Relato de um certo Oriente

por Fernando Luna
Tpm #88

Casamentos são sempre peculiares, seja à indiana ou aquele que você planeja desde pequena

Casamento à indiana é campeão de audiência.

O ibope subiu quando Maya e Raj andaram em volta do fogo sagrado, em Caminho das Índias – a primeira novela mexicana filmada na Índia e produzida no Brasil.

Quando chegou a vez de Camila e Ravi juntarem os trapinhos de seda num ritual secreto (ah, não, não vou explicar a trama toda aqui), os índices alcançaram 43 pontos.

É, olhando do sofá de casa, parece tudo muito exótico. Roupas coloridíssimas, danças no melhor estilo Bollywood, consultas astrológicas, henna cobrindo a pele da noiva, colares de flores, rituais hindus.

Diferente, né? Como se fosse a coisa mais natural do mundo alguém se vestir de branco para fingir que é virgem, usar um buquê de flores como acessório, ouvir de um padre celibatário explicações sobre matrimônio e ver seu tio dançar “New York, New York” daquele jeito.

Enfim, cada um com seus problemas. E, para quem está acostumado à ideia do amor romântico, o problema mais incômodo de casamento à indiana é o fato de os noivos mal se conhecerem.

Como você acompanhou na novela (ou deu uma espiada por mero acaso, enquanto zapeava entre um filme do Alexander Sokurov e uma entrevista do Richard Dawkins), as famílias indianas escolhem os parceiros de seus filhos.

Com Gyaneshree e Sagar, personagens da reportagem “Prazer: sou seu noivo”, foi assim. Qualquer semelhança não é mera coincidência. Mas com uma diferença importante: Sagar, 26 anos, é brasileiro. Nascido e criado no patropi, como diria o Wilson Simonal.

Sem pilantragem, Sagar explica sua opção: “Aqui no Ocidente, as pessoas casam quando estão no auge da paixão. A tendência é ir esfriando. A gente casa quando ainda está frio, e vai esquentando”.

Gyaneshree chegou ao Brasil há dois meses, depois de se casar na Índia com Sagar – que conhecera quatro dias antes da cerimônia. Ela faz coro às palavras do marido. “Você vai se conhecendo e construindo a felicidade a partir da relação”, explica.

Os dois vivem na casa dos sogros, que estão juntos há 36 anos, em São Bernardo do Campo, São Paulo. No ABC paulista, Gyaneshree aprende as primeiras palavras em português e vai se adaptando aos hábitos locais – já circula por aí vestindo calça jeans em vez do sari.

E, ainda que Gyaneshree seja professora de dança, a família não passa o dia todo saltitando na sala de estar. Isso é coisa de novela.

Fernando Luna, diretor editorial

 

DA REDAÇÃO:
Pouco tempo depois de a matéria “Prazer, sou seu Noivo” ter entrado no ar, um bombardeio de comentários intrigou a redação. Os posts afirmam que o personagem da matéria, Sagar Kahare, não revelou que tem um filho com uma ex-namorada. Fomos checar a história. Em um telefonema, Sagar disse que preferia não falar do assunto, mas reconheceu a omissão – em momento algum dos três encontros com nossa reportagem ele mencionou o fato. Conversamos, então, com a psicóloga Tata Maurutto, que confirmou ser mãe de um menino de um ano e sete meses, fruto de seu relacionamento de dois anos com Sagar. Ela disse ainda que, atualmente, briga na justiça pela guarda unilateral da criança.

fechar