Aleluia, eleitores

por Alê Youssef
Trip #171

Pesquisa mostra que a igreJa mobiliza mais a juventude do que os grupos políticos

A recém-lançada pesquisa do Datafolha sobre o jovem brasileiro do século 21 cravou: no quesito participação social, o que mais mobiliza a juventude é a Igreja. A soma da participação em grupos políticos tradicionais (partidos, sindicatos e entidades estudantis) não chega nem perto dos 39% dos entrevistados que dizem atuar em entidades religiosas. Goleada.

Mas o que signifi ca isso? Claro que temos o desgaste da política tradicional: não existe algo mais chato para um jovem entre 16 e 25 (faixa etária da pesquisa) do que assistir ao horário eleitoral gratuito. A geração da informação instantânea, da diversidade e da criatividade não se vê representada. Mesmo os candidatos mais jovens caem nos velhos chavões.

Jesus underground
Por outro lado, cresce o número de igrejas temáticas: a Crash Church, por exemplo, acredita que Jesus era underground e libera os fi éis para se vestirem com roupas pretas e coturnos punk. Já a Bola de Neve Church aposta nas bermudas fl oridas, vestidinhos estilo praia, fotografi as de ondas e um altar com uma prancha de surf no lugar do púlpito. O fenômeno da diversidade de cultos tem como objetivo fazer os fi éis se sentirem bem, caprichando em ações estéticas, distantes de conceitos religiosos. Tudo para atrair o jovem.

Não acredito que a saída para a política seja se render à estética, como fazem essas igrejas pra agregar seus fi éis. Políticos com estereótipos jovens já foram eleitos e nada fi zeram de relevante. Usaram a música, o surf, o skate e um discurso cheio de gírias. O retorno para seus eleitores foi pífi o: apenas contribuíram para aumentar o descrédito.

Os candidatos de hoje não levam em conta o momento histórico e as características geracionais para pautar suas políticas para a juventude. Não falam, por exemplo, em um megainvestimento em inclusão digital, utilização de redes e comunidades de internet para aprimorar a democracia participativa, fomento dos games como forma de ajudar na educação ou criação de cursos profissionalizantes baseados na economia criativa. Pra piorar, os poucos órgãos voltados para jovens nos governos acabaram ou foram renegados ao terceiro escalão das máquinas públicas. Na Prefeitura de São Paulo, por exemplo, o atual governo rebaixou a Coordenadoria da Juventude, antes ligada ao Gabinete da Prefeita, para um departamento.

Falta conteúdo e ousadia para a política conseguir despertar o interesse do jovem. Não podemos deixar essa geração envelhecer cética e com ódio da política, refém do clientelismo eleitoral. Sem a participação do jovem de hoje, o adulto de amanhã estará condenado a dizer amém aos mesmos políticos de sempre.

Quem ocupará o poder no futuro?

*ALÊ YOUSSEF, 33, é sócio do Studio SP e um dos idealizadores do site www.overmundo.com.br. Foi coordenador da Juventude na prefeitura de São Paulo (2001-2004)

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