A cobra vai fumar

por Lino Bocchini
Trip #207

Centenas de blogs e comunidades nas redes sociais que mostram o chamado smoking fetish

Centenas de blogs e comunidades nas redes sociais e dezenas de milhares de vídeos no YouTube mostram que o chamado smoking fetish é bem maior do que uma fantasia sexual de “gueto”. Conversamos com alguns adeptos e mergulhamos nas tragadas da turma

 

Britney é uma estudante de 21 anos. É bacharel em psicologia por uma universidade de Michigan, onde nasceu, e agora faz o mestrado, também em psicologia. Para pagar os estudos – e todas as suas outras contas –, une o útil ao agradável. Loira, bonita e parte da turma que sente tesão fumando, se exibindo ou assistindo a pessoas tragando um cigarro, mantém o bem-sucedido site Pink Angel, ligado ao chamado smoking fetish. A assinatura mensal de sua página custa entre US$ 17 e US$ 25, e libera fotos e vídeos exclusivos. Cobra ainda US$ 15 para exibir-se ao vivo na webcam por 10 minutos só pra você. Fumando. De roupa. “Não tem fotos minhas nua no site. O ato de fumar, uma garota bonita inalando e expirando fumaça do jeito certo, é o mais importante para a comunidade smoking fetish”, diz a garota à Trip.

O fetiche esfumaçado, como acontece com tantas outras fantasias sexuais, atinge seu auge de exposição e exploração comercial nos EUA, mas a cena é universal. São centenas de blogs especializados, a maioria em inglês, mas há bastante material em francês, alemão, italiano e turco. Em português, pouca coisa. Para testar o poder da fantasia por aqui entramos em uma terça-feira às 23 horas no bate-papo do UOL, o maior do país, e jogamos a palavra “fumante”. Surgiram 13 usuários em diferentes salas com nicks como “H adora M fumante” e similares. “Infelizmente não conheço brasileiras adeptas, esse fetiche ainda é pouquíssimo conhecido por aqui”, lamenta um paulistano de 34 anos que topou teclar conosco. Morador da zona leste, é técnico em informática, não fuma e é casado com uma não fumante. “Descobri o fetiche tarde, senão teria namorado mais fumantes. Me excitam os trejeitos, as caras e bocas... o fato de ser considerado uma coisa meio rebelde, fora da lei... Se a mulher for novinha então, aí ela parece mais rebelde ainda!”, anima-se.

Nosso entrevistado é expert no assunto, fala de algumas musas (Ann Angel, Miss Inhale, Sally St Moritz) e é ligado na vertente “smoking blowjob”, ou seja, o ato de praticar/receber sexo oral entre uma baforada e outra. Há vários subgrupos, como aficionados em charutos (Clinton que o diga), dominação gay ou hétero (que envolve apagar cigarros na pele do parceiro ou usar sua boca como cinzeiro) etc. O mais comum mesmo é sentir tesão simplesmente ao ver a pessoa fumando.

Sara, uma bela portuguesa, fala sobre o poder de sedução do cigarro no relato da primeira vez que percebeu o fetiche, publicado em seu blog Sinto-me sexy quando fumo: “Num restaurante com amigos, no exato momento em que acendi meu habitual cigarro entre a refeição e a sobremesa, percebi um olhar fixar-se em mim de forma penetrante, incomodativa. Era um tipo de 30 e poucos anos, bem-apessoado, que jantava com a mulher na mesa em frente. Resolvi tirar a prova dos nove e não deixei passar meio minuto até acender outro cigarro, observando discretamente a reação do meu admirador. O tipo ficou passado por eu ter quase acendido um cigarro no outro, não escondia seu deslumbre. Seguia magneticamente o curso do cigarro entalado nos meus dedos (com unhas pintadas de vermelho) entre a minha boca e a mesa, entre a minha boca e o cinzeiro. Naquele momento já não tinha dúvidas, eu e o meu fumo seduzíamos aquele homem”.

“No instante em que acendi um cigarro depois do jantar, senti um olhar fixo da outra mesa”

A fantasia em questão não é assim tão restrita: só a busca por “smoking girl” no YouTube retorna 83 mil vídeos (como não há nudez, não se violam as regras do portal). No Flickr, as mesmas palavras levam a mais de 60 mil fotos disponíveis. No Google a expressão “smoking fetish”, assim, entre aspas (o que reduz o universo de resultados), traz quase 8 milhões de entradas.

“Pulmãozinho indefeso”

No Brasil o povo que curte uma sacanagem esfumaçada tem várias comunidades nas redes sociais tradicionais (Facebook, Orkut etc.) e também em redes específicas de pornografia. A quantidade e variedade dos relatos são marcantes: um rapaz de Curitiba convenceu a mulher a começar a fumar só para satisfazê-lo (“nunca vou esquecer da primeira vez que a fumaça saiu de sua boca enquanto ela fazia biquinho”); um mineiro de Confins exalta que adora “ver a fumaça sujando o pulmãozinho indefeso dela, e ela abrindo a boca antes de tragar”; outro mineiro, esse de Juiz de Fora, é direto: “Tenho tesão em mulher que fuma Hollywood vermelho, é a oitava maravilha do mundo!”. No GP Guia, maior comunidade de clientes de prostitutas do Brasil, o debate também está presente: “Minha GP [garota de programa] fixa é fumante, e sempre peço pra ela acender um cigarro na hora do boquete... E na hora do sexo ela senta no colo e acende um cigarro enquanto cavalga”. E por aí vai.

Nossa psicóloga/smoking-fetichista/vendedora de serviços fumígenos Pink Angel odeia quando julgam a fantasia de que tanto gosta. “Jornalistas em geral falam mal desse fetiche, consideram tabu, estranho, anormal. Mas na realidade é bem simples. O fetiche por pés, por exemplo, é comumente retratado no cinema e na TV de forma bem tranquila, às vezes até cômica. E por que o smoking fetish é menos normal do que a tara por pés?”, questiona a garota, que adora se exibir fumando os longos Virginia Slim 120’s, e na maioria das vezes recebe pedidos para se mostrar fumando em situações prosaicas como varrer o chão ou falar ao telefone. “Mas gosto mesmo é de bancar a bad girl.”

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