O grito da floresta

por Redação

O exemplo de Zé Claudio e Maria continuam vivos, mesmo três anos após assassinatos

O silêncio imponente da Amazônia, que paira sob a copa das árvores, foi rasgado por um canto de melancolia e esperança no último 24 de maio. Naquele dia, fazia três anos que os agroextrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo foram assassinados em Nova Ipixuna, Pará. Só que dessa vez o barulho não era de escopeta, mas de 150 vozes que homenageavam o casal e prometiam continuar sua luta pela preservação da Amazônia.

Batizado de “A floresta vai gritar”, o ato reuniu extrativistas, agricultores, familiares e amigos do casal, que em 2011 foi lembrado pelo Trip Transformadores em uma homengem póstuma. Ao longo dos oito quilômetros de terra batida e sol forte, a marcha cruzou o assentamento onde vivia Zé Claudio e Maria, espalhando fotografias do casal pelo caminho. As imagens ganharam a companhia de Chico Mendes, Dorothy Stang e outros nomes que também tombaram por defender a floresta em pé. 

“Se uma árvore morre, eu planto outra. Porque no dia em que eu me for, vai ficar minha continuidade”, disse certa vez Zé Claudio, sempre inconformado com a devastação da floresta. Sobre seu legado, ele estava certo: “Esse é um ato de resistência e recomeço da luta”, prometeu Claudelice dos Santos, irmã do extrativista. 

A batalha, porém, não tem trégua e continua desigual. Até hoje, os mandantes do assassinato de Zé Claudio e Maria seguem impunes. E as ameaças continuam a ecoar sobre quem leva à frente os ensinamentos do casal. “A regra aqui é o medo”, denuncia Claudelice, sem perder a determinação. “Mas se a gente se esconde, a gente dá vitória para os assassinos. E nós não vamos fazer isso”.

fechar