A pior das mortes e o pior dos medos

por Luiz Alberto Mendes

 

A morte Violenta

 

A sobrevivência é algo imperativo. Defender a vida é fundamental. Mas até a vida perde sua importância básica diante do maior de todos os medos: o medo da morte violenta.

Já me vi implorando para que me matassem. Pedindo que me dessem um tiro e acabassem de vez com todo aquele sofrimento. Vivi limites existenciais nas mãos de torturadores. Eles levavam até ao cume da dor e depois traziam de volta. Então o desespero fazia com que eu pedisse que me matassem logo. Eu os abençoaria, naquele momento, por esse bem inestimável; o alívio de morrer. A incapacidade de resistir à dor extrema fazia com que a vida deixasse de ter importância vital.

Ao pensar morte violenta logo se imagina a vivência de dores insuportáveis. Vi vários companheiros de prisão pendurados em cordas pelo pescoço. Imagino que o que os fizeram buscar o fim de forma tão trágica foi a violência da morte em vida que existiam.

Talvez coragem seja exatamente a capacidade de suportar qualquer tipo de violência e ainda lutar pela vida. Sobreviventes. Aqueles que atravessaram o desespero da dor, vivenciaram sofrimento extremo e conseguiram, ainda assim, conservar a pujança, a garra de viver. Quando perguntados como conseguiram, respondem: e havia outro modo? O contrário era a morte certa. Viver era preciso e continuei vivendo. Apenas isso.

Não são seres excepcionais como podemos imaginar. Esse trabalhador que ganha um salário de merda, mora muito mal e se alimenta pior ainda com todo seu povo. O operário que sai antes do dia clarear, chacoalha duas ou três horas em conduções lotadas, trabalha duro e volta todo dia, ano após ano, tarde da noite para casa.

Minhas homenagens àqueles que, apesar do medo da morte violenta, da dureza da existência e da vida sem sentido, conseguem conservar a vontade de viver e os valores da existência. Exatamente homenageio você que apesar de tudo, ama e tem cuidados com o outro.

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Luiz Mendes

14/02/2012.    

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