Internação Compulsória
O que começa a ficar claro nessa questão de internação compulsória dos meninos que usam crack, é que a finalidade não é realmente resolver a questão. Parece que acertam aqueles que apontam para o fato de que o objetivo é apenas higienista, de fazer uma assepsia local e limpar a área da chamada “Nova Luz”. Mais uma vez querem mascarar, esconder, vestir mais uma capa, entre tantas já inventadas, no problema.
Por outro lado, mas se nada for feito, o Estado pode ser processado por omissão naquela situação da cracolândia. O que fazer, então? Estima-se que existam cerca de 2 mil usuários dessa droga perambulando pelas ruas centrais da cidade de São Paulo. Não há locais para fazer um atendimento digno e necessário a tanta gente. Onde se possa tratar, educar, qualificar profissionalmente e solucionar o problema para sempre. Ao final vão acabar apenas prendendo essa pobre gente já tão martirizada pelo próprio desespero que consiste a viciação. Ou alguém ainda pensa que é fácil a vida deles? Só quem não conhece.
A maior parte dessas crianças vai para as ruas por outros motivos que não a droga. Começam a usar a droga para fugir à agonia e insegurança que lhes oferecem as ruas. A maior parte dessas crianças, segundo pesquisa do Projeto Pixote, cerca de 38% delas, esta nas ruas por questões de negligência e abandono. 15% das crianças estão nas ruas levadas pela violência sexual.
Outra parte considerável, quase 20% das crianças pesquisadas, esta nas ruas por conta de violência física e psicológica nas famílias. Eu sou um desses meninos. Fui para as ruas aos 11 anos de idade em grande parte por conta da brutalidade de meu pai. Mas isso foi a quase 50 anos. E vejam: quase nada mudou. Na verdade, piorou; pelo menos não havia crack em meu tempo e não éramos tantos.
Para mim parece que querem medicalizar uma questão que é puramente social. Apenas 12% daquelas crianças foram para as ruas por conta da droga. Vai, tudo bem: internam as crianças e, na suposição de que consigam espaço digno, desintoxicam e processam o tratamento. E depois, para onde vão mandar aquelas crianças? Para a mesma realidade anterior? Porque as coisas não mudam apenas porque se deseja que assim o façam. De que vai adiantar toda essa polêmica, esse esforço, o constrangimento, sofrimento e a agonia daquelas crianças?
Mais uma vez a solução é apenas paliativo. Tentam nos enganar que estão de fato tomando providências sérias para a questão. E vamos ficar olhando a “experiência” acontecer. Pobres desses meninos...
**
Luiz Mendes
04/08/2011.