A desenciclopédis

por Redação

Nosso colunista copyleft apresenta a maior fonte de desinformação do mundo. Uma democrática e hilária enciclopédia de meias verdades em construção

“Homem Aranha cascateiro, só faz força no banheiro”, verso de Didi Mocó como Batman, na Liga da Justicis. Porque essa foto está aqui? Porque é demais!

 

Por Ronaldo Lemos*

Existe uma enciclopédia colaborativa que faz sucesso na Internet. Trata-se da Wikipedia (www.wikipedia.org). Sua principal característica é ser construída a partir da colaboração de qualquer pessoa. Quem quiser pode criar artigos, deletar, corrigir e alterar o que lá está escrito. Os mais pessimistas diziam que o modelo nunca iria funcionar. Funcionou tão bem que, em uma análise recente com outras enciclopédias “tradicionais”, ela ficou praticamente empatada na maioria dos quesitos, ganhando em outros.

Mas não quero falar da Wikipedia. Quero falar de outro projeto, para muitos, ainda mais interessante. Trata-se da Uncyclopedia, uma enciclopédia de absurdos, também colaborativa. Como o próprio nome diz (algo como “Desenciclopédia”), lá só existe uma regra: tudo tem de ser besteira. Por exemplo, não dá para saber ao certo quantos verbetes tem a Uncyclopedia, já que tudo é galhofa. Por exemplo, o site diz ter 10 milhões de artigos, o que é claramente falso, já que a própria Wikipedia, com mais de três anos de projeto, possui 1 milhão de artigos em inglês (e 118 mil em português).

 

Quem começa a usar a Uncyclopedia diz que é uma das experiências mais viciantes da Internet. Afinal, onde mais você pode ficar sabendo coisas como: o Brasil é uma pequena ilha tropical na costa da Argentina, descoberta pelo Monty Python Flying Circus e governada pelos cachorros; Didi Mocó é o maior filósofo do Brasil (depois de Tostão e Sócrates), criador da religião Didi Mocoísmo e líder da célula terrorista “Turma do Didi”; o Cristo Redentor é o primeiro monumento a se render na guerra do tráfico carioca. E por aí a coisa vai.

 

O mais impressionante na Uncyclopedia é que ela criou seu folclore próprio, dando início a vários projetos paralelos. Um dos mais interessantes é o “projeto Wilde”, que preconiza que todo verbete deve obrigatoriamente ser precedido de uma citação de Oscar Wilde. No Brasil a “tradição” é um pouco diferente: os artigos devem ser precedidos de uma citação do doutor Roberto (Marinho).

A Uncyclopedia mostra claramente algo que foi revelado com o software livre: primeiro que tem muita gente com tempo livre.

 

Segundo, que a tecnologia permitiu às pessoas se organizarem para devotar parte desse tempo para construir criações comuns. Mesmo que o resultado seja uma enciclopédia de piada, o trabalho envolvido impressiona. Já há versões da Uncyclopedia em mais de 30 línguas, do português ao suomi, do italiano ao chinês.

Por fim, a Uncyclopedia é licenciada por meio do Creative Commons, ou seja, qualquer pessoa pode livremente copiar, distribuir, traduzir, republicar e modificar tudo que está lá, desde que seja para fins não comerciais. Talvez essa seja a única informação realmente confiável por lá.

 

Visite a Uncyclopedia: www.uncyclopedia.org

 

Ronaldo Lemos é diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV (RJ) e fundador do Overmundo (www.overmundo.com.br)

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