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A bicicletinha e o rebolation

por Caio Ferretti
Trip #188

Reunimos os fenômenos baianos do Parangolé e Psirico para falar de sexo, Xuxa e Ivete

Desembarco em Salvador e um som ecoa pelos corredores do aeroporto. O sucesso do Parangolé berrava da TV de uma loja: "O rebolation-tion, o rebolation. O rebolation-tion, o rebolation". Segui meu caminho. No táxi a caminho da entrevista, passamos por um outdoor anunciando shows da Psirico. Os dois grupos baianos fazem sucesso no Nordeste há anos, atraem milhares de pessoas em shows quase diários, mas só estouraram no resto do país no último Carnaval. Parangolé com "Rebolation" e Psirico com "Bicicletinha" (Ela sai de saia/ E de bicicletinha/ Uma mão vai no guidão/ E a outra tapando a calcinha...). "Se o cara quer letra de poesia vai falar com Caetano, com Djavan. Nossa música é de festa, de massa, de trio elétrico", resume Márcio Victor, da Psirico. Caetano, por sinal, se diz fã da banda. Victor, 30 anos, e Léo Santana, 21, do Parangolé, receberam juntos a Trip na capital baiana, em uma rara brecha em suas agendas, para falar de amor, sexo e música. "Somos bonitos, 50th Cent e Jay-Z perdem pra gente. Temos uma lata bonita. Se Beyoncé tivesse visto Léo Santana dançando ‘Rebolation', ela ia ver só", provoca Márcio.

O público de vocês gosta de música romântica ou sensual?
Léo Santana (Parangolé): Romântica nada. Tem que ser pra cima, alegre.

Márcio Victor (Psirico): O brasileiro gosta de cantar o amor. Tanto que caras como Zezé di Camargo & Luciano são recordistas de vendas. O cara gosta de cantar "É o amoooor/ que mexe com minha cabeça e me deixa assim...". Neguinho canta isso de uma forma! Já a nossa música é de festa, de massa, trio elétrico, festa de abadá. Então a letra é pensada para isso.

Em São Paulo o pessoal rotula suas letras de machistas e sexistas. É isso mesmo?
Léo: Venho de um segmento do pagode de músicas que falam de mulher, brincam com sexualidade e tal. Sou alto, malho, gosto de vestir camiseta que mostra a musculatura. Acho que esse negócio de sexista elas é que fazem acontecer, a mulherada.

Márcio: O próprio público cria essa vontade de ter e ouvir músicas assim. O povo da gente quer ir atrás do trio, quer show de massa, festival de verão. É isso que as mulheres querem: homem bonito, homem gostoso e vamos nessa. Fica lotado de mulher gostosa, porque é o público mais bonito que tem, é o verdadeiro, é o povão mesmo, as "nega" e tal.

Então quando você compõe pensa "esse refrão vai fazer a galera levantar"?
Léo: Penso na simplicidade, para que o povo venha abraçar logo. Uma coisa bem fácil.

Márcio: Ah, velho, se o cara quer letra de poesia vai falar com Caetano, com Djavan.

Caetano é fã de Psirico...
Márcio: É fã de Psirico porque conseguimos quebrar uma barreira com pessoas que se dizem diferentes, que têm uma opção de música mais apurada e por isso desrespeitam a nossa. A gente também gosta de Caetano.

Léo: Hoje artistas fenomenais cantam nossas músicas. Daniela [Mercury], Ivete [Sangalo], Claudia Leite, Chiclete com Banana...

Márcio: A mulher do presidente Lula dançou "Rebolation"! Agora todo mundo vai ter que dançar também.

E quem vocês acham que faz música de amor hoje? Vocês fazem?
Léo: A gente tem cabeça pra fazer, mas não é o nosso movimento.

Márcio: Acho que Caetano e Lulu Santos são pessoas eternas nesse segmento de músicas de amor. Mas não estou inspirado pra isso, tá entendendo? Tô inspirado pra ver o povo pulando. [Canta] "Pode pular/ Que a madeira vai deitar". Ou "rebolation-tion"... É isso.

É sensual...
Márcio: É muito sensual, envolve muito. O comércio sempre exigiu isso. Agora, tenho que deixar uma coisa bem clara: tanto Psirico quanto Parangolé são contra músicas de duplo sentido ofensivas.

E que tipo de música é ofensiva e de duplo sentido?
Márcio: É o Tchan...

Léo: O Tchan não tinha exatamente letras de duplo sentido, mas tinha vulgaridade.

Tipo "Pau que nasce torto, nunca se endireita", "Segura o Tchan" e afins?
Márcio: É. Nós queremos a sensualidade das letras e da batida, mas não queremos provocar prostituição, pedofilia ou desrespeito.

E vocês acham que essas músicas podem provocar isso?
Léo: As de duplo sentido sim.

Márcio: Sabe, o acesso da nossa música é muito rápido. É água, chega nos lugares fácil. É por isso que a ministra lá, a Dilma, tá dançando "Rebolation" [a pedido do Pânico na TV]. Porque ela sabe a força que tem.

