Duas meninas que trabalham procurando tendências legais explicam o fenômeno do coolhunting
Parece até óbvio: coolhunters são caçadores do que é cool. Mais ou menos como aquele amigo descolado, que sabe das últimas novidades na música, na moda, nas artes, que sempre sabe tudo antes dos outros e indica o que pode ser legal. Então porque o coolhunting já virou até profissão?
"Os coolhunters são observadores. Não somos criadores, nem inventores de moda. Apenas identificamos” explica Daniela Klaiman, publicitária que fez um curso de coolhunting em Barcelona e hoje é uma das sócias da loja Super Cool Market, ao site da Tpm. E o que faz uma coisa ser cool? “Quando você tem vontade de olhar de novo para a coisa. Tem muito a ver com a curiosidade, com o que te faz pensar “uau””, define Ami Kealoha, editora do site coolhunting.com.
O site foi criado em 2003 por Josh Rubin, um designer norte-americano que começou a catagolar on-lines pessoas e ideias que o inspiravam. Ami passou a estagiar no site em 2005. E só percebeu que a ideia de John era realmente boa quando foi a primeira contratada para trabalhar em tempo integral no escritório: “Hoje nós temos uma rede com dúzias de escritores que procuram por todo o mundo coisas que gostamos”.
Enquanto Ami caiu na categoria por acaso, como escritora, Daniela procurou se especializar. As duas acham que o cursos de coolhunting são uma forma de instruir o olhar, mas não são extremamente necessários. O que importa é estar ligado no que acontece ao seu redor. “Eu sempre digo que é apenas o caso de prestar atenção. Olhamos para tudo, seja uma lojinha por qual estamos passando ou seja notando um flyer em um café”, resume Ami.
Mas o coolhunting transcendeu a internet e existem pessoas contratadas para dar consultoria do que é cool em empresas. E é aí que entra a crítica aos coolhunters: eles não estariam caçando manifestações genuínas – no design, na música, na moda das ruas – e vendendo para grandes empresas explorarem o filão?
“Servimos de fonte para as pessoas entenderem o que está acontecendo no mundo da arte, do design e da tecnologia, do mais obscuro ao mais mainstream. No máximo, ajudamos a definir e a analisar a cultura", rebate Ami, "Existe quem só está interessado em explorar a cultura e vender produtos. Mas acho que essas pessoas só vão encontrar benefícios a curto prazo, se tanto”. “As coisas bacanas nunca seriam vistas pelo resto das pessoas, morreriam dentro do grupo de quem cria e nunca seriam reconhecidas", destaca Daniela. O que diferencia o coolhunter de pessoas que trabalham com marketing e publicidade é que as descobertas não são, ao contrário do que se pensa, sempre feitas para renderem lucros. “É algo estritamente editorial. Você não pode pagar para ter algo em nosso site. Escrevemos sobre o que consideramos autêntico”, diz Ami.
E os blogueiros também podem ser considerados coolhunters? “Alguns blogs podem ser tratados dessa forma sim. Principalmente aqueles que observam a rua e ocomportamento das pessoas, como o The Sartorialist”, fala Daniela. E não existe competição, afirma Ami: “Nós adoramos outros blogs e nos inspiramos neles constantemente. O impulso básico de documentar, guardar e categorizar é algo muito antigo, chamo isso de 'instinto de arquivar'". "Minha mãe até pensou que eu trabalhava para algum tipo de catálogo!”, brinca.
Vale ressaltar que essa caça ao cool nem sempre resulta em descobertas geniais. Com mais 6.500 coisas apontadas como cool no site, uma das descobertas favoritas de Ami foi o Sorapot, um bule de chá moderninho criado por um designer independente e que, depois de ser postado no site, conseguiu lançar uma linha de produção própria. É, nem tudo que é cool é necessário.