre as mulheres?
Não pode ser afobado. E eles precisam aprender a chupar elas. Essa é a crítica número 1. Outra coisa muito especial para uma mulher é ela dar a bunda. Ela não vai dar pra qualquer um. E a pior coisa que um pela-saco pode fazer é pedir.
E você acha, hoje, que essa fase te prejudicou de alguma forma?
Uma das coisas que me incomoda muito é que as pessoas se esquecem que eu fiz novelas, fiquei dez anos na TV Globo. Fiz cinco grandes peças de teatro, uma minissérie. As pessoas se esquecem... parece que comecei minha vida depois do pornô. Até hoje escrevem “segundo o ator pornô Alexandre Frota...”.
Não sei se elas esquecem, mas ficam chocadas por você ter trocado essa carreira por outra.
O céu pelo inferno? É verdade. Mas é hipocrisia. Pornô, aqui no Brasil, é assim: todo mundo vê, mas todo mundo critica. Mas tem uma coisa que ninguém percebe: que não foi uma mudança tão grande assim em relação ao que eu já fazia.
Não?!
Não! É igual quando comecei a tomar cerveja e depois passei para maconha, cocaína...Vamos analisar. Nas novelas da Globo, eu tava sem camisa, pegando as atrizes. Vamos considerar que isso é cerveja. Aí passo para a minissérie Boca do Lixo, que tinha cenas de sexo com a Sílvia Pfeifer. Essas cenas, no pornô, são “soft”. Ela sem calcinha e eu em cima, pelado, de pau mole. Mais pesado, então era tipo passar para maconha. Fiz quatro capas da G. Pau durão. Aí botei mulher, travesti, homem. Foi mais forte. Daí pro pornô foi um pulo. Entendeu? Sem camisa na novela, soft no Boca, capas da G... pornô, porra!
Mas tem um salto grande aí, né?
Fiz uma escolha, você pode seguir o caminho certo e reto, pode seguir o caminho torto cheio de curvas. Meu caminho é assim: já fui rico duas vezes. E fiquei pobre de novo. Caiu a casa geral.
Como assim?
De ficar sem trabalho, e fazer muita merda com dinheiro. Usar muita cocaína. Essas paradas.
Você chegou a desandar com o uso de drogas?
Cara, cheguei perto do fundo do poço com cocaína durante um tempo. Era uma merda. Perdi muito dinheiro, prejudica as amizades. Não chegou a afetar diretamente meu trabalho, mas foi muito ruim. Mas um dia eu decidi parar e parei.
Hoje você usa alguma droga?
Não. Porra nenhuma. E não teria problema nenhum em falar se usasse. Só cerveja mesmo.
E você queria voltar para a Globo?
Hoje não posso falar que tenho vontade porque tô na Record. Só não sei até quando. Eu acho que já tô ficando cansado da Record. E a Record está cansada de mim. Esse casamento tá desgastado. Tenho vontade de fazer outras coisas.
Que tipo de coisa?
Sou apaixonado por eventos. Eu estive muito colado com o Roberto Talma quando a Globo cobriu o Rock in Rio, Paul McCartney, Bon Jovi, Sting, Rod Stewart. Fiz vários Som Brasil. E na Record eu não tenho esse espaço. Gostaria muito de implantar esse núcleo na Record e não rola.
E novela, nunca mais?
Eu tenho vontade, mas pela minha cara hoje, pelas minhas tatuagens, eu queria fazer algo mais a ver com violência urbana, no estilo de um Carandiru, Tropa de elite. Eu acho que seria muito bom nisso.
E hoje você está começando uma carreira nova como jogador de futebol americano. Como isso aconteceu?
Foi ideia do Ricardo Trigo, o capitão do nosso time. Ele pensou em me convidar porque eu era a cara do esporte. Agressivo, explosivo, é um esporte de adrenalina, de alto impacto. E, apesar de tudo isso que eu já fiz, que a gente já conversou, filme, revista, novela, eu sou o estereótipo dessa parada! A direção do Corinthians apoiou, eu passei 40 dias fazendo testes... e rolou.
Então foi marketing deles?
