Com impacto, por favor

por Camila Eiroa

Criado em 2017 para ser um coworking de impacto social, o Civi-co conta com mais de 50 iniciativas e quer ampliar empreendimentos para políticas públicas

Seu emprego faz sentido? Só para você ou para o mundo? Levado por esse questionamento, o engenheiro Ricardo Podval, que sempre trabalhou no ramo empresarial, transformou completamente sua rotina e trabalho. A mudança de cenário foi anunciada há dois anos, quando, em um almoço, sua amiga Patricia Marino contou que desejava ter um espaço que reunisse empreendedores com um grande objetivo em comum: a responsabilidade social.

"Foi aí que a gente decidiu criar o Civi-co", conta Ricardo. O Civi-co em questão nada mais é do que um coworking dedicado a iniciativas de impacto cívico-social, localizado no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Inaugurado em 2017, o espaço já tem mais de 50 empresas e organizações que se dividem entre residentes e colaboradores, parte com fins lucrativos, parte não. A ideia pode parecer simples, mas o que deixa tudo inédito é justamente o tipo de trabalho que cada empresa desenvolve ali, naquele espaço compartilhado.

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"Era um momento de rever valores, de rever o que fazia sentido para mim. Eu estava em um ano sabático e quando voltei para cá, no meio da maior crise moral e financeira que já vivemos, notei que precisava devolver ao Brasil um pouco do que tive a oportunidade de aprender", relembra Ricardo. Junto com Patricia, hoje cofundadora e residente do Civi-co, ele visitou mais de 130 coworkings e, em menos de um ano, o projeto estava de pé.

No prédio de arquitetura moderna, com cafeteria orgânica, terraço com sol abundante, salas de reunião, estúdios de gravação e diferentes estações de trabalho, o espaço dedicado a cada projeto, assim como o valor mensal, é definido pelo tamanho da empresa, que precisa passar por um verdadeiro processo seletivo para fazer parte do time. "O projeto precisa ser baseado em algum dos 17 Objetivos de Desenvolvimentos da ONU", explica o CEO.

O Quintessa, projeto de aceleração de empreendimentos de impacto social, que tem como cofundador Leo Figueiredo, homenageado pelo Trip Transformadores em 2017, é um dos residentes do Civi-co. Eles decidiram sair de um escritório próprio e mudar para um coworking no final de 2016 por três motivos: praticidade, redução de despesas e ter um ambiente mais conectado a organizações com as quais pudessem trabalhar em sinergia.

“Estar em um coworking dedicado ao empreendedorismo social permite pautar as questões raciais para o ecossistema de negócios de impacto”
Adriana Barbosa, idealizadora da Feira Preta, também residente do Civi-co

"Já nos conectamos a diversas iniciativas e empreendedores, que se tornaram potenciais parceiros para expandirmos geograficamente nossa atuação", conta Anna de Souza, diretora do Quintessa. Ela anuncia que, em breve, lançará, em parceria com o Civi-co e a Pipe.Social (uma vitrine de negócios sociais), um programa de aceleração com foco na validação de pequenos projetos. "Fizemos uma consultoria antes mesmo da abertura do Civi-co para ajudar a encontrar os melhores perfis", lembra Mariana Fonseca, fundadora da Pipe.Social. Para ela, estar no Civi-co é provar ao mercado que existem negócios inovadores, sustentáveis e com foco em resolver problemas sociais.

"É uma nova geração que busca pertencimento. Querendo, sim, ter lucro, mas com propósito. O que é totalmente possível e necessário", destaca Ricardo. Para ele, a hora que uma relação comercial se transforma em uma relação de propósito, o lucro flui para várias esferas. "É preciso entender que o Brasil tem realidades e pessoas completamente diferentes e incríveis desenvolvendo trabalhos que, se conectados, podem ajudar a transformar ideias em políticas públicas", finaliza.

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