por Lia Bock

“eu quero levar uma vida moderninha” (not!)

“eu quero levar uma vida moderninha” (not!)  

  E eis que cinco anos depois, numa relação bacana, amorosa e sem queixas sexuais, meu marido chega em casa com um pinto. Um membro de plástico hiper-realista. 

“Nossa, amor, você podia ter começado com algo menorzinho”, brinquei, insinuando que o pinto era para uso pessoal dele. A piada não colou e rapidamente eu virei a careta da história. “Joana, você tem que ter criatividade”. Hein?! Tá chamando meu boquete de monótono? Pouco criativo, é isso? Já subi nas tamancas! “Por nós”, ele disse. “Nós” quem? Não me enfie nessa história e, de preferência, não queira enfiar nada em mim também.
    “Você sempre caretinha, né?”. Pronto, agora eu tenho que transar com um pinto hiper-realista para provar pro meu marido que eu sou cool! Não tenho nada contra vibradores... mas não podia ser menorzinho? “Menorzinho não tem graça”, ele disse. Não tem graça pra quem? Não seria eu a parte envolvida a receber o membro? Sendo eu, não caberia a mim escolher o tamanho do dito cujo? Liguei para as comadres. Nenhuma delas possuía ou já tinha usado um membro desse tipo. “O Teco tem que morrer e ressuscitar três vezes pra me fazer uma proposta dessas”. Sorte a sua, amiga.  
    Os dias se passaram e o pinto ficou ali, sobre a cômoda da sala, pra ver se eu me acostumava com ele. (O Renatinho que teve essa grande ideia, claro.) E eu me acostumei, já estava achando que ele deveria viver ali, entre o telefone e o pôster da Kate Moss, e só ser removido durante as visitas da vovó. “E se eu lamber?”, sugeri. Ele não achou a menor graça. Me olhou como se eu fosse uma freira virgem. Eu não estava acreditando que meu casamento começava a sofrer fortes abalos por causa de um pinto de plástico. Tanto problema mais nobre... Se queremos filhos, se vamos votar nulo novamente, se vamos aderir à marcha da maconha, se pretendemos comprar uma casa juntos... Mas não, tudo posto de lado porque eu sou careta e não quero trepar com um pinto made in China.
    “Amiga, pensa numa coisa que você quer muito e faz troca! Transa com o pinto e ainda sai ganhando”, sugeriu uma colega do marketing. Mas o problema é que a única coisa que eu quero muito ultimamente é não ter que transar com essa coisa. “Ai, Joana, você sempre cabeça dura, desde pequenininha. Teu pai te comprou um vestido rosa uma vez e você NUNCA usou”, disse a minha mãe. E agora não era só o Renatinho que me achava careta, minha mãe e o pessoal do marketing também achavam.
    Bom, então resolvi escrever este texto e postar neste blog moderninho pra dizer pra vocês que eu usei o pinto! Aleluia. Se foi bom? Não me lembro direito (santo cabernet sauvignon), mas tentarei ser honesta com vocês: o problema do pinto de plástico é que ele é só o pinto! Achei, assim... que fica faltando a boca, o peito peludo, o suor pingando no rosto... essas coisinhas. Porque o Maurinho estava muito ocupado consigo mesmo enquanto eu usava o pinto. Enfim... melhor poupá-los dos detalhes. Se ele ficou feliz? Médio. Se arrependeu de ter feito o trato em que, para transar com o pinto uma vez, em troca eu nunca mais teria que transar com o pinto. E agora ele (o pinto) está lá, entre a Kate e o telefone. Mas foi bem lavadinho.

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