A mulher, a mobilidade urbana e o medo
Em levantamento no perfil da Tpm no Instagram, elas contam que vivem com medo quando o assunto é circular pela cidade. Mas, também falam sobre os sonhos
Por Redação
em 28 de abril de 2021
Insegurança. Furto. Roubo. Abuso. Assédio. Estupro. Essas são algumas das respostas enviadas por mulheres à pergunta “Qual é o seu maior medo quando falamos em mobilidade?”. Se você é homem, talvez nada disso faça muito sentido, mas, para elas, o medo de caminhar pelas ruas de qualquer cidade é um sentimento que anda ao lado. “Sair sozinha já é sinônimo de medo”, resume bem uma das mais de mil respostas de uma enquete realizada no perfil da Tpm no Instagram, no último mês de abril.
Contra a insegurança, muitas mulheres chegam até a se arriscar mais, como explica Daniely Votto, consultora de políticas públicas com ênfase em mobilidade e gênero. “Como as cidades são pensadas para os homens, muitas vezes elas preferem andar no meio da rua, correndo o risco de serem atropeladas, do que caminhar em uma rua mal iluminada, com calçada estreita e cheia de arbustos altos, que podem servir de esconderijo para alguns tipos de crimes”, diz a especialista.
De acordo com Daniely, as mulheres também optam por caminhos mais longos em busca de ruas mais movimentadas. “O poder público precisa estar atento a isso e resolver esse problema”, afirma. Mas, por que isso ainda não é feito? “Não é prioridade dos governos e, sendo assim, acaba não sobrando dinheiro para investimentos em obras públicas e campanhas que tentem reverter esse cenário.”
Enquanto isso, 97% das mulheres que participaram da enquete contaram ter medo de andar a pé à noite e 96% já deixaram de ir a algum lugar por temer o trajeto. Para Daniely, isso é inaceitável, pois “é o nosso direito de ir e vir que está em jogo”. Outro problema levantado pela enquete é o assédio no transporte público. Quase 90% responderam que já foram vítimas desse tipo de crime. “O assédio, na nossa sociedade, infelizmente, é considerado normal, o corpo da mulher é visto como uma coisa pública. Faz parte da cultura latina que o homem pode passar a mão na mulher, que ela está pedindo por isso. É um absurdo, mas é assim que ainda se pensa”, explica Daniely.
Para ela, é preciso haver mais fiscalização (inclusive com guardas mulheres) e punição, já que os chamados “vagões rosas”, exclusivos para o sexo feminino, são uma medida paliativa, não solução. “Eles não são a melhor alternativa, pois segregam”, diz a especialista. “Assédio é crime, tem que dar cadeia, porque, aí, sim, os homens vão sentir e evoluir.”
“O assédio, na nossa sociedade, infelizmente, é considerado normal, o corpo da mulher é visto como uma coisa pública.”
Daniely Votto, consultora de políticas públicas com ênfase em mobilidade e gênero
Outra medida que ela propõe é uma mudança estrutural. “Algo mais imediato são políticas para alternância de horários de trabalho, para que o transporte não fique superlotado, o que dá mais chance para a mulher sofrer alguma violência.” Ainda na enquete, 4.672 mulheres responderam que costumam compartilhar a viagem quando usam um aplicativo de transporte, e 1.499 que disseram nem saber que dava para fazer isso. Em alguns aplicativos, como o da 99, essa ferramenta é disponibilizada para trazer mais segurança.
A empresa, que possui o Guia da Comunidade, um documento que promove respeito e diversidade aos passageiros e motoristas do app, além de fornecer dicas práticas e exemplos de como agir em diversas situações – com foco especial na segurança feminina e combate ao assédio, inclusive, firmou parceria com o projeto “Justiceiras”, liderado pela promotora de Justiça Gabriela Manssur, que oferece orientação jurídica e acolhimento para mulheres vítimas de violência.
“Independentemente de onde tenha ocorrido a violência, seja em casa, no trabalho ou em uma corrida por aplicativo, a mulher pode e deve solicitar apoio usando o formulário, que está na Central de Segurança do app da 99”, afirma Pamela Vaiano, diretora de Comunicação da 99. “Nós entendemos que é nosso papel apoiar iniciativas como o projeto ‘Justiceiras’, para acolher as vítimas e dar um basta neste ciclo de dor e agressões”.
Pensando no fim desse ciclo e em um futuro sem violência nem medo, a última pergunta da enquete da Tpm era “Qual é o seu sonho quando falamos em mobilidade urbana?”. Na maioria das cerca de 920 respostas, um desejo em comum: liberdade e segurança. “Parece que fomos educadas para ter medo, faz parte do nosso comportamento, e isso só vai mudar quando todos entenderem que, quando a cidade é melhor para as mulheres, ela é melhor para todos”, completa Daniely.
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