As dores e as delícias de ser Wanderléa
Ícone da Jovem Guarda, a cantora retorna aos palcos com seu novo trabalho “Wanderléa canta choros” — e quer mostrar que é ela quem segura a barra
Créditos: Divulgação
Por Redação
em 30 de junho de 2023
Wanderléa está de volta. Voltou porque não pode ficar parada que se enche de angústia. Voltou porque não tem nada de “ternurinha” — um apelido que, segundo ela, foi criado para colocá-la no diminutivo. E voltou também porque precisava cantar o estilo que Erasmo Carlos dizia ser sua especialidade. Aos 79 anos, a cantora da Jovem Guarda acaba de lançar “Wanderléa canta choros”, um disco com clássicos do chorinho.
Depois de estourar ainda muito jovem, hoje ela entende que nem tudo na vida é alegria, mas há muita beleza para enxergar — e desfrutar. “Eu tive momentos duros: perdi um filho, uma irmã por bala perdida, o acidente do meu noivo Zé Renato — que sofreu um acidente na piscina e ficou tetraplégico —, a morte do meu pai… Encontrei uma forma de transpor a dificuldade, de continuar a vida”, diz.
“Eu sou privilegiada, tenho até hoje muitas alegrias e amor para distribuir, e me sinto muito amada por tantas pessoas”. No papo com o Trip FM, a cantora falou sobre sua vida, passando a limpo todos os seus sofrimentos — que não foram poucos — e discutindo assuntos como feminismo, fama e dinheiro. A conversa completa você escuta no play nesta página ou no Spotify.

Trip. Você passou por muitos sofrimentos na vida, inclusive pelo maior de todos eles, que é a perda de um filho. Acredita que a dor pode servir como crescimento?
Wanderléa. Foi muito difícil me recompor após a partida do meu filho. Eu tive momentos duros na minha vida: perdi uma irmã por bala perdida, o acidente do meu noivo Zé Renato — que sofreu um acidente na piscina e ficou tetraplégico —, a morte do meu pai… Tudo isso me deixou com uma percepção de que a vida não é só alegria. Sei que vivi com meu filho intensamente e me acostumei a chorar muito, encontrei uma forma de transpor a dificuldade, de continuar a vida. Está tudo vivo ao nosso redor, mas a gente existe adormecido com a beleza da vida. Eu sou privilegiada, tenho até hoje muitas alegrias e amor para distribuir, e me sinto muito amada por tantas pessoas. Minha vida é uma balança equilibrada de coisas felizes e difíceis. Não podemos esquecer do que é simples: de tomar um banho, acordar e fazer um bom café da manhã…
Você nunca pareceu estar muito deslumbrada com a fama. Quando eu era menina eu dava autógrafos com um certo prazer, mas isso foi diluindo. A fama não me picou. Eu valorizo cada coisa, lido com as pessoas mais influentes com o mesmo respeito que lido com qualquer um. Valorizo as pessoas pelo que elas são. Eu percebo no olhar os artistas que foram picados pela fama. Se eu tivesse a cabeça que tenho hoje, teria aproveitado a minha fama para fazer coisas maiores, mas não estava preparada para isso.
Desde o começo você esteve à frente na libertação do feminino. Depois de todos esses anos, acha que o tratamento da mulher na sociedade mudou ou ainda continua muito parecido? Desde muito tempo as mulheres conduzem, apenas a força externa que costumava passar uma imagem de segunda classe. Na época de Jovem Guarda o Roberto, por exemplo, achava meus decotes exagerados. O apelido de “ternurinha” era para colocar no diminutivo porque eu era muito solta nas minhas atitudes, na maneira de atuar nos filmes. O Roberto e o Erasmo tiveram uma criação machista. E em casa eu me sentia acuada por meu pai soltar mais os meninos. Na hora de segurar a barra, é a mulher que segura. Pelo fato de ter ficado ausente na sociedade tanto tempo, evoluíram mais rapidamente que os homens. Socialmente eles são mais ousadas, mais fortes.
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