Mais ou menos. Até porque teve um pessoal do Corinthians que não queria que eu fosse. Outra banda queria. É sempre assim, uma galera gosta, outra me odeia. Mas quando rolou eu jurei lutar vida e morte pelo time. Vou até mandar, tatuar nas minhas costas o símbolo do time. Não é só marketing, eu vou dar meu sangue.
E como tem sido a experiência de jogar?
Me fez renascer, me ajudou pra caralho. Tomei gosto de novo pela malhação, voltei a me alimentar bem. Fisioterapeuta, massagista, nutricionista, academia. E acho que minha entrada no time fez o futebol americano ficar mais conhecido no Brasil inteiro. E vou te falar: eu sou Flamengo, mas jogar no Corinthians é foda. Aquela torcida, mano, é uma emoção... aquela fumaça branca, fumaça preta. E os caras cobram de você como se fosse o último jogo da vida.
E os jogadores te respeitam?
Os adversários mandam pra mim dentro do campo: “E aí, Frota, tá comendo ainda o travesti?”, “E aí, Frota, já deu o cu no filme?”. Eu respondo com uma pancada daquelas violentas, 114 kg sem freio de mão.
Você se imagina mais velho? Sabe o que vai estar fazendo daqui a dez anos?
Cara, não tenho ideia... Eu tive uma vida tão louca, cheia de capítulos inacreditáveis. Se eu te contar a gente ia ter que fazer um livro.
Vai ver é isso que você vai fazer daqui a uns dez anos. Frota escritor...
Várias pessoas já vieram me falar isso... Eu sou um cara que pode falar coisas que ninguém falaria. Pô, eu fui da Claudia Raia ao travesti Bianca. Fazia muita noitada com o Cazuza, com o Tim Maia. Vou fazer 50 anos logo mais e fico aqui pensando: quem tem uma história dessa pra contar? Tem que rolar um livro mesmo.
Narciso Camaleão
O psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg analisa Alexandre Frota a partir da entrevista
Inicialmente, é importante notar que a interpretação do comportamento de um showman não significa analisar o indivíduo e sim o seu personagem. Muitas vezes se confunde a figura pública e objetiva do artista com a sua realidade íntima e subjetiva. Esse erro é alimentado pelos paparazzi e por certo sensacionalismo que se sustenta com fofocas, superficialidades e invasão da privacidade do mundo do espetáculo, numa sociedade que adrenalina o impacto, sacrificando a verdade.
Alexandre Frota já se tornou uma das figuras que se modelam e vão modelando maneiras de pensar e de se conduzir, merecendo, por isso, algumas reflexões a respeito do que se revela neste interessante trabalho jornalístico.
No livro O direito no divã, de Flávio Goldberg, um capítulo é reservado ao jogo de sedução e violência do masculino e do feminino, permitindo a compreensão do hibridismo do personagem Alexandre Frota.
“Virei um bicho solto a vida inteira” – Na realidade, é uma tendência em todo o mundo a opção solitária – volúvel, instável, sem vínculos afetivos sólidos, o medo do compromisso.
“Mãe de um lado, pai de outro” – Raiz de conflitos, imaginário e simbólico fraturados, guerra com o amor, ódio interno, autoestima prejudicada.
“Vestido de noiva” – No teatro japonês, frequentemente atores fazem o papel de mulheres, desrecalcando emoções que se confundem, causando muitas vezes sofrimentos e desencontros consigo mesmo e com o outro.
“Eu gosto muito de foder” – E amar? O sexo enquanto compulsão implica restringir a liberdade autônoma de escolha, transformando o indivíduo em objeto do desejo, expulsando o sujeito do desejo. O indivíduo TEM que fazer sexo, em vez de o INDIVÍDUO QUE PODE FAZER SEXO.
“Nunca ouvi um: ‘E aí, viadinho?’” – A contradição entre a aparente emancipação sobre a opinião alheia e o medo da condenação social.
Enfim, Alexandre Frota carrega no seu corpo e no seu espírito muito da modernidade, na angústia e na procura.
Boa sorte, artista. Cuide-se, arteiro.
Alexandre veste Casa das Noivas e Au Bottier