A longa busca da vida satisfatória

por Luiz Alberto Mendes

 

Ralar o Peito

 

Vivemos em busca de uma vida satisfatória. Alguns com mais empenho, outros menos, mas no fundo buscamos satisfação em viver. Prazer em estar aqui, agora e contentes em como a vida esta se processando. Já caminhando para o instante seguinte com as ferramentas suficientes para fazê-lo funcionar.

Mas, né, tudo tem um preço. Nada é tão fácil. É preciso ralar por dentro e por fora. Dar tudo de si. Alias, não há nada que realmente valha a pena que não seja necessário ralar o peito para alcançar. E nem sempre estamos dispostos. Eu mesmo, meu, nem sempre estou. Às vezes bem queria colo de mãe.

O principal e mais complexo problema que encontro é que ao tempo em que tenho de cuidar de mim, a outra pessoa também precisa de meus cuidados. Ao tempo que tenho que cuidar de meus filhos, não posso esquecer do cuidado aos filhos dos outros. Pensar que estamos fazendo o necessário em apenas estar executando nossa parte, como prega o pós-modernismo, parece-me pouco.

Tenho que me cuidar, cuidar daqueles pelos quais sou responsável e pensar em como ter cuidado para com as outras pessoas. Ser gentil, agradável e compreender sempre. Isso exige um equilíbrio gigantesco. Quase como o alinhamento entre o Sol, a Lua e a Terra. Preciso estar bem comigo, com os meus e com os outros. As relações geralmente são conflitantes, cada um de nós quer seu “teco” da vida e ninguém aceita viver pela metade.

Não ando nada bem comigo mesmo. Sempre me questionando sem conseguir aceitar o que há de errado em mim. Em busca de mais. Há uma terrível consciência de que tenho de cavar sempre mais fundo e de que o tempo urge. Não estou me dando bem com meus filhos e com meus parentes de sangue. Eles nem ligam para mim: são adolescentes. Vivem em um mundo ao qual não pertenço. Tento aproximar e até consigo, mas é invasão e a vida exige, o tempo é pouco...   

Não ando bem com os outros. Sempre em conflito por conta da tolerância que beira a conivência e da falta de vontade de lutar que sinto na maioria. Vivo brigando, querendo respeito e indignado com a falta de humanidade que vejo por ai.

Então jamais estou alinhado a mim, aos meus e aos outros como gostaria e a vida exige, para se tornar satisfatória. E olha que ralo o peito com vontade. Vou como posso, felicidade não é pra sempre mesmo, né?

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Luiz Mendes

18/04/2011. 

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