por Camila Eiroa

Para pensar novas formas de mobilidade, Ricky Ribeiro, criador do Mobilize Brasil e homenageado do Trip Transformadores, lista iniciativas inspiradoras mundo afora

O administrador Ricky Ribeiro, homenageado pelo Trip Transformadores 2018, recebeu em 2008 o diagnóstico de ELA, Esclerose Lateral Amiotrófica, a mesma doença do físico Stephen Hawking. Gradativamente, Ricky foi perdendo os movimentos e a capacidade de falar e respirar por conta própria. Hoje, dez anos depois, ele vive em seu quarto na casa dos pais, que é uma semiUTI e conta com uma equipe de home care 24 horas. Se o corpo de Ricky não se move mais, seu cérebro, ao contrário, segue em alta velocidade.

Ricky se comunica por meio de um leitor óptico, que interpreta os movimentos da pupila e permite que ele mexa no computador através de um teclado virtual. Imóvel sobre uma cama, ele comanda o Mobilize Brasil, o maior portal brasileiro de conteúdo exclusivo sobre Mobilidade Urbana Sustentável, que já realizou estudos e campanhas importantes que geraram, inclusive, uma transformação na estrutura das cidades. A Avenida Paulista aberta aos domingos, por exemplo, foi uma luta de diferentes organizações, entre elas o Mobilize.

Para o site do Trip Transformadores, Ricky listou iniciativas de mobilidade para inspirar a criar melhorias e inovar o modo que nos locomovemos. Leia abaixo.

VLTs: os bondes modernos

O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) é um sistema de transporte público de média capacidade, bonito, silencioso, não poluente e que se integra muito bem ao ambiente urbano. É capaz de atrair mais pessoas ao transporte coletivo que outros sistemas similares, como o BRT (Bus Rapid Transit). Por suas qualidades e atrativos, algumas cidades do mundo vêm substituindo corredores de ônibus por sistemas de VLT. Muito comuns na Europa, os bondes modernos ainda são pouco encontrados no Brasil. O mais conhecido é o VLT carioca, um dos símbolos da revitalização da região portuária do Rio de Janeiro.

Mais recentemente, a EMTU implantou um sistema de VLT entre Santos e São Vicente, aproveitando uma faixa ferroviária da antiga EF Sorocabana. Eu particularmente acho que esses bondes são muito mais amigáveis com a cidade do que os ônibus que hoje fazem o transporte público no Brasil. São relativamente caros, mas duram muito tempo e servem para promover a melhoria de imagem do transporte público. 

Caminho escolar: formando jovens cidadãos

Projetos de caminho escolar são dirigidos para que as crianças e adolescentes possam se mover com segurança e autonomia pelas ruas e recuperem seu uso, desfrutando do espaço público através da mobilidade urbana ativa (a pé ou de bicicleta). Geralmente envolvem a escola; com ações educativas de conscientização, o poder público, e a comunidade do entorno, incluindo o comércio do bairro.

Os objetivos dos projetos de caminho escolar são:

  • Construir maior identidade dos indivíduos com o meio onde vivem, fortalecendo o sentimento de pertencimento e fomentando a apropriação dos espaços públicos;
  • Empoderar jovens e crianças com as ferramentas de transformação e melhoria da cidade para tornar o ambiente mais seguro, saudável, criativo e inclusivo, gerando futuros adultos mais conscientes do seu papel, atuação e cidadania.
  • Expandir o conhecimento para além da sala de aula e a atuação de cada um para além da profissional. 

Tarifa zero: transporte público subsidiado

Vem aumentando o número de cidades do mundo que oferece transporte coletivo gratuito à população, seja em todo território ou em alguma região específica. Os principais argumentos a favor da tarifa zero são: dinamizar a economia local, reduzir os congestionamentos, melhorar a qualidade do ar e ampliar o acesso a empregos, estudos e lazer.

No mundo, cidades como Dunquerque, na França, Tallin, capital da Estônia, e cidades chinesas estão adotando a tarifa zero. Em Melbourne, na Austrália, a passagem dos VLTs é gratuita na área central da cidade, para desestimular o uso do carro. Algumas cidades brasileiras também aderiram ao transporte público gratuito, a exemplo de Maricá, no Rio de Janeiro, e Agudos, no interior paulista. Recentemente, a prefeitura de Volta Redonda (RJ) implantou uma linha circular gratuita, com ônibus elétricos, na região central do município.

Transporte hidroviário: avenidas líquidas

O transporte hidroviário de passageiros é uma alternativa interessante para o deslocamento de pessoas. Não é necessário construir estruturas viárias ou de transporte e, além disso, o sistema costuma contribuir para uma maior valorização dos corpos de água.

O Brasil – com sua vasta costa e inúmeros rios – tem um enorme potencial pouco explorado. Exemplos como a barca Rio Niterói são raros na maioria das cidades do país, tanto as costeiras como aquelas banhadas por rios. Há muitos casos de sucesso do transporte hidroviário no mundo todo e um dos mais conhecidos é o vaporetto de Veneza, com suas ruas e avenidas líquidas. O vaporetto é uma espécie de metrô da cidade italiana desde o século 19, com suas barcas muito eficientes, sempre lotadas de passageiros e acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida, funcionando 24 horas por dia.

Caminhabilidade urbana: muito além das calçadas

O conceito de caminhabilidade trouxe uma abordagem mais ampla na avaliação de ambientes urbanos, considerando os inúmeros aspectos que tornam o caminhar das pessoas mais agradável. Caminhabilidade (do inglês, walkability) é uma qualidade aplicável a espaços públicos, bairros e cidades inteiras, e que define o quão convidativos esses lugares podem ser para circular a pé ou de cadeiras de rodas, no caso de pessoas com deficiência.

Além de calçadas regulares e acessíveis, um ambiente com boa caminhabilidade possui árvores que ofereçam conforto climático, bancos para descansar, sinalização adequada, transporte público próximo, e medidas para acalmar o tráfego de veículos motorizados. Além disso, devem ser lugares seguros, limpos, bem conservados, com boa iluminação, e uma grande variedade de serviços e atividades.

Sistemas de compartilhamento

Os sistemas de compartilhamento de veículos, seja de bicicleta, carro elétrico, scooter, patinete ou outro, vêm ganhando as ruas de cidades no mundo todo. É cada vez mais valorizado pagar pelo uso de determinado veículo do que ter sua posse, tendência que deve aumentar bastante no futuro. 

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