Caos no litoral. Q letra você culparia? E, S ou G?

por Redação

Especialistas, voluntários e vítimas participam do programa que discute o racismo ambiental, aquecimento global e como as mulheres são mais impactadas em eventos como este

O Trip FM desta semana escutou diversas vozes para tentar entender um pouco mais o que causou e quais vão ser as consequências das enchentes que assolaram o litoral norte de São Paulo na madrugada do último domingo, dia 19 de fevereiro. Especialistas, voluntários e vítimas participam do programa que discute o racismo ambiental, aquecimento global e como as mulheres são mais impactadas em eventos como este. Participam o professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Guilherme Wisnik, a especialista de mudanças climáticas e emergências na Plan International Brasil, Júlia Ferraz, o socorrista voluntário da linha de frente Mihaly Martins entre muitos outros. Confira alguns dois depoimentos abaixo, dê o play no programa completo ou confira todos os episódios no Spotify.

Fernanda Carbonelli, diretora da ONG Verdescola:

"Nossa comunidade tem sido incrível: dia e noite nas ruas ajudando as pessoas, limpando a lama e resgatando corpos. É uma situação triste. Isso precisa para de acontecer, nós precisamos colocar a agenda de habitação popular em pauta. Isso era uma tragédia anunciada faz muito tempo, mas vamos usar o que aconteceu como força motriz para ajudar essa comunidade a se reconstruir".

Guilherme Wisnik, professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP:

"Na hora em que um pequeno conjunto de casas de veraneio passa a ser uma protocidade, precisa haver um lugar para abrigar os trabalhadores que se instalam na região. Caso contrário, as pessoas acabam ocupando áreas de risco da maneira mais precária possível e sem nenhuma assistência do poder público. Por isso há que se rever o modelo das nossas cidades. O que a gente está vendo são as revoltas da natureza".

Júlia Ferraz, especialista em mudanças climáticas e emergências na Plan International Brasil:

"É muito comum ainda, quando a gente fala de eventos climáticos extremos, achar que desastre natural é uma força maior da natureza, inevitável. É importante trazer a perspectiva social para a análise desses fenômenos. Esses desastres são também humanos e existem determinados grupos de pessoas que são desproporcionalmente impactadas pela mudança do clima. As populações mais afetadas são diretamente proporcionais ao grau de vulnerabilidade das comunidades atingidas, passando por diversos fatores, como raça, como classe, gênero e idade. São problemas que existem muito antes da chuva cair".

Mihaly Martins, artista plástico e voluntário nos primeiros socorros às vítimas da Vila Sahy: 

"A cena era de catástrofe, quarteirões cheios de casas em que você não vê mais nada, só lama e tronco de árvore. A gente começa a cavar e encontra paredes, lajes… Até segunda de manhã ainda tinha gente gritando embaixo dos escombros: aterrorizante. Só onde eu estava nós descemos vinte corpos. Tem muita gente soterrada ainda. A gente vê os carros de aluguel debaixo da terra. Tinha muita casa alugada. Veio de madrugada, sem aviso".

João Capobianco, ambientalista e secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente

"Nem nos mais radicais discursos alarmistas da questão ambiental nós poderíamos imaginar que chegaríamos em uma situação tão real e concreta como essa que estamos vivendo agora. Quando a gente falava de mudança climática na Rio 92, sinceramente, nenhum de nós imaginava que a aceleração dos eventos climáticos extremos seria tão rápida e disruptiva com está sendo. A situação é dramática e se não houver uma ação radical de reversão nós vamos perder o controle da situação e ter o clima como nosso principal inimigo".

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