A nova música francesa em cinco selos

por Felipe Maia

Faz tempo que a França superou os clichês que o mundo conhece; essa lista dá os novos caminhos do que rola no país

O músico francês Serge Gainsbourg morreu no dia 2 de março de 1991. Desde então, a França ganhou mais uma tradição: homenagens póstumas de todo tipo ao artista. O que mudou no país nesses anos, contudo, foi a música. Por isso, que me desculpe o morto, mas por que ficar restrito a ele, Zaz e Daft Punk quando o assunto é música francesa?

No último quarto de século, o "hexágono" foi protagonista da ascensão do hip hop, da exportação da música eletrônica e da influência de ritmos de toda a África. Mais do que isso, o país viu o projeto das grandes gravadoras ruir como em todo o mundo. Nesse cai-não-cai surgem selos independentes que fazem muito com um orçamento pequeno.

Selecionamos abaixo cinco desses selos franceses que valem uma busca no YouTube ou em algum serviço de streaming. Mais do que fechar algum estilo ou gênero, essa lista te ajuda a expandir suas fronteiras franco-sonoras além de clichês como "Ne Me Quitte Pas".

Mawimbi
Em Paris é fácil encontrar gente de vários países da África. Mali, Senegal, Argélia, Congo, entre outros, são representados por práticas culturais que vão da culinária à música. Nessa mistura, o selo Mawimbi faz o papel de ponto de encontro entre ritmos regionais e balada.

O grupo começou realizando festas em 2013. Hoje, atua como selo sem perder o espírito gregário — nada de falar no singular. "Nossas músicas são ondas que permitem a transcendência de fronteiras e de diferentes culturas em volta de um fenômeno unificador: a dança!"

Ciente da presença cada vez mais forte de ritmos africanos na música francesa e mundial, o Mawimbi mantem-se fiel ao paradoxo da originalidade via tradição. "A gente se concentra nos artistas que tem uma relação forte com músicas eletrônicas, mas cujo trabalho está ancorado nas tradições musicais do continente africano e de suas diásporas."

 

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La Souterraine
Em francês, souterraine significa underground. Ainda que isso possa significar muita coisa em se tratando de música, som alternativo francês é o ponto forte da plataforma criada por Laurent Bajon e Benjamnin Caschera.

"O La Souterraine não é um selo clássico", diz Benjamin. "É uma nova forma que encontramos, algo entre curadoria, mídia e selo". Esse enclave nasceu há pouco mais de dois anos quando os então radialistas percebera que era preciso criar um espaço para a nova música em língua francesa.

Do folk ao metal — não dá pra imaginar, mas há quem faça gutural em francês —, dá pra encontrar de tudo um pouco nas compilações feitas pelo selo ou por aliados como zines e blogs. Em uma delas, tem até o Zico e o Sócrates na capa, mas nem os próprios fundadores do La Souterraine sabem o porquê disso.

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Howlin’ Banana Records
Criado em 2011, esse selo parisiense serve como ponta de lança do rock francês. Para fazer parte da lista do Howlin' Banana Records é preciso soar cru, garageiro, sujo ou psicodélico. E não importa o idioma das canções.

O que se escuta em compilações como Summer Sampler é um som próximo de gente como Mac DeMarco, The Cults ou Beach Boys — se eles tivessem nascido na época do MySpace.  

O selo hoje conta com ao menos cinco bandas que rodam os palcos e blogs alternativos franceses. É o caso do The Madcaps. Com álbum homônimo lançado em 2015, eles chegaram a listas de melhores do ano e partiram em turnê pelo país. Sem perder a onda, lançaram o disco Hot Sauce no começo de 2016.

 

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Roche Musique
O Roche Musique é a reserva moral do French Touch — o estilo de música eletrônica que levou ao mundo nomes como Daft Punk, Air e, em certa medida, Breakbot. De fácil digestão, as faixas assinadas pelo selo podem tocar em uma festa ao pôr do sol ou naquela loja de roupa descolada.

Não à toa, vários artistas listados pelo Roche Musique figuram em blogs e plataformas ao redor do mundo com uma audiência considerável — caso do perfil Majestic, no YouTube. O DJ Kartell é um desses caras. Ao lado de nomes como Cherokee, KFJ e Darius, ele forma a base de lançamentos do selo entre músicas autorais, remixes e produções.

Baseado em Lyon, o Roche Musique não parece se inclinar às modas que vem em vão na música eletrônica. O selo vai para seu quarto ano de vida em 2016 com um assinatura sensível aos ouvidos em tudo quanto é som sob sua chancela.

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QLF/PNL
O QLF (Que La Famille) é um selo, mas também é o nome do segundo álbum da dupla PNL (Peace N' Lovés). Formados pelos irmãos Ademo e N.O.S, tanto o grupo quanto o selo resumem o que há de mais novo na plural cena do hip hop francês.

Indiscutivelmente plural, aliás, porque a França é tida como segundo maior mercado mundial de rap. Nesse cenário surge o PNL com o som hipnagógico das quebradas que Mathieu Kassovitz tinha mostrado em La Haine. Sem grandes gravadoras por trás e ligada às mais recentes tendências norte-americanas, a dupla é símbolo do novo hip hop francês.

Em volta dos novatos não faltam exemplos de peso. De Maître Gims a Booba (rapper que até gravou um clipe no Brasil), de Jul a IAM (algo como os Racionais MCs franceses), de Sexion d'Assaut a Abd Al Malik: o hip hop francês tem muitos nomes de peso que, mesmo com a barreira do idioma, valem uma busca na internet.

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