Volte ao navio, cazzo!

por Fernando Luna
Tpm #117

No primeiro editorial do ano Fernando Luna lança uma metáfora ao mar

 

E daí que 2012 mal tenha começado: o Costa Concordia já é a metáfora do ano.

Aquilo, afinal de contas, não foi apenas um naufrágio. Foi uma boia de salvação para articulistas de jornais, colunistas de revistas, comentaristas da TV e blogueiros de todos os cantos da internet. Era um assunto, um assunto irresistível. E em pleno mês de janeiro, quando as engrenagens da máquina do mundo ainda rangem lentamente, tentando retomar o ritmo interrompido pelo final de ano.

Na imagem do navio tombado para boreste (mais conhecido como lado direito, até que as reportagens começassem a derramar termos náuticos por aí), enxergou-se quase tudo. Uma alegoria da decadência econômica da Itália. Uma parábola sobre a ruína ética dos anos Berlusconi. Um resumo tragicômico da fraqueza e do heroísmo humanos. Tudo embalado pela combinação de diálogo filosófico-moral e espinafração entre o oficial da capitania dos portos e o esquivo comandante à deriva.

Subitamente, Lord Jim se tornou o livro mais lido de todos os tempos. Ou, pelo menos, o mais citado: 22.900 ocorrências no Google para “costa concordia” e “lord jim”. Curioso que, com tantos entusiastas, o romance não tenha frequentado mais assiduamente as listas dos mais vendidos. Enfim, como ignorar as coincidências entre a covardia do protagonista de Conrad, abandonando seu barco lotado de passageiros quando o naufrágio parecia inevitável, e a escapulida do capitão italiano?

Muito bem, e a Tpm com isso? Antes que nosso desvio de rota jogue este editorial às pedras e então a pique, explico. Atenção, metáfora ao mar: se a vida a dois pode ser um navio em águas mais ou menos agitadas, a reportagem “Toda forma de amor” mostra cinco mulheres em pleno mar. Mesmo felizes em seus relacionamentos, elas às vezes se veem atraídas por outros homens. Claro. Mas, em vez de simplesmente abandonar o barco, procuram reinventar, ao lado de seus companheiros, as regras do casamento. E, assim, conciliar amor, liberdade e desejo.

“Concórdia”, aliás, significa “estado de harmonia, entendimento”.

Ferrnando Luna, diretor editorial

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