por Millos Kaiser
Trip #184

No curso de xaveco, nosso estagiário descobre por que tá encalhado e sai de mãos abanando

Nosso estagiário vai a curso de xaveco e descobre por que está mais encalhado do que baleia em Niterói

Bastou ler o assunto do e-mail – “Saiba o que fazer na hora H da conquista” – para brotar na nossa cabeça um luminoso enorme piscando: “Pior release”, “Pior release”...

Resolvemos abrir esse presente em nossa caixa de entrada. Tratava-se de uma “dinâmica de aproximação”, “um verdadeiro teatro da paquera” – ou, como preferimos, uma aula de xaveco –, destinada aos que carecem de autoconfiança, criatividade, coragem ou simplesmente amarelam na hora do vamos ver. Quem me conduziria pelos labirintos da sedução seria Sergio “Casanova” Savian, terapeuta e escritor, guru dos relacionamentos humanos, autor de dez livros e consultor da mídia sobre o assunto.

Um depósito de R$ 80 em nome do sr. Savian depois, lá estava eu, pronto para mostrar serviço. Uma surpresa agradável: não sei aonde essas mulheres vão à noite, mas havia seis a fim de aprender como chegar num cara – uma delas, inclusive, bem bonita. Éramos sete homens.

Sergio inicia as atividades com exercícios simples de respiração. Fala que “tudo é uma questão de bioenergética” e que praticando “podemos alterar a química do cérebro e nos tornar mais ou menos confiantes, felizes, calmos etc.”. “Para nos livrarmos de nossas máscaras sociais”, pediu para que sacudíssemos loucamente o corpo, botando para fora qualquer som que viesse à cabeça. Subitamente, me senti num terreiro de macumba. Depois, com Elton John cantando “Your song”, tivemos que fechar os olhos e dançar com um par.

Quando tudo que eu queria era fugir, o professor dividiu a turma em quatro grupos para simular situações onde a paquera pode rolar – consultório de dentista, rodoviária, livraria e balada. Eu, um cara e duas mulheres caímos nessa última. A ideia era que os dois homens tentassem um approach tal qual fariam na vida real, para depois Sergio comentar a performance.

Não encosta!
Foi dada a largada. Como meu parceiro só fazia dançar, resolvi arriscar uma manobra. Delicadamente, coloquei minha mão nas costas de uma das meninas e pedi licença para pegar um drink no bar imaginário atrás dela.

– Paaaaara tudo. Você não pode sair encostando na menina sem conhecê-la. Elas odeiam isso!

OK, ponto negativo para mim. Segunda chance. Meu companheiro de caça continuava não colaborando muito e dessa vez tento puxar um papo com a outra garota. Comento que o som está ruim e pergunto se ela sabe o nome do DJ.

– Paaaaaaara tudo. Você não pode iniciar uma aproximação com uma fala negativa. “O som está ruim?” O som está ótimo! Está tudo ótimo!

Depois dessa, recolhi-me com minha mediocridade e atentei aos conselhos de Savian: “Nunca vá direto, não há linha reta na sedução”, “em um grupo, nunca dê atenção à menina de que você gostou”, “nunca fale muito de si”, “nunca fale pouco de si”, “não faça mais de três perguntas sobre a vida particular da pessoa”... Na saída, chego a pensar em abordar a menina bonita, mas desisto quando penso o quão ridículo seria fazer isso depois de uma aula de xaveco. Mas... aparentemente, eu sou o único que pensa assim: ela foi embora acompanhada.

 

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