A poeira do chão entrava no sapato/ O orvalho envolvia em veludo lagrimas antigas
POEMETOS
I
Subitamente só
A poeira do chão entrava no sapato
O orvalho envolvia em veludo lagrimas antigas
Os olhos tomavam a madrugada de surpresa
Prédios tatuados de horríveis grafites
À margens de rios mortos de lodo podre
À frente, disforme e inatingível, na rua
Seguia o homem, pesado de história
E só, como uma pedra.
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II
Lá fora
Como brancas e esguias mãos
A chuva fazia rendas de luz
Enquanto o vento chorava
E rezava pela janela
O silêncio narcótico e o ar viciado
Envenenavam a tarde de melancolia.
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III
Ela era inteira
Como um laço bem feito
Uma presença definitiva
Tempestade que varre em círculos
Onde fervilham complexas contradições
E eu, incompleto, ermo de amor, fui tropeçando
Nas pedras esparramadas
E na dobras do chão rompido
Como uma pequena lágrima a rolar
Atônita e perdida.
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IV
A vida estava ali parada
Encostada a um poste
Apalpando meu corpo com sua mão gelada
Enquanto a alma ardente
De doce ansiedade se desmanchava
Tristes pedaços de esperanças
Desencaixados em meus dias de aço
Exigiam mais que passos
Saltos, espasmos.
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V
Sei para onde estou indo
Por isso mesmo que estou indo para lá
Para, finalmente
Chegar a algum lugar.
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Luiz Mendes
04/03/2010