por Carlos Messias
Trip #273

Aos 30, a estilista Karla Pires se diz pronta para casar e investir em sua marca em Bali, onde posou para este ensaio. Mas ela não pretende se acomodar: ”A mulher nessa idade entra em estágio de fogo”

“Sim, já é outra viagem e o meu coração selvagem tem essa pressa de viver.” Este trecho de “Coração selvagem”, canção de Belchior, poderia muito ser o mantra da modelo e estilista Karla Pires. Desde criança, quando trocou sua Goiânia natal por Cuiabá (MT) e, depois disso, por Campinas (SP), ela aprendeu a não ficar muito tempo no mesmo lugar. “Minha mãe sempre mudou muito. E ela falava para mim: ‘Você tem que conhecer o mundo’”, conta Karla, por Skype, diretamente de Cantão, na China, onde passa uma temporada a trabalho.

Desde cedo, ela segue ao pé da letra o conselho materno. Aos 18 anos, foi morar sozinha em São Paulo, onde começou sua carreira como modelo, que conciliou com a faculdade de publicidade no Mackenzie. Em um estágio, ainda na área de marketing, teve o primeiro contato com a criação de moda – o que se mostrou um caminho sem volta. “Percebi que gostava muito mais de trabalhar com moda do que com publicidade.”

Com o canudo embaixo do braço, pisou fora do país pela primeira vez: foi para a Austrália estudar inglês. Longe de ser aquele caminho típico de recém-formada que, sem saber o que fazer da vida, vai passar um tempo no exterior, Karla tinha um objetivo muito claro: dominar o idioma para ser aceita na Esmod, em Paris, uma das escolas de moda mais tradicionais do mundo, onde se formou estilista em 2013.

Mesmo com 1,66 metro de altura – bem abaixo da média das modelos na Europa –, Karla procurou uma agência francesa, que apostou em seu rosto delicado e em uma carreira comercial para a brasileira. Deu certo: as viagens não pararam mais.

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Carimbando o passaporte

Passados seis anos, ela já morou em nove países (Turquia, Índia, Indonésia, Inglaterra, Espanha e Colômbia, além dos já mencionados Austrália, França e China), o mesmo número de tatuagens que possui no corpo. Uma delas, no dorso, traz em inglês: “Corações, promessas e amizade – três coisas no mundo que nunca deveriam ser quebradas”. “Dá um desconto, eu tinha 17 anos”, pede a modelo, que acrescenta: “Mas a mensagem é real, acredito nela até hoje”.

Aos 30 anos, a pisciana começa a sentir na pele as diferenças que traz a maturidade. “A mulher nessa idade entra em um estágio de fogo. Dizem que a vontade de fazer sexo aumenta. Ainda não cheguei a sentir mais desejo, mas me sinto mais à vontade com a minha própria sexualidade”, revela. “Também fiquei mais caseira, prefiro jantar com vinho a balada. Comecei a filtrar mais as amizades e os lugares que frequento. Passei a só gastar minha energia com o que vale a pena. E me tornei mais responsável com dinheiro, hoje penso no futuro.”

Além da carreira como modelo, seu foco está na marca Yaz the Label, que criou em 2016, em Bali, onde é confeccionada. “Minhas roupas seguem uma linha mais tribal, tipo o Burning Man [festival no deserto americano].” Outra certeza é o DJ sul-africano Clint Lee, que começou a namorar no ano passado.

Só gringo

Desde que deixou o Brasil, Karla não se envolveu com nenhum compatriota. “O homem brasileiro é muito player, não só na hora da conquista como durante o relacionamento”, avalia. “Eles também são muito possessivos. Ainda vejo isso pelos dramas que as minhas colegas que moram fora enfrentam com os namorados. São horas e horas de Skype para lidar com alguma crise de ciúme. Os caras querem saber nos mínimos detalhes o que rolou durante as sessões de foto. Se ficou de roupa ou sem, se algum homem participou do shooting”, conta. “Isso não é uma coisa que tem na França, por exemplo. Lá os caras não jogam verde pra colher maduro. E as mulheres são muito independentes. Apenas comunicam que vão fazer isso ou aquilo, nunca entram nessas de negociar.”

Karla conseguiria até fazer um atlas comparando o machismo em diferentes áreas do mundo. “É uma coisa cultural. Nos países onde a religião é muito forte, você vê que o homem é naturalmente mais machista. Na Índia, a mulher está sempre um nível abaixo. Os fotógrafos mantêm o nariz empinado e querem que a modelo faça exatamente o que eles pedem. Na Ásia e na Turquia, também sinto que não melhorou.”

Ela também explica como a misoginia limita sexualmente: “Nem todos os homens sabem lidar com o prazer feminino. São egoístas na cama, não procuram explorar e entender até onde vão determinados pontos [erógenos] da mulher. Vai passando o tempo e o homem perde a curiosidade por uma mulher, fica aquele negócio estagnado. Aí, quando você conhece o seu namorado seguinte, sente como se fosse uma virgem”.

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Quase hippie

A modelo sabe o que não quer e exatamente o que quer em um homem. “Tenho uma vibe meio hippie, não curto mauricinho nem caras muito materialistas. Também não gosto de modelo do tipo Ken, da Barbie. Gosto de meninos meio largados, que dividem todas as decisões com a mulher. Também acho importante ter bom humor.”

Predicados nos quais, segundo ela, o namorado Clint gabarita. Mesmo com a vibe hippie, Karla acredita em monogamia e enxerga um futuro sólido para o casal. “Meus pais se separaram muito cedo, não via o casamento como algo real. Todo mundo dizia: ‘Quando chegar a hora, você vai saber’. E quando conheci o Clint, de cara soube que seria ele. Na primeira semana, já falamos em casar e os nomes dos nossos filhos.”

No próximo verão europeu, terminada a temporada da modelo na China, eles devem ir morar juntos em Ibiza, onde ele discotecará em clubes locais e ela vai articular as vendas da Yaz the Label em lojas espanholas. Pelo menos até segunda ordem. “Quando fico em um lugar por mais de três meses, já quero me mudar de novo.”

 Agradecimentos: Toraja Bambu

Créditos

Imagem principal: Olívia Nachle

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