Arte em Porto Alegre
Porto Alegre recebe desde o último sábado a Bienal do Mercosul. Bares, cafés e livrarias entram no clima e fazem da cidade um festival de cultura. A proposta é trazer novos artistas e obras inusitadas, que retratem uma visão latina de arte contemporânea. Artistas do México, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai expõem seus trabalhos na capital gaúcha.
Mas a Bienal também traz nomes conhecidos, como Orozco, pintor mexicano que, ao lado de Diego Rivera e David Alfaro Siqueiros, fez ressurgir a arte da pintura mural. Os locais escolhidos para as exposições são os mais tradicionais da cidade, como a Usina do Gasômetro, uma termelétrica de 1928, transformada em centro cultural pela prefeitura.
Saint Clair Cemin, 41, é o artista plástico homenageado pela 4ª Bienal do Mercosul. Gaúcho de Cruz Alta, mora atualmente em Nova York. Famoso no exterior por suas gravuras e esculturas mas pouco conhecido no Brasil, Cemin conversou com a TRIP:
O que significa para você ser homenageado pela Bienal do Mercosul?
SC- Sou gaúcho e esta será a primeira exposição de meu trabalho de escultura no Rio Grande do Sul. É uma grande alegria.
O que você acha dessa iniciativa de fazer uma Bienal latina?
SC- Eu me lembro das primeiras vezes que visitei a Bienal de São Paulo, que impressão me causou. Exposições desse tipo são fundamentais para a cultura artística da região, são fonte de experiências inesquecíveis para os jovens e principalmente para aqueles que não viajam. Uma bienal latino-americana em Porto Alegre me parece uma ótima idéia. O sucesso da Bienal do Mercosul é evidente.
Você, que vive fora, sente que a arte produzida na América Latina é mesmo diferente? Existe uma identidade sul-americana, por exemplo?
SC- Uma identidade latino-americana existe, ela é evidente na música, na literatura e na artes plásticas também. O povo sul-americano tem uma alma diferente da do europeu e do americano. Devemos considerar que o sul-americano é muito espiritual e otimista.
Há espaço para artistas plásticos no Brasil? Quero dizer, dá para viver de arte no Brasil?
SC- Arte não é uma profissão muito rentável. Em um país como o Brasil, imagino que seja muito difícil para um artista sobreviver e fazer seu trabalho. No entanto, temos artistas de grande visão, entre os mais importantes na cena internacional. Alguns passaram por grandes sacrifícios para chegarem a uma maturidade artística. A facilidade não é necessariamente o melhor incentivo para a criação.
É preciso entender de arte para gostar de arte?
SC- O inverso é verdade: é preciso gostar de arte para entendê-la. Se não gostas de arte, de artistas, de vernissages, de ateliers empoeirados, de tubos de tinta, de revistas de arte, então não poderás nunca entender de arte. A única maneira de se entender uma obra de arte é fazê-la sua, integrá-la à própria consciência e então deixar que a peça se abra e de fato comece a existir como arte.
O que você preparou para essa Bienal? Algum objetivo em especial?
SC- Uma obra monumental, mas ela deverá ser surpresa. Além disso, terei uma exposição semi-retrospectiva, com peças de diferentes períodos de minha carreira, que depois da mostra serão instaladas em algum lugar público de Porto Alegre.
- O que: Bienal do Mercosul
- Onde: Centro Cultural Usina do Gasômetro (av. Presidente João Goulart, 551 - tel: (51) 3212-5979), MARGS (Praça da Alfândega, s/nº - tel: (51) 3226-7560), Santander Cultural (rua Sete de Setembro, 1028 - tel: (51) 3287 5500), Memorial do Rio Grande do Sul (Praça da Alfândega, s/nº - tel: (51) 3224 7210), Cais do Porto (av. Mauá, 1050. Armazéns A4, A5, A6 e A7)
- Quando: De 4/10 à 7/12
(Liana Mazer)