por Malu Vergueiro
Tpm #158

Reynaldo Gianecchini diz que está muito difícil amar e garante: ”Nunca usei a tecnologia para putaria”

Nesses 15 anos de carreira, desde que estreou na televisão, já de cara, e sem nenhuma experiência, numa novela do horário nobre da Globo, muita coisa ficou para trás na história de Reynaldo Gianecchini. A fama de mau ator, por exemplo, é uma delas. Foi reconhecido. Assim como o sobrenome de maridomuito-mais-novo-da-Marília-Gabriela. Ninguém mais lembra disso. Agora, o que vem à tona quando se fala em Giane, como é chamado pelos mais próximos, é "Me destrói!", a frase fenômeno de Verdades secretas, suplicada por Fanny (Marieta Severo) para o gigolô Antony, o mais recente papel do ator na TV. Hoje, aos 42 anos, dez novelas, oito peças, nove filmes, um câncer violento e uma baita crise existencial depois, Gianecchini se diz muito mudado, com um olhar diferente para o mundo. "A doença me abriu um buraco no chão. Perdi o norte. Tem gente que passa por isso e não muda nada. Eu fui buscar o que a vida estava querendo me dizer. E as fichas ainda estão caindo", conta. "Depois dos 40, também me vi num buraco, dessa vez existencial, do tipo: o que estou fazendo neste planeta? Mas o fato é que estou adorando a minha vida depois dos 40 e da doença", diz.

Diagnosticado em 2011 com um linfoma do tipo não Hodgkin, Giane viu a morte muito de perto, mas encarou a rea-lidade de forma corajosa. "Desde o começo, acreditei que havia um sentido em passar por tudo aquilo. Fiquei um mês lidando com a possibilidade da morte, com medo... Depois assumi e tive a certeza de que não iria morrer." Atualmente, o ator não toma nenhum remédio e está livre de qualquer tratamento, apenas faz exames de seis em seis meses. Ele explica que o período para ser considerado totalmente curado é de cinco anos. "Em janeiro faz quatro que fiz o transplante. Acredito piamente que estou curado."

No pacote das mudanças, um menu livre de enlatados, carnes, lactose e glúten. Mas com direito a algumas escapadas. "Não sou radical, se precisar comer uma carne, uma pizza ou um sorvete, vou comer... Mas, no dia a dia, prefiro cuidar", conta. Portar-se de forma menos acelerada também entrou para a lista de prioridades. "Perco muito mais tempo para ouvir as pessoas, olhar dentro do olho. Antes eu não tinha muita paciência, não tinha tempo para isso." 

E até mesmo no quesito exposição, coisa que ele sempre fez questão de evitar, o cenário também é outro. Gianecchini ainda demonstra bastante resistência ao dar uma entrevista – é movido por experiências ruins, como frases descontextualizadas, invenções e sentido diferente para coisas que declarou. "Não tenho problema em falar sobre nenhum tema. Mas tem certos assuntos que eu falo A ou B e sempre dá merda. E, se eu fizesse pelo menos 20% do que falam que eu já fiz, minha vida seria bem colorida, bem interessante", defende-se.

"Estou numa fase de despudor. Não é fácil, mas aprendi" 

Por outro lado, pela primeira vez ficou à vontade tirando toda a roupa em um ensaio – da outra vez que posou para a Tpm, não tirou a cueca por nada. "Estou numa fase de despudor. Não é fácil, mas aprendi a administrar com o tempo. Não vejo problema em ficar pelado, desde que tenha um contexto e que não me exponha mais do que eu permita." Somam-se aí as cenas de sexo e banho em Verdades secretas – a que ele fez com Fernando Eiras na última semana da novela foi memorável – e o filme Entre lençóis, em que contracena com Paola Oliveira em um motel. No teatro, ainda nada. Para frustração de Zé Celso Martinez Corrêa, que, muitos anos atrás, não conseguiu convencer Giane a ficar nu no palco do Teatro Oficina, na peça Cacilda, seu primeiro papel como ator. "Ele queria que me expusesse e eu não fiquei à vontade na época. Mas fiz mesmo assim, sem tirar a roupa. Até hoje ele fala que falta eu me desnudar mais no teatro." E por que não? "Não é caretice. Mas tinha medo de a peça virar ‘o pau do Gianecchini’, da tendência a banalizar", entrega.

Mandar nudes?

Se na arte hoje está tudo certo com a nudez, na vida real a história é outra. Giane é pouco ligado em tecnologia. Apenas adepto do Instagram (@reynaldogianecchini), ele não curte usar as redes sociais como medida para suas fantasias. "O que é mandar nudes? Nunca usei a tecnologia para putaria", diz. "Nunca tive esse impulso de mandar fotos, confesso que tenho o maior medo. É dar chance para dar merda. Eu tenho um lado racional bem forte que fala 'ok, poderia até ser divertido fazer isso ou aquilo, mas não vale a pena arriscar'."
Esse receio tem muito a ver com a fama e, por isso, sobre usar ou não aplicativos como o Tinder, ele explica: "Não existe o ‘se’ eu fosse anônimo. Eu amo a minha profissão e eu vou ter que conviver com a falta de anonimato. Então o que me resta é ficar curioso. A margem para uma furada é grande. E depois eu ainda prefiro olhar no olho, deixar o flerte acontecer, sacar a energia da pessoa. E, ainda bem, não preciso do anonimato para viver esse tipo de experiência".

Do time dos que preferem a vida real à virtual, Giane acredita que, por conta da rapidez e facilidade das redes sociais e aplicativos, as relações hoje em dia estão ficando cada vez mais efêmeras. "A tecnologia está transformando as relações. Na menor dificuldade já tem três pessoas disponíveis no seu WhatsApp. Na menor dificuldade, neguinho elimina e vai pra putaria, já parte para outra. Mas já reparou que todo mundo reclama que quer viver uma história de amor? É a geração do iPhone, que tem tudo à mão, rápido."

"Apesar de ficar bem sozinho, ciscando aqui e ali, quero viver uma relação inteira"

E por falar em história de amor, Gianecchini confessa estar em busca da sua. Mas diz que tá difícil. "Apesar de ficar muito bem sozinho, ciscando aqui e ali, quero viver uma relação inteira. Tenho feito umas terapias bem fortes ultimamente e percebido como está difícil abrir o coração", diz, logo puxando toda a sociedade para junto de si. "Estamos muito reativos, a gente tem cada vez mais medo de se machucar neste mundo doido", revela. "Muita gente fala que posso ter quem eu quiser... Mas não é assim. Poucas pessoas vêm até mim livres de preconceito. A minha imagem chega primeiro que qualquer coisa. Ninguém se aproxima para trocar com quem eu sou de verdade, já chega reagindo à imagem do Reynaldo Gianecchini. Ora com interesse, ora com medo, ora fazendo joguinho. Tá muito difícil amar e achar alguém que me ame de verdade", confessa. Se tá difícil para o Gianecchini, imagine então para o resto da humanidade. Pelo menos o resto da humanidade tem Tinder. 

"Tá muito difícil amar e achar alguém que me ame de verdade"

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