"Somos bonitos, 50th Cent e Jay-Z perdem pra gente. Temos uma lata bonita. Se Beyoncé tivesse visto Léo Santana dançando ‘Rebolation', ela ia ver só"

Vocês gostam de funk carioca?
Márcio: Adoro. Agora a gente fez uma versão de uma música de lá, do "Pente": "Olha a pentada, olha a pentada, olha a pentada...". Pentada é o cara botando pra dentro. Fizemos em pagodão, a gente também quer chegar ao público de lá.

Vocês se consideram românticos?
Márcio: Rapaz, o único momento que eu tive de romance foi com Preta Gil, num Carnaval que eu fiz uma declaração pra ela em cima do trio. Falei: "Minha gordinha, minha deliciosa, eu quero você. Quero morrer com você". Só lembro esse. Não sou muito romântico, sou mais rock'n'roll, mais trash.

Léo: Eu sou. De mandar flores, chocolate. Nos momentos pessoais sou romântico sim. E isso dá música, ser romântico dá inspiração.

Você citou a Preta. Já tiveram casos com cantoras?
Márcio: O Léo teve com Perlla... Esse menino aqui é danado. Esse miserável aqui...

Léo: Cala-te boca!

Márcio: Esse negócio de "Rebolation" ainda vai longe [risos]. Esse menino vai tapar [faz gesto com a mão insinuando sexo] muito na conta do "Rebolation".

Léo: Vinte e um aninhos, né...

Tem essa ainda, você é moleque...
Léo: Porra, tenho que expandir esses hormônios! Tem que aproveitar, né? Meu esquema com a Perlla foi num show. Ficamos, claro. Ela é gente boa, canta bem, até mostrei duas músicas minhas, ofereci pro próximo CD dela...

Márcio: Rapaz, você falou um negócio massa. Independente de o relacionamento não dar certo a parceria continua, ou seja, a música nos torna unidos. Eu luto contra uma massa de negatividade que diz que somos rivais, que nossa música foi feita para induzir a sexualidade. De jeito nenhum, a gente faz pra conhecer a Xuxa, pra namorar a Xuxa [risos]. Pra conhecer Gisele Bündchen, Victoria Secret, essas coisas, pô. Temos uma lata bonita, 50th Cent e Jay-Z perdem pra gente. Se Beyoncé tivesse visto Léo Santana dançando "Rebolation" ela ia ver só. Madonna vem com esse negócio de Jesus? Tem que ver o Márcio Victor.

Em show rola com fã também?
Léo: Fã não. Nunca me envolvi nem quero.

Márcio: Não? Ah, doido! É bom demais, meu velho. Eu adoro.

Léo: A partir do momento que você se envolve ela nunca mais vai ser sua fã.

Márcio: O quê!? Léo, quando você dá uma tapada ela fica mais fã ainda!

E no momento íntimo com a fã você coloca o que pra tocar?
Márcio: Psirico. Ou O Troco [banda baiana que fez sucesso com "Teto do meu carro"].

Léo: Nem penso muito nisso.

Márcio: Bota O Troco, velho. [Canta] "Sobe no teto do meu carrão e mostra o pacotão, mostra o pacotão, mostra o pacotão..." A mina fica doida. Tô falando merda? [Risos] Porque, sinceramente, na hora do tchuco-tchuco ou eu desligo o som ou eu coloco uma música que instigue mais ainda. Ou um Sexy Hot [canal a cabo de filmes eróticos].

Léo: É. Um filminho acho que rola. Um filme que já mostre o que vai acontecer em breve, a pré-produção.

Márcio: Só não rola um filme tipo Gabriela Cravo e Canela. Porque o cara fica falando assim: "Chupe. Chupe, vá. Abaixe" [gargalhadas]. O cara com aquele negócio grandão, a menina com cara de doida. Aí esse filme não dá não, é trash. Se colocar, o negócio desce.

Voltando às mulheres, Ivete e Claudia são as musas da música baiana?
Léo: Espetáculos de mulher! Opinião minha, são três: Ivete, Daniela e Claudia.

Márcio: Ivete e Daniela. Porque Daniela é a primeira, uma artista que tem um leque de musicalidade completo. E Ivete é uma pessoa fenomenal, alegre, divertida. Ah, a Claudia Leite é muito gostosa também, muito linda.

E qual você levaria pro seu quarto pra ouvir "Rebolation" ou "Toda boa"?
Márcio: As três, velho, gosto das três. A Daniela ainda tem um swing. Tem mesmo. Envelhecer é uma virtude. Ivete agora está meio cheinha... E Claudinha toda enxutinha, meu pai! Três modelos. Eu seria tipo sultão.

Léo: Eu vou ser mais devagar... Fico com a Claudinha, que é um fenômeno.

Os dois estão solteiros, a mulherada está em cima. É hora de ficar sozinho?
Léo: Não. Quero namorar.

Márcio: Não, rapaz, agora não! Você achou alguém? Não, pivete, você tem que sair tapando todo mundo. Agora é a hora.

Léo: [Gargalhadas] Olha aí o conselho do amigo... Não vou. Até por morar sozinho agora. Lá na banda todo mundo é casado. E eu fico um mês longe de família, de tudo. Bate uma certa carência. E quando eu chego de viagem quero ter um momento sozinho com uma namorada, pegar um cinema, jantar, enfim, aquela coisa de sentir um calor, né? Eu quero sim. Estou à procura, Trip. [Manda um beijo para a câmera que grava a entrevista] Eeeta, delícia!

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