Muitas Mortes
Não acreditamos de fato que vamos morrer. A morte é sempre uma surpresa. Mesmo aqueles muito adoecidos ainda serão surpreendidos. Nunca será como imaginamos, não temos substrato de experiência para fundamentar. O inaudito nos espreita com olhos de vampiro. Nunca admitiremos que vivenciamos tudo que havia na vida para viver. Sempre esperamos algum movimento surpreendente ao longo das horas. Também, se acreditássemos realmente na morte, provavelmente não conseguiríamos viver de tamanha ansiedade. Tudo o que vivemos ia parecer um circo sem a mínima graça. Também existem aqueles dos quais não sobra quase nada de verdade para morrer. Quase tudo já se foi, viveu muitas mortes. Vi muita gente assim na prisão e os vejo agora apagadas, abandonadas nas ruas e praças das ruas centrais da cidade. Pouco resta; algo os devorou.
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Luiz Mendes
07/04/2011.