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Otaviano Costa: A internet transformou o entretenimento

por Redação

Dois anos após deixar maior emissora do país, o apresentador avalia carreira na internet e fala sobre bastidores da TV

Um verdadeiro canivete suíço da televisão, Otaviano Costa pavimentou seu caminho como apresentador ao topar tudo o que foi jogado em sua direção: começou com VJ na MTV – quando a profissão era sonho de qualquer jovem dos anos de 1990 –, mas foi também ator de novela, fez personagem na reedição da Escolinha do Professor Raimundo e dublou desenho da Disney. Quando esteve na Rede Globo, foi paciente, permeou os programas de emissora por dez anos, de Amor & Sexo ao Vídeo Show, até finalmente ganhar o próprio, Tá Brincando, que estreou em 2019. A vitória, no entanto, teve gosto agridoce: "A Globo era cada vez mais uma só Globo, enquanto eu queria ser muitos Otavianos".

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A falta de liberdade para tocar o quadro e a incerteza com a estreia da segunda temporada foram o estopim para romper o contrato de trabalho, que ainda tinha um ano de validade, e se atirar na internet. No início utilizou o YouTube para dar vazão ao que saia de um estúdio novinho que ele construiu no Rio de Janeiro. Depois entrou o Uol e o programa Otalab, transmitido ao vivo todas as quintas-feiras pelo portal de notícias.

Hoje, com os influencers Whindersonn Nunes e Felipe Neto como exemplo, o apresentador diz controlar o próprio destino. Em entrevista ao Trip FM, Otaviano fala em detalhes da mudança na carreira e conta sobre os bastidores da televisão, a família e comenta o momento atual do Brasil. Ouça o programa no Spotify, no play abaixo ou leia um trecho da entrevista a seguir. 

Trip. Você traçou uma estratégia e um plano de carreira e acabou chegando no lugar que para muita gente é o topo, apresentar um programa na Rede Globo. Aí, por uma iniciativa sua, decidiu sair. Como foi isso? 

Otaviano Costa. Foram dez anos muito legais na Globo. Fui muito feliz lá em todos os projetos, do Amor & Sexo ao Vídeo Show. As novelas também: escolas de dramaturgia ao lado de professores enormes. A emissora estava num momento de transformação e eu também estava inquieto. Brinco que a Globo estava se tornando uma só Globo e eu estava me tornando muitos Otavianos. Quando pedi um novo desafio, porque estava há cinco anos na bancada do Vídeo Show, esperava ganhar um programa em que pudesse mostrar essa multiplicidade: cantar, dançar, brincar, interpretar e chorar. Mas o Tá Brincando me embalava. Eu tenho muita energia, sou movido muito pelo que faço. Foi quando decidi sair e planejei a construção de um estúdio. Entendi que a minha felicidade era uma balança muito maior, independentemente da questão do dinheiro. Essa foi a decisão mais movida pela felicidade da minha vida. Em menos de dois anos realizei coisas incríveis que nem nos meus melhores sonhos poderia imaginar que alcançaria dessa maneira.

É engraçado porque talvez uma das suas principais qualidades foi também algo que atrapalhou, que é o fato de você ser bastante eclético, talvez não se encaixando em gaveta nenhuma. Faz algum sentido isso? Faz, mas o mundo se transformou. Eu tenho minha banda, atuo na novela, faço dublagem para a Disney, trabalho como locutor na rádio.... Lá atrás isso virou um problema porque realmente teve um momento que falei: tenho que ser comunicador. Quando eu estava atuando em Salve Jorge, tive vontade de sair da Globo para poder me dedicar como comunicador. Foi quando comecei no Amor & Sexo. A escola da multiplicidade de talentos é muito melhor explorada nos Estados Unidos. Acho que esse estilo se cruza com o Brasil na internet. Olha o que o Whindersson Nunes está fazendo: filme, cantando músicas sérias e lindas, faz o digital, faz chorar e faz rir. Ele pode ser ele. Essa galera reinventou o modelo do entretenimento. 

É inevitável perguntar. Você consegue manter o salário que tinha dentro de uma instituição como a Globo? Consigo ganhar mais porque tenho todo um modelo de negócio sob o meu guarda-chuva. Quando eu tinha um programa como apresentador, com um baita salário, eu ficava suscetível aos outros. Hoje eu tenho uma agência que administra minha carreira e a da Flávia [Alessandra]. É incrível porque o dinheiro também mudou de lugar, de prateleira. Tem um dinheiro que não está indo mais para a TV aberta. E eu entendi que aqui fora posso gerar muito mais negócios, livre de um contrato.

A gente está falando de um lugar de privilégios. Há muita gente morrendo, milhões de desempregados, um desgoverno maluco. Como que isso o afeta, você que é um cara de natureza positiva? Sinto muita tristeza. Acho que o debate político se esvaziou, a bipolaridade ganhou tons de agressividade. Muita gente que ainda morre e muita gente que eu vi morrendo perto de mim. Muita gente quebrada, muita gente sem futuro e perspectiva e a politicagem feita em cima da ciência. Tem dia que a gente acorda sem energia, mesmo nesse local absolutamente abençoado, privilegiado, com tudo do bom e do melhor. Você vê as barbaridades que são ditas por todos deste desgoverno, o silêncio do Congresso durante o pior momento da pandemia. Sabe que eu fico imaginando como será isso em outros países que têm pelo menos uma ética cidadã. Tão triste ver a ciência sendo combatida com brutalidade. A discussão perdeu a graça. Eu, que sempre gostei de falar de política, não me vejo representado pelo Bolsonaro.

Créditos

Imagem principal: Vinicius Mochizuki

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