Estamos mais livres, leves, conectados, móveis, velozes e, principalmente, mais diversos

Caro Paulo,

Acabo de chegar de uma sessão de ginástica seguida de caminhada pelo bairro. Foi uma tirada de duas horas sem parar. As batidas do meu coração físico estão aceleradas e eu me sinto muito bem.

Agora vou fazer a coluna da minha preciosa Trip e, enquanto o corpo desacelera, os pensamentos se aceleram. Meu cérebro rapidamente começa a organizar as ideias sobre desaceleração para conseguir fazer este texto em duas horas, antes que comecem a chegar filhos, neto, mãe, sogros e amigos para o almoço de domingo, quando as emoções começam a se acelerar com as novidades, as discussões, as tristezas e as alegrias do coração emocional.

Depois do almoço vou dormir e perderei o controle sobre o ritmo de minha vida. Isto é, minha vida está sempre acelerada em algum sentido, exceto quando durmo.

Sexta-feira, depois de um dia normal, cheio de compromissos importantes e intensos, consegui sair do escritório em tempo de pegar Lili para assistir a Imã, o novo espetáculo do Grupo Corpo, uma dança linda em ritmo alucinante em que os bailarinos movimentam cada músculo, cada membro numa harmonia tão precisa e integrada com a melodia que o tempo pareceu voar, sem espaço para respirar.

Lindo e acelerado! Como pode ser qualquer vida quando vivida com o potencial de intensidade que nosso corpo, nossas emoções e pensamentos nos oferecem. No fim do espetáculo, os bailarinos estavam exaustos e felizes; a plateia, gratificada e feliz. Isso é vida no seu melhor, porque tem ritmo, beleza, realização, gratificação.

O desacelerar é bom porque, junto com o acelerar, nos proporciona o ritmo que não importa se é lento ou rápido, pode ser sempre belo e gratificante.

Ouço muitos conselhos para eu desacelerar minha vida.

Às vezes atendo a esses conselhos e saio de férias para desacelerar. Mas, na verdade, minha cabeça, meu coração e meu corpo não desaceleram. Mudam apenas o cenário e os personagens porque o meu ritmo vem de dentro de mim, não de fora, das circunstâncias.

Mais em menos tempo
Quando penso numa vida desacelerada, sempre me imagino com limites físicos de mobilidade ou limites mentais para raciocinar – mas que também não querem dizer nada porque, se eu estiver funcionando no limite desse potencial, aquele será o ritmo mais acelerado que eu conheceria.

Procuro entender o significado de vida acelerada para descobrir seu malefício/benefício e acho que está no “querer mais”.

Não apenas o “mais rápido” porque isso é gosto muito específico de quem gosta de velocidade. E não é o meu caso.

Mas o “querer fazer mais em menos tempo” é sedutor. Principalmente para quem tem agenda pessoal grande, como entender o que é esta vida, se conhecer e realizar todo o seu potencial para poder ir embora sem ficar devendo nada para este mundo e para sua época.

Nossa civilização está acelerando o tempo histórico.

Isso é fato e é bom. Estamos nos humanizando por meio da velocidade. Estamos mais livres, mais móveis, mais leves, mais conectados, mais informados, mais velozes e, principalmente, mais diversos.

Tem todos os estilos de vida para escolher.

O importante é não deixar que a matrix decida por você.

Acelerado e desacelerado é ritmo.

Acelerado ou desacelerado é estilo pessoal. Cada um decide, de dentro para fora.

Falta meia hora para o pessoal chegar para o almoço.

Meia hora para ler jornais, me envergonhar do nosso Senado e ver que temos muito para fazer. Fora, Sarney!

Um calmo e forte abraço do amigo,

Ricardo

*Ricardo Guimarães, 60, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é rguimaraes@trip.com.br